Ponteio Cultural
A coluna de Dário Borim
para O Jornal Brasileiro (Fall River, MA, EUA)
Quando o convite para criar esta coluna chegou, e meu desejo de aceitá-la driblou minhas ansiedades e receios (afinal, a dita falta de tempo é um dos maiores males da vida atual), logo me pus a matutar: que nome deveria dar a essa coluna?
Foram duas as colunas que, até então, eu tinha mantido por aproximadamente um ano em periódicos publicados a quase dez mil quilômetros de distância um do outro. Em 1982 “Memories, Thoughts, and Things” saía a cada duas semanas no jornal The Lance, de uma faculdade localizada junto aos pés das Montanhas Rochosas, o Eastern Wyoming College. O único brasileiro do campus e da pequena cidade de Torrington tinha algo a dizer sobre suas viagens pelas Américas e diversas regiões dos Estados Unidos. A outra coluna sairia 20 anos depois. Era chamada “Via Satélite” e suas crônicas discutiam o cotidiano, cultura e política. Eu podia, assim, manter-me em contato com os leitores d’A Voz da Cidade, periódico bissemanal da minha querida Paraguaçu -- a “princesinha do Sul de Minas”, segundo uma canção local.
Quando o convite para criar esta coluna chegou, e meu desejo de aceitá-la driblou minhas ansiedades e receios (afinal, a dita falta de tempo é um dos maiores males da vida atual), logo me pus a matutar: que nome deveria dar a essa coluna?
Foram duas as colunas que, até então, eu tinha mantido por aproximadamente um ano em periódicos publicados a quase dez mil quilômetros de distância um do outro. Em 1982 “Memories, Thoughts, and Things” saía a cada duas semanas no jornal The Lance, de uma faculdade localizada junto aos pés das Montanhas Rochosas, o Eastern Wyoming College. O único brasileiro do campus e da pequena cidade de Torrington tinha algo a dizer sobre suas viagens pelas Américas e diversas regiões dos Estados Unidos. A outra coluna sairia 20 anos depois. Era chamada “Via Satélite” e suas crônicas discutiam o cotidiano, cultura e política. Eu podia, assim, manter-me em contato com os leitores d’A Voz da Cidade, periódico bissemanal da minha querida Paraguaçu -- a “princesinha do Sul de Minas”, segundo uma canção local.
Mas por que pensar tanto em um nome? O que há por detrás de um nome? Dois dos maiores poetas das línguas inglesa e portuguesa também se questionavam a respeito. "What's in a name? That which we call a rose / By any other name would smell as sweet", dizia o dramaturgo inglês William Shakespeare em sua peça Romeu e Julieta. “Mundo mundo vasto mundo / se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução” era o que concluía o grande bardo das Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade, no seu “Poema de Sete Faces”.
É claro que não é pela força de um nome diferente que daremos a uma bela rosa o aroma de cebola, nem vai ser um nome próprio que trará paz de espírito a um poeta angustiado com a modernidade e com o seu próprio passado. Mas é inegável a força dos vocábulos para atrair ou repelir leitores (o título de um livro, por exemplo), ou para sugerir a natureza dos assuntos abordados por uma coluna de jornal. Por essa razão, então, veio-me a dúvida e, depois, a opção, “ponteio”, que, segundo o Novo Dicionário Aurélio, é o ato ou efeito de pontear (que se conjuga como “frear”), isto é, “marcar com pontos uma linha”, “alinhavar um vestido” ou, principalmente, “dedilhar as cordas de um instrumento”.
Pronto: ponteio. É isso mesmo que eu me proponho fazer: alinhavar umas idéias sobre cultura (literatura, filmes, espetáculos teatrais, musicais, etc.). Pretendo, pois, dedilhar minhas cordas enquanto professor de estudos luso-afro-brasileiros da UMass Dartmouth e enquanto produtor-apresentador de um programa de música, o Brazilliance da WUMD (89.3 FM), que sempre às quintas-feiras (3-6 da tarde) dissemina o maravilhoso legado musical dos países lusófonos aos ouvintes desta região e também do resto do planeta, via Internet.
A inspiração do nome surgiu da nossa memória musical. Partiu de uma canção engajada de 1967, escrita por Edu Lobo e José Carlos Capinan. Era tempo dos festivais de música no Rio de Janeiro e São Paulo. Um pouco antes da censura intimidar os artistas, podia-se clamar: “Era um, era dois, era cem / Vieram pra me perguntar / Ô, você de onde vai, de onde vem / diga logo o que tem pra contar / Parado no meio do mundo / Senti chegar meu momento / Olhei pro mundo e nem via / Nem sombra, nem sol, nem vento / Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar”.
Nesta página de jornal, minha coluna é minha viola, e espero que vocês também façam parte dessa roda, dessa cantoria bissemanal. Para melhor dela participar, cantem-me acordes e versos através dos seus comentários e outras contribuições que lhes sejam possíveis. Meu e-mail é dborim@umassd.edu. Sejam todos muito bem-vindos!
(29/setembro/2007, p. 17)