domingo, 20 de novembro de 2011

De que ano mesmo?




Dário Borim Jr.

O quê? Já se fala em festas de fim de ano? Que ano? Outro dia me perguntei: em que ano estamos? Vocês até podem pensar que este cronista perdeu a cabeça, ou que ele está parodiando a mente de um típico professor universitário, compenetrado nos seus estudos mas avoado para o resto do mundo ao seu redor. Mas é verdade, esqueci mesmo, ou, para ser mais exato, fiquei numa dúvida cruel: agora é 2011 ou 2012? Cuidado, não deixem que isso lhes aconteça. Lembrem-se de Vinicius de Moraes. Ele dizia "que a coisa mais divina que há no mundo / é viver cada segundo como nunca mais". Tudo bem, Poetinha, estou com você, mas o que fazer se cada segundo que passa corre tão depressa que o próprio tempo parece escorrer por entre os dedos sem que tenhamos o prazer segurá-lo por um segundo sequer?
Enquanto Caetano Veloso diz que o tempo é "compositor de destinos / tambor de todos os ritmos", fico a meditar na natureza tão escorregadia desse elemento "tão inventivo" que se mostra "contínuo" sem o ser. Aliás, para mim o tempo não existe senão como forma de referência ao percebermos tudo o que se move, nasce ou se transforma (ou deixa de fazê-lo). Então, quando pouco ou nada disso ocorre (quando nada parece acontecer ao nosso redor), o tempo gruda, feito trepadeira em tronco de laranjeira, ou caminha manso, feito tartaruga sob sol quente. Para muita gente, tempo assim é bem-vindo, é tempo de paz, é tempo de desapego.
Não nasci para aquilo não. Lembro de um livro que li aos 20 e poucos anos, O Castelo de Axel, presente que recebi de um professor de literatura americana da UFMG, Thomas Burns -- obra publicada em 1931 pelo famoso crítico norte-americano Edmund Wilson (1895-1972). Wilson falava que para os escritores da década de 1920, a chamada Geração Perdida, como Ernest Hemingway, William Faulkner, e Scott Fitzgerald, o maior medo não era nem o da dor nem o do sofrimento, mas sim o da mesmice e do tédio. Aventura, risco, luta, e descobrimento, era isso que lhes dava sabor à vida e os impulsionava a escrever.
Lá pelos anos 80 eu já me identificava com aqueles expoentes das letras estadunidenses. O que eu não sabia era que minha vida pessoal e profissional (enquanto professor de literatura e cultura brasileiras no país de todos eles) se tornaria tão agitada e rica de desafios que me faria esquecer em que ano estamos. Decidi hoje à noite que, antes que 2011 acabe, é preciso voltar no tempo e reconhecer o que se moveu, nasceu ou se transformou ao meu redor neste segundo semestre.
Mal tinha regressado de minhas férias no Brasil, e eu já recebia e era responsável pela visita cultural de sete membros da Casa Grande, uma bela fundação sócio-educacional criada no sertão do Ceará. Aqui estiveram por uma semana inteira. Poucas semanas depois, eu faria um especial de rádio de três horas com música de Ivan Lins. A seguir, veio-me uma viagem a Nova Iorque, para o casamento de um cunhado em memorável cerimônia realizada em um barco que rodeava a ilha de Manhattan sob intensa neve. No fim de semana seguinte, desloquei-me para uma conferência em um congresso trans-disciplinar no estado de New Hampshire. Três dias depois de voltar de lá, sairia para outro congresso, esse na Universidade de Londres.
Ao longo desses meses, escrevi umas crônicas, dei minhas aulas, atuei como chefe de departamento, mas, principalmente, também conclui os trabalhos para edição de meu primeiro livro em inglês, a tradução da biografia Antonio Carlos Jobim: Um Homem Iluminado, escrito pela sua irmã, Helena Jobim. A vida não pára, e no momento cuido dos detalhes de duas conferências que estou organizando para a primeira metade do mês de dezembro, uma delas, com o distinto pesquisador Charles A. Perrone, lançando o livro que para sempre une dois famosos membros da família Jobim a um irrequieto filho da família Borim (a rima é perfeita). E tem mais. Uma editora paulista anda me cobrando um livro crítico sobre crônicas, pelo qual já temos contrato assinado. Queriam o manuscrito para meados de dezembro. Socorro, eu vou lhes dizer em um e-mail amanhã. Só dá para sair em fins de janeiro, na melhor das hipóteses. De que ano mesmo?

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