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Fiquei un tanto triste e pensativo
depois de duas partidas de futebol nessas Olimpíadas de Pequim: a do Brasil que
perdeu feio para a Argentina, no masculino, e a do Brasil que perdeu de lavada
para os Estados Unidos, no feminino. Sim, temos estrelas individuais: uma Marta
e um Ronaldinho Gaúcho, um Diego e uma Cristiane. Observei como que até as
brasileiras menos famosas da defesa e do meio-campo são boas de bola:
controlam, driblam—fazem o que querem com muita intimidade e criatividade. Mas
não sabem o que é melhor para o grupo e acabam se esforçando muito,
individualmente e, por isso, de modo vulnerável à equipe. Então o que nos
falta? É estratégia tática (na defesa, meio-campo e ataque) e rigor na
disciplina, seja ela individual ou coletiva. Aqui não há espaço para discutir
cada uma dessas falhas, mas vale a pena coletar alguns exemplos e argumentos.
Na terça-feira o Brasil claramente entrou em campo despreocupado e
destituído de qualquer tática ou plano para anular o grande jogador argentino,
Messi. O rapaz tinha espaço e liberdade para jogar. Isso me faz pensar: Seria
arrogância ou displicência? Ou ambas? Será que um Dunga da vida, ou quem
estiver no comando técnico da equipe, pensa em como se preparar taticamente, de
modo especifico, para um determinado jogo? Acho que não. Entra o time em campo
num oba-oba, num otimismo irresponsável ou numa má-fé de quem pensa que ganha a
equipe que tem o maior número de estrelas ou a mais alta média de talentos individuais.
Isso é muita ingenuidade num esporte coletivo tão equilibrado, dentro do Brasil
(como se vê no Campeonato Brasileiro, onde apenas três pontos fazem um time
subir ou descer várias posições na tabela), e no resto do planeta (como se
constatou nas últimas copas do mundo, em que nenhum time se mostrou
extremamente superior aos demais).
Acredito que o Brasil nunca vai jogar futebol como se fosse um time de robôs, é
claro, mas um milhão de vezes já se provou que só entusiasmo e brilho
individual não ganham nem copa nem medalha de ouro. Não tenho dúvida de que
Dunga seja um homem inteligente, senão não teria chegado aonde chegou, mas ele
não é estrategista e não tem experiência nessa área. Por exemplo, será que ele treinou
a equipe para enfrentar retrancas fechadas, como foi a de Camarões? Será que
treinou a seleção para enfrentar equipes que faziam pressão sobre o Brasil
desde a saída de bola, no campo do Brasil, como fez a Argentina? Acho que não.
Acho que o Brasil só joga bem quando os adversários nos permitem espaço e
liberdade para criar, e hoje isso ocorre com muita raridade—pois o tempo da
inocência já acabou. Os demais times estudam e encaram o Brasil com estratégia
e seriedade. Pior ainda, muitos dos nossos técnicos não apenas deixam de se
preocupar com o estilo das outras equipes antes dos jogos em mente: eles não
estão acostumados a descobrir e adotar novas táticas em pleno jogo, em função
de como os adversários estão jogando a cada fase da partida.
De novo vem a história do oba-oba dos alegres e bacanas, que vira corre-corre
dos aflitos e despeitados (frente aos rivais platinos), ou das aflitas e
chorosas (como as nossas jogadoras após o jogo com os Estados Unidos). A equipe
norte-americana não tinha uma Marta, e era uma equipe obviamente inferior à
nossa em termos de habilidades individuais, mas era uma equipe que jogava de
modo coeso, eficiente e objetivo. Fortes psicologicamente, elas estavam
conscientes de que só unidas poderiam vencer. Objetivos, seus técnicos
treinaram-nas para sustentar posturas sólidas de defesa e de ataque—uma estrutura
planejada e ensaiada e, como tal, com maior chance de ser bem sucedida.
Improvisação, minha gente, tem seus limites. Vamos primeiro unir habilidade,
estratégia e consciência coletiva—aí, sim, poderemos pensar, quem sabe, que
nada nos vai separar do próximo ouro ou da próxima copa do mundo.