sábado, 24 de outubro de 2015

Pra Frente, Sempre!



Dário Borim Jr.

Pra Frente, Sempre!


Correr para trás, isto é, de costas e sem ver o que pode aparecer no caminho, não é boa ideia. E o que não é boa ideia pode dar em péssima ideia, ou quase tragédia, ou mesmo uma tragédia completa. Pior ainda é correr assim depois de certa idade – digamos, 50 anos – e tropeçar nos seus próprios pés. Pior ainda é esquecer que uma quadra tênis coberta geralmente tem paredes, e que uma delas, de tijolos, pode aparecer bem na rota de uma correria em marcha-ré!

No meu caso, exatamente oito semanas atrás em Belo Horizonte, a extravagância de correr de costas para rebater uma bola de tênis no fundo de quadra não deu em tragédia, mas quase. Ao cair do tropeço entre meus pés me apoiei na mão esquerda, que não me aguentou e pediu ajuda ao braço, que tampouco tolerou meus 90 kg e se partiu em três pontos junto ao pulso. Foram três fraturas fragmentadas, ou, “complexas”, como disse o ortopedista Guilherme Gontijo: duas quebras no rádio e uma no úmero. Doeram muito, e ainda doem até hoje!

Para complicar mais, também havia uma parede de tijolos no meu caminho, contra a qual caí, jogado pelo impulso da correria retrógrada, batendo ali a parte mais alta do crânio. A barreira de tijolos me aguentou, mas me fez muito mal. Além da forte pancada na cabeça, ela esmagou o couro (originalmente, muitos anos atrás) cabeludo, abrindo três cortes em forma de um K para trás (mais uma ironia da marcha-ré). Fez-me perder os sentidos e ficar de olhos arregalados por cerca de cinco segundos. Ainda levaria aproximadamente 30 minutos para poder "relaxar" e deixar de lutar contra outro desmaio que me provocava o cérebro abalado, algo que talvez me pudesse levar a um nefasto coma.

Depois de ler, muitos anos atrás, uma reportagem sobre o gravíssimo acidente que sofera o piloto austríaco Nikki Lauda, jamais esqueci que é extremamente perigoso se deixar adormecer logo após acidentes muito sérios. Tive a sorte de contar com a generosa e sábia ajuda de meu irmão José Carlos e meu sobrinho Daniel, com que eu jogava. Eles me deram os primeiros socorros, inclusive um belo balde d'água fria para me acordar e lavar os ferimentos. Como se sabe, cortes na cabeça sangram muito e minha aparência geral devia ser assustadora.

Transportaram-me, em seguida, para o Hospital Madre Teresa, onde um médico e um enfermeiro (meio assustado) me engessaram o braço. Também recebi doze pontos na cabeça, depois das devidas sessões de raios-x e tomografias. No total foram seis horas no hospital, e de lá saí com o braço imobilizado e a cabeça decorada com um turbante branco. Daniel e José Carlos me levaram, então, para a casa de minha irmã Silvinha, no bairo da Serra, onde me hospedava. Dei-lhe um susto com um visual de homem atropelado por um trator, mas eu logo estaria de muito melhor visual. Após um bom banho com sacos plásticos protegendo as partes avariadas, me sentia tão bem que fui com ela e meu cunhado José Codo a um concerto de Toquinho e João Bosco, no Palácio das Artes.

Aqueles que me conhecem, mesmo que minimamente, sabem de meu entusiasmo pela vida. Exemplo disso é que mesmo no hospital, antes e depois de saber que meus ferimentos não eram tão graves, eu pensei várias vezes no festival de jazz que ocorria naquela tarde em Belo Horizonte, onde planejara estar com os amigos Vinicius, Lídia e Marina Bueno. Quando saí do Madre Teresa, eu vislumbrei e fotografei a lua cheia sobre a cidade e me vi genuinamente feliz e agradecido por ter sobrevivido àquela estranha aproximação da morte. Incrível, mas foi por uma questão de segundos que o destino não me teria trazido àquele precipício, pois pela pontuação do ultimo game, aquela bola no fundo de quadra terminava a partida de tênis, que já durava quase uma hora e meia. Parece que o tropeço tinha mesmo que acontecer e me ensinar algo.

Lembro-me que a um ou dois segundos após o impacto contra a parede, com tristeza e medo pensei em meu saudoso amigo e orientador de tese de doutorado, Roberto Reis. De modo muito semelhante, ele tropeçou na bola, chocando-se contra uma parede numa quadra de futsal coberta, e faleceu 21 anos atrás, quando tinha quase a mesma idade que tenho hoje. Em 1994, em Minneapolis, quando se acidentou, lá estava eu jogando a seu lado. Sua partida me trouxe um estado de depressão que perdurou meses.

Como disse uma amiga ao ver-me de volta nos Estados Unidos, aquela não era minha vez de desencarnar. Quem sabe, sugeriu Tracy McCree, tenha sido a pedido de Roberto, lá no ceu, que minha partida ficou para outra partida de tênis, de carro, ou de avião. Quem sabe nada disso virá, e será de alguma doença ou de velhice que vou para outro mundo. Porém, enquanto puder pensar e sentir, sei que jamais deixarei de ser grato pela chance de seguir vivendo, agora sempre para frente, e sempre agradecer pelas minhas mãos, minha consciência, e meu entusiasmo pela vida.

For Casey and André

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