Nosso Carnaval 2013
Dário Borim Jr.
dborim@umassd.edu
Na folhinha deste ano, a Festa de Momo chegou mais
cedo que quase todos os outros Carnavais que passei em meu país. Curiosamente,
para mim, que vivo num vai-e-vem entre os Estados Unidos e o Brasil há quase 32
anos, o feriadão foi um daqueles que chegaram mais tarde, pois tive que esperar
cinco anos. Recordo-me de que, seguindo a tradição híper-carnavalesca de tio
Delmo, fui eleito o Folião do Ano do Ideal Clube em 2008. Naquele ano, quase
todos os meus chegados gostaram da festa, e eu, em particular, pulei quase que eufórico,
a compensar pelo atraso de oito anos sem curtir uma festa daquelas em Paraguaçu.
Quase tudo muda nesse mundo, e o Carnaval da
minha terra não é exceção. O Carnaval deste ano teve seus pontos positivos e
negativos, como era de se esperar. Dois polegares para cima vão para a decisão
de fechar as ruas que dão acesso à praça Oswaldo Costa. O clima por todas as
áreas do jardim estava tranquilo. Vi muitas famílias com crianças e idosos a
curtir as noites animadas por uma banda em palco instalado junto ao Bar e
Restaurante Casarão. Na terça-feira desfilaram uma modesta escola de samba e alguns
blocos, inclusive um de pessoas na terceira idade. É claro que muito pode ser
efeito pelo poder público em prol de uma festa maior, melhor decorada, e mais
animada. Espero que isso venha a acontecer nos anos seguintes, estando agora a
cidade sob nova administração. Uma recomendação seria a de pesquisar como são
preparadas e patrocinadas as comemorações públicas em outras cidades, como as
de Elói Mendes e Fama.
Para aqueles que a cada ano participam ou pelo
menos cogitam participar dos bailes de carnaval do Ideal Clube, algumas
palavrinhas. Em primeiro lugar, o óbvio: o Carnaval de Paraguaçu não morreu.
Quem foi ao Ideal Clube esse ano não encontrou seus salões lotados, mas também
não os viu vazios. Quem lá foi, pareceu-me, divertiu-se muito. No palco, dois
grupos musicais, Longa Metragem e Banda Absoluta, revezavam-se. Uma banda
tocava as deliciosas, tradicionais e consagradas marchinhas e sambas de raiz. A
outra se encarregava de ritmos variados, contemporâneos, como o axé e o
sertanejo universitário.
O Carnaval do Brasil, desde as suas origens,
tem sido uma festa de música em múltiplos estilos que se diferenciam de tempos
em tempos e de região para região. Atualmente o frevo e o maracatu, por
exemplo, são raramente tocados no Rio de Janeiro, mas formam a base musical da
Festa de Momo no Recife. Na nossa ex-capital, porém, já houve o tempo do lundu,
da polca, do tango e da valsa a se destacarem em plena alegria de fevereiro. Este
ano fiquei nos salões do Ideal Clube até o fim da última noitada, que, para minha
surpresa, se encerrou com uma canção do grupo roqueiro ACDC. Blasfêmia
carnavalesca? Não sei, talvez, mas procurei abrir minha própria mente, tantas
vezes nostálgica, e acabei por gostar da escolha tão inusitada, já que a
mocidade dominava o salão àquela hora, e quase todos pareciam tão surpresos
quanto felizes com um fechamento de Carnaval para lá de heterodoxo.
Resta-me reiterar que a vida mudou desde o
Carnaval anterior, e estará mudada novamente até o próximo mês de fevereiro.
Reconheço que no Brasil mais e mais gente tem dinheiro para comprar e desfrutar
de sítios, para onde vão durante os quatro dias de feriado. Hoje muito mais pessoas
têm poder aquisitivo superior ao que tinham anos atrás. Agora têm dinheiro para
ir a uma cidade praiana e lá se divertirem também. O que o Carnaval de 2013 me
mostrou, porém, foi que aqueles que optaram por passar as festas na cidade
encontraram um ambiente alegre, pacífico e animado. Quem foi ao Carnaval do
Ideal Clube foi porque quis e, pelo que pude observar, se divertiu pra valer.
Caminhando à noite pela praça Oswaldo Costa senti alívio e contentamento ao
notar que não havia motocicletas apressadas e ruidosas, ou automóveis abusados
e estridentes, com seus ridículos autofalantes gritantes.
Para mim foi memorável fazer parte de um bloco
de entusiasmados foliões, unidos e carinhosos, especialmente ao ter entre eles
um amigo norte-americano, Jim Kolar. Este simpático visitante de quase dois
metros de altura, de olhos azuis muito vivos e rosto constantemente a sorrir,
pôde ter em Paraguaçu o seu primeiro contato com essa tradição brasileira de que
tanto me orgulho. Dançou muito, a seu modo. Simplesmente adorou tudo que viu,
bebeu e comeu, das caipirinhas ao jiló do Bar do Nadir!
A todos que acreditam e colaboram para a
preservação e melhoria do nosso Carnaval, os meus parabéns e o meu muito obrigado.
Como eu gostaria de estar em Paraguaçu no ano que vem! Se alguém puder dar
minhas aulas na Universidade de Massachusetts Dartmouth, para que eu possa
escapulir da neve e da rotina insossa e vir me esbaldar no calor e na exultação
sem medida em terras brasileiras, me avise, por favor. A você que já gostou e
não gosta mais de Carnaval, boa sorte no sítio ou no litoral, mas não me diga
que o Carnaval de Paraguaçu já morreu. O que morreu foi o seu entusiasmo pela festa
maior do Brasil, seja ela como e onde for.