sexta-feira, 11 de abril de 2014

Sinergia das Artes



Debra Mann Quartet em Noite de Tom Jobim

Sinergia das Artes

Dário Borim Jr.

Que privilégio conviver numa comunidade onde conhecemos muita gente criativa, onde podemos nos sentir imersos num circuito das artes, literatura, e meios de comunicação de massa! Há certos dias em que parece que a energia positiva que passamos e recebemos uns dos outros atinge graus mais elevados. A sensação de companheirismo e co-autoria do nosso viver através  das artes se torna mais nítida, mais envolvente, mais inspiradora. Ontem, dia 10 de abril, de 2014, foi assim.
Meu ponto de partida é a edição de ontem do Brazilliance, meu programa semanal de rádio e internet, sempre das 16h00 às 19h00 (h. de Brasília). Encontrava-me, então, mais solto e descontraído que nas três semanas anteriores, quando recebi no estúdio da WUMD (a emissora universitária onde produzo meu show há 12 anos e meio) nada menos que 14 alunos de três escolas secundárias da região. Eles aprenderam um pouco sobre o mundo da comunicação e sobre a música brasileira. Leram e ouviram de mim sobre 14 dos nossos estilos musicais. Eles fizeram uma provinha em que tinham que descobrir qual gênero musical eu tocava ao vivo na rádio. Três deles conseguiram acertar 13 das 14 perguntas! Para mim era um prazer especial oferecer instrução e divertimento musicais a esses jovens membros da comunidade onde moro. É claro que não é fácil educar e entreter 14 adolescentes assentados no carpete de um pequeno estúdio, mas, pelo menos para mim, valeu a pena.
Ontem, porém, éramos só eu e Deus, no estúdio, e muita gente querida no outro lado da comunicação, os ouvintes (meus conhecidos ou não) que se espalham por esta região costeira da Nova Inglaterra, e por outras partes dos Estados Unidos, Europa e América Latina. Um daqueles ouvintes, o Juan, me chamou ao telefone. Tinha gostado de uma canção que eu tocara há minutos. Ele conhecia a cantora/pianista, Debra Mann, que interpretara “Água de Beber”, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Juan queria saber, gentilmente, se eu tinha interesse em entrevistá-la ao vivo no programa, pois ela era sua amiga. Qual foi a sua surpresa quando eu lhe disse que a conhecera pessoalmente duas semanas atrás, quando ela se apresentou com mais três músicos na International House of Rhode Island, uma bela escola de inglês para estrangeiros em Providence, onde, no mesmo evento, e com muita honra, fiz uma minipalestra sobre Tom Jobim logo antes do concerto. O repertório do quarteto, aliás, foi inteiramente dedicado à obra do Maestro Soberano, uma apresentação musical de jazz, samba, e bossa nova fenomenal, com a ilustre participação de Mike Turk, um gaitista de primeira ordem. Vale dizer que aquela noite de domingo teve muito mais, inclusive uma bela feijoada completa, regrada a caipirinha que não era só para gringo ver: era mesmo da boa!
A conversa que tive com Juan ao telefone foi o início de uma fantástica sequência de encontros e desdobramentos artísticos. Após o show, dirige-me ao centro histórico de New Bedford, para a edição mensal do que chamam de Aha Night, noite de eventos culturais realizados na segunda quinta-feira de cada mês. No Green Beans, um café, prestigiei o trabalho de Andrew, filho de meu amigo polonês, Yurek. Ele expunha fotografias obtidas em Amsterdã e na terra de seu pai. Minutos depois, caminhei  até o Museu de Arte de New Bedford com três amigos, Don (escultor e cineasta), Leila (fotógrafa e jornalista), e Beatriz (escultora e fotógrafa). Lá fui apresentado a um amigo de Beatriz, o David, que reconheceu o meu nome e minha voz por ele há muitos anos ser ouvinte do Brazilliance. Esse simpático professor de matemática (e inveterado viajante do mundo inteiro) fez uma festa pela chance de poder conversar cara a cara com o seu “favorito DJ”. Eu ri, é claro, porque, tenho a sensação de que sou DJ somente quando estou na rádio. Fora dela, “tiro a máscara”, e sou de novo apenas o Darinho. Não me acostumo com o status de celebridade regional da mídia… hahaha!
A noite teria muito mais a nos oferecer. Ainda no Museu de Arte de New Bedford, apreciamos as fantásticas esculturas em madeira de dois artistas locais, Ron Rudnicki e Leah Woods, para depois seguirmos a pé rumo ao Cork, um restaurante de menu espanhol (mas que oferece ótimas caipinhas). Lá se uniu a nós outro amigo de Beatriz, o Owen, que nos narrou o enredo de um impressionante script que ele escreveu para um filme alguns anos atrás. Enquanto o vinho descia, subia nosso entusiasmo pelas ideias e experiências artísticas e literárias de cada um. Don, por exemplo, dava-nos mais detalhes técnicos da filmagem de um curta-metragem que está concluindo nessas próximas duas semanas.
Owen explicava seu estranho, perigoso e ilegal método de aprender o português. Descobre canções brasileiras no YouTube, copia as letras e as imprime em papel, para depois colar a folha no painel do carro. Enquanto dirige na estrada, escuta uma Marisa Monte ou um Gilberto Gil e ao mesmo tempo passa os olhos nas lestras. Assim desenvolve seu vocabulário, ainda sem multa ou acidente. A um certo momento Owen perguntou ao grupo se todos por acaso ouviam um programa de rádio local sensacional, que tocava muito samba e bossa nova. Ele quase caiu de costas quando soube que ali falava com o próprio DJ daquele programa.
Beatriz, por seu turno, dava detalhes da trama de um script que está escrevendo no momento para uma peça de teatro. Ela já me conhece há uns dois anos quase, mas depois ouvir-me contar alguns “causos”, confessou que estava muito interessada em adicionar ao filme um personagem “parecido” comigo, com o meu jeito animado e criativo de falar de música e fotografia, de contar histórias e defender ideias numa mesa de bar.
Nada como conviver com a alegria, a sinergia, e a imaginação aquecidas ao sabor do vinho e da amizade. Rimos -- e rimos muito -- daquilo tudo que se disse sobre nossas vidas e nossas artes, e também das asneiras que me vieram à mente -- por exemplo, o fato de que “tchim-tchim”, como brindamos no Brasil, é o nome para a genitália masculina em japonês. Também gostaram da anedota em que Darinho, aos 22 anos, gastou do seu espanhol ao perguntar a um centro-americano, “Le gusta la pinga?” O hermano teve dúvidas sobre as minhas intenções. Mal sabia eu que “pinga” naquela parte do planeta também é o nome para aquele mesmo famoso órgão masculino.




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