[Foto de Evaldo Prado de Souza]
Dário
Borim Jr.
Segundo
o meu Novo Dicionário Aurélio, há sete sentidos para o termo
"ressaca". Os dois últimos são os mais conhecidos entre as pessoas que não
vivem no litoral: "Enfado, cansaço provocado por noite passada em
claro" ou a "Indisposição do bêbado após curada a bebedeira". A
primeira definição no Aurélio, porém, tem o significado que lhe outorga
a metáfora no título desta crônica: "Refluxo de uma vaga, depois de se
espraiar ou de encontrar obstáculo que a impede de avançar livremente".
Vaga, nesse caso, é uma onda do mar. Foi enorme, de
fato, a vaga de reações suscitadas por minha primeira crônica sobre "Os
tempos do Cine Íris". Embevecido, agradeço o interesse geral. Meu pai me
disse que de vez em quando ouvia um zunzum na sua loja, a Casa Dois Irmãos, sobre
aquele texto. Muitos comentários que me chegaram por e-mail ou FaceBook
continham mais causos sobre o cinema e a praça Oswaldo Costa.
Os elogios que bateram em minha praia me fizeram
sorrir de contentamento, pois, é claro, ego de escritor é sempre massageado
pelos carinhos dos seus leitores. Alguns queriam mais e me lembravam de que eu
tinha prometido uma segunda crônica sobre o mesmo tema. Aqui vai, então, uma
nova onda que junta água e espuma daqueles que reagiram a minha vaga de
lembranças de um tempo tão especial na história de Paraguaçu. Obrigado a todos
que de uma forma ou de outra, aqui citados ou não, contribuíram para essa
"ressaca".
Maristela Faria, moradora de São Paulo, por exemplo, solicita
que se escreva sobre as barraquinhas com o Jazz Sudan tocando na porta da
Igreja, e os belíssimos canteiros de papoulas e bocas de leão plantados pelo
João Idalino. "Eu voltei mais um pouco aproveitando a sua idéia, pois sou
da década de 50. Lembrei com saudades da linda voz do Sr Pedro Tavares e
posteriormente do Carlitos anunciando o Bienvenido Granda, Cascatinha Inhana
cantando Chalana e outros."
Voltei aos meus tempos de adolescência, quando passava
as férias nessa cidade que tanto amo, escreve Anamaria Prado. "Recordo que
Violeta Ferraz e Zé Trindade também se apresentaram no Cine Íris e eu, carioca,
fiquei impressionada de vê-los em Paraguaçu."
Sua crônica foi uma gostosa viagem ao passado,
confessa Rosane Moraes, de São Carlos, também presente nas peças de teatro da
tia Selma Násser. "De algumas coisas lembro-me bem, outras eu reavivei na
memória. Sabe que eu também participei do musical de Walt Disney? Nem me
recordava mais, porém, trechos da música vieram a minha mente 'Pato Donald
furioso, seus sobrinhos já fizeram papelão, tio Pateta, de pileque... Papai
Walt Disney,te agradecemos, e estarás sempre nosso coração'".
Prima Lília Rodrigues, residente em São Paulo, encheu
a bola do cronista e jogou uma pitada de humor típica do seu pai, tio Delmo: "Eu
me envolvo e viajo nos seus textos. Acho uma delícia. Do Cine Iris, eu me
lembro de quando foi passar o filme E o Vento Levou. Daquela vez o
filme não chegou à cidade. Ou seja, o vento levou mesmo".
Viviane Vigato, da vizinha Varginha, recorda como era
lindo aquele laguinho na praça Oswaldo Costa. "Que delícia a gente andando
com as amigas, parecendo em 'procissão'". Tio José Adolfo Mendes
fala dos diversos "programas" na praça, dependendo da idade que a
gente tinha. Por exemplo, "brincar de pique ao som do Cine Íris ou rodar
pela praça para paquerar as meninas que mais disputávamos".
Deu até pra sentir o cimento frio do banco da praça e
ouvir a Rita Pavone, comenta Nélida Prado. "Deu até pra andar pisando só
nos retângulos brancos do piso. Eu adorava fazer isso, nunca pisava no preto,
dava azar".
De Paraguaçu mesma vem o apoio de quem tem semelhantes
preocupações e afazeres. De Goretti Prado, "os parabéns pelo resgate da
memória da nossa história". Para Olga Prado, é importante não esquecermos as
famosas gincanas na porta da igreja, "que incentivavam a busca pelas
informações sobre a nossa cidade, seus habitantes ilustres, fatos históricos e
que também traziam muita diversão. Qual padeiro daquela época não tentou fazer
o maior pão? Quem já na não tentou colocar 30 pessoas dentro do fusca?". Ela
tem saudades disto e arremata: "É lastimável que nossos filhos mal tenham
o Ideal como opção de lazer".
A atenção e o carinho dos leitores podem partir de
muito longe. Lá de Valência (Espanha), a amiga Blanca Rodriguez ressalta o
sacrifício de se escrever por prazer em meio a tudo mais na vida: "Enseñas,
tienes programa de radio, familia y vida personal... Puedes dar clases de
organizacion del tiempo. Felicidades por tu nueva hija literaria".
Em
Londres (Inglaterra), Rosa Mignacca diz que leu aquela crônica "como quem
estava chupando um picolé de maracujá. Amei, me transportei pra praça enquanto
lia, e quero mais de uma história tão saborosa".
Concluindo, Cristina Schmidt, em Goiânia, acha que o
cronista "andou fazendo a gente viajar literalmente! Fiquei com gostinho
de bala Chita na boca!" Para seu irmão Frederico, "Nos tempos do Cine
Íris" é uma lembrança de que todos nós fazemos parte da grande família
"Paraguaçu" e jamais nos esqueceremos disso.