sábado, 26 de março de 2011

Eu te amo



Já ouviu essas palavras dirigidas a você, olhos nos olhos? Acreditou nelas? Tem coisa melhor? Você já disse aquelas três palavrinhas sem desviar o olhar para o canto da sala? Foram levadas a sério? O que você está esperando? Por que temos medo de expressar o amor abertamente? Deixo as respostas claras e objetivas para as psicólogas da família, Carla e Silvana. 
   Meu negócio é contar histórias, mesmo que para sobreviver eu tenha escolhido a profissão de professor e mesmo que, por graças divinas, eu tenha tido a chance de ministrar e desfrutar de um curso de pós-graduação sobre a paixão. Temos lido muitas teorias e poemas sobre aquele tema apaixonante, mas, melhor ainda tem sido aqui e ali – no corredor ou no meu escritório, por exemplo – ouvir alguns casos de amor “de arrepiar”. O assunto mexe com quase todas as pessoas.  Ao final da nossa aula inaugural, portanto, quando mal tínhamos iniciado o curso, a aluna Nélia Alves passou por mim e me disse,
“Professor, não sei quantos relacionamentos vão sobreviver a esse curso!”
Eu não sabia o que lhe dizer.
Hoje em dia as pessoas podem vivenciar uma paixão e de fato escrever ou dizer “eu te amo” de diversos modos – muitas vezes, por meios eletrônicos. As pessoas podem estar distantes, em diferentes cantos do mundo, por exemplo, ou na mesma cidade ou até no mesmo prédio. Aparentemente a mídia social e intelectual (do tipo FaceBook, MySpace, Orkut e YouTube) chegou para ficar e dominar os processos de comunicação e, em particular, de amizade e romance. A inspiração para esta crônica, aliás, veio-me de um link a um vídeo, o comercial de Yasmin Ahmad, documentarista da Malásia, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Cannes de 2008. Disponível no YouTube, o vídeo foi postado por uma ex-aluna, uma amiga portuguesa muito querida, Sandra Sousa. Quase que imediatamente espalhei aquele link, www.youtube.com/watch?v=3fo3WJ1orvk, pela minha própria página no FaceBook. Quatro amigas se manifestaram a respeito dele: duas delas, Ana Catarina Teixeira e Débora Ferreira, lá de Utah, nas Montanhas Rochosas; a Catherine Kolar, do norte de Minnesota; e outra, de Londres, a Rosa Mignacca.
O vídeo, de um minuto e 43 segundos, primeiro mostra a pergunta: “Você tem medo de dizer ‘eu te amo’?” Depois escreve em branco sobre uma tela negra: “Tan Hong Min apaixonado,” menino que então será entrevistado em inglês por uma mulher anônima e invisível. Talvez aos seis ou sete anos de idade, ele diz,
“O nome dela é Umi. Umi Qazerina”.
“Por que você gosta dela?”
“Ela tem brincos e rabo de cavalo. Ela é bonita.”
“O que você gostaria de falar para ela?”  
Sorrindo, meio embaraçado, responde:
“Você quer sair comigo?” E acrescenta: “Para um jantar romântico”.
“Ela sabe que você gosta dela?”
“Não. Deixo em segredo.”
“Por quê?”
“Não quero que o mundo inteiro saiba.”
“Por que não?”
“Por que todos iriam rir de mim.”
“Por que eles iriam rir de você?”
“Porque ela não gosta de mim.”
Em seguida, uma garotinha de rabo de cavalo  se apresenta no vídeo:
“Meu nome é Umi Qazerina.”
A entrevistadora pergunta-lhe,
“Quem é seu melhor amigo?”
“Tan. Tan Hong Min.”
Quando a mulher lhe pergunta, “Você gosta dele?”, Umi não responde. Logo vem outra pergunta, “Você tem namorado?”
Ela faz um gesto afirmativo com a cabeça e diz, “Tan Hong Min”.
O rosto de Tan se transfigura num belo sorriso. Seu queixo literalmente cai de felicidade. Ele logo põe a mão direita no braço esquerdo de Umi. Ambos dão meia volta e saem para o mundo, abraçados. O vídeo termina com esses dizeres: “Nossa vida é definida pelo medo ou pelo amor. Ame! =)”
Lembrei-me de meu primeiro puppy-love, um amor de criança: Miriam Magda Carvalho. Acho que era correspondido, sim, mas até hoje não sei. Sei que eu morria de medo de não ser. Eu tinha entre sete e nove anos. Aquele amor nasceu e morreu platônico, mas a amizade jamais acabou. Pena que aquelas palavras mais doces nunca foram ditas. Umi e Tan, esses dois simpáticos baixinhos do século XXI, era do email e do FaceBook, tiveram mais sorte: um cupido eletrônico e internacional. Bom para eles! Você, não arrume desculpas, não. Abra o coração, sem medo e sem ilusão!



26 comentários:

Teresa disse...

Já li e gostei muito, mas já pensou que a facilidade com que as três palavrinhas surgem em inglês ou português do Brasil já não surgem no português europeu?

rose marinho prado disse...

Deve estar mais que bom esse seu curso...

Silvia disse...

Adorei, Darinho!!!
Mande mais crônicas!
Beijos
Sílvia

Cris disse...

Darinho, que coisa mais linda!!!
Adorei tudo que escreveu, e ainda mais sua franqueza. Essa sua espontaneidade é muito bonita, continue assim...
Bjs
Cris

djborim disse...

Obrigadao, Teresa! Que bom que vc leu e gostou. Desculpe interromper sua concentracao ihihihihi. qto a tal (falta de) facilidade, depois me conte mais. Achei duas ou tres gralhas no meu texto, mas essas ja' foram para o espaco. rsrsrsrsrsrs boa sorte ai. bjos

djborim disse...

Ei, Silvia--
Obrigado!
Tudo bem por ai?
Faz um ano que estivemos em Nova Iorque. Incrivel como passou rapido.
Bjo,
Darinho

djborim disse...

Obrigadao, Rose! O curso vai dar saudade. Ainda bem que o proximo tb promete: "Discurso amoroso na MPB".
Bjo.

djborim disse...

Ei, Cris querida--
Que bom que ver seu email e saber que vc curtiu a nova "peca".
Eu demorei um tikim pra achar um tema, mas ai' ele se desenvolveu rapidinho. Levei umas tres horas pra escrever, mas me diverti a cada passo. Obrigado, viu?
Como vc esta' passando?
Vai cair na gandaia hoje?
Eu nao sai ontem e nao vou sair hoje nao. Ando "gandaiando" mais ano meio da semana que no fim... oxente!
Bjs,
Darim

Rosemeire disse...

Que bom receber noticias sua!
A crônica e' otima.
Precisamos urgentemente dizer "Eu te amo" às pessoas importantes em nossa vida.Obrigado pelo lembrete. Beijos...

djborim disse...

O lembrete e' esse mesmo, Rose. Obrigadao! Bjo

Anônimo disse...

Lindo , Darinho...
Beijo!

"o amor, em sua verdadeira razão, é o caminho mais curto para as pessoas se tornarem melhores e mais completas em suas qualidades...simplesmente ame sem reservas!"

djborim disse...

Obrigado, Paulinha--
Legal a citacao que vc incluiu na sua mensagem. Bjo, D.

Frederico disse...

Olá Darinho!
Que cronica maravilhosa !
Sem palavras...
Parabéns e obrigado!

Carla disse...

Ei, acho que poderíamos escrever várias e várias teses de doutorados para responder a essas perguntas... Por outro lado, talvez baste um sorriso, um olhar, um silêncio ou um simples gesto inusitado para que o "recado" seja dado... adorei a crônica e o vídeo! À propósito, o garotinho da foto é você??
Beijão, Cacá.

Maristela Faria disse...

É Darinho! Você sempre nos encantando com seus comentários. Este é muito polêmico e ao mesmo tempo fácil. Amar é tão bom!... tão lindo! Por que o povo complica tanto? É porque manter é dificil e complicado. MAS QUE FAZ UM BEM DANADO, ISTO FAZ. e COMO DISSE O POETA: Que seja bom enquanto dure...

djborim disse...

Ei, Caca' e Maristela--
Obrigado pelos comentarios.
Sim, o menino na foto e' o Darinho pela camera do sr. Nunes, de Paraguacu. Pois e', a questao e' complexa -- da' teses, como diz Carla -- mas e' so' olhar, e' so' sentir e, a partir dai', ter fe' para curtir o doce e forca para aguentar o amargo de qualquer amor. Otimo domingo pra voces! D.

Kiko disse...

Parabéns Darinho.
Magnífica peça, numa abordagem singular e atual de nossa língua.
Um grande abraço.

Kiko

Anônimo disse...

Que belo trabalho, Dário! Como sempre, V. aparece com coisas novas e comoventes. Alem de bem escritas.

Eu tinha 16 anos e uma bela garota de 14 anos (filha de um pastor da mesma igreja que eu frequentava junto com minha familia) dizia sempre para minha irmã caçula (CC), que ela me adorava. Num domingo, depois do almoço, na casa de minha irma mais velha (JJ), nos reunimos para afirmar esses sentimentos, que eu sabia muito bem que eram correspondidos. Ela me amava mais do que eu, pois eu não sabia dessa historia do "Eu te amo"! Seria a primeira vez que eu teria de expor meus sentimentos.

A pedido de minha irmã mais velha (JJ), que fez essa reunião entre nós dois, fui escolhido o primeiro para dizer de meus sentimentos por ela. Eu disse: "Eu acho que te amo, mesmo voce sendo mais nova!" Depois foi a vez dela, que disse, para minha surpresa: "Eu não estou seguro que lhe amo!" Quase caí da rede, onde estava deitado. (No Amazonas, não se usa sofá, cama: rede é o comum)

Uns 20 anos depois, ela já casada, veio dizer que eu era o único homem, que de verdade, amava. Tarde demais! Portanto, siga o exemplo de sua historia: Nã tenha medo de dizer: EU TE AMO!

Feel Good!

Vi disse...

É... D.,seu negócio é mesmo contar histórias... pois esta' aí
a sua grande paixão. Paixão na forma de "degustar' a vida, pois
percebo o prazer que isto lhe traz... Todos nós temos nossos
segredos, assim como Tan rong Min,que teve o cupido para ajuda-lo
na empreitada de acertar seu romance..rrss Que simplicidade lidam as crianças com o seu "sentir"... deveríamos reaprender com elas....
Mas,descobri mais um pouquinho de vc... a paixãozinha pela Mirinha he, he... adorei... Ela é ótima... Mas... que pena...! Vc contou suas paixões ate' os 9 naos...rrs Ahhhhh estava aguardando vc contar os acontecimentos da adolecencia, início da fase adulta......rrsss..Uauu!
Bom, mas,senti sua paixão em realizar este trabalho, o quanto vc
curtiu e bebeu deste "saboroso' tema. Eu tb fiquei com vontade de
comer um pedaço rrrsss acho que arrepiou...! ui!!
Amei a crônica , sua forma gostosa de conta-lo.Assim,me senti mais
próxima,na medida que o outro sai de "si" e divide conosco seus sentimentos....
bjs D., vc é especial !

Silvana disse...

Ei, irmão pra começar esta foto que eu adoro! Que delicia meu irmão! Gostei do texto, viu, é doce dizer "eu te amo" do fundo do coração! Vale a pena encorajar mesmo! Eu também amo você!!!!!!! Nina

Di disse...

Oi mano, legal a crônica.

A foto é sua, mas como confunde com o Tatau e o Ian, incrível!!!

Lira disse...

ADOREI, Darinho!
Linda, parabéns!!! =)

Goretii disse...

Darinho, enviei um comentário sobre sua crônica,não sei se chegou mas, gostei muito. Em resumo devíamos ter sempre a ingenuidade das crianças, tudo tão puro, tão simples. Tão puro quanto sua foto de 1ª comunhão. Esta foto me traz muitas lembranças de meu pai...Saudades... No verso há um carimbo redondo, escrito "Foto Nunes". Bjs

Henriqueta disse...

Você está a cara do seu pai nesta foto. É novidade para mim saber de sua primeira paixão. Mírian e eu moramos na mesma rua aqui em Paraguaçu, mas quase não nos falamos.
Muito boa a crônica. Um abração.

foureaux disse...

Só hje pude ler sua crônica com essa historinha mais que delicada, mais que sincera, mais que verdadeira. Uma lição para muita gente, mas muita gente mesmo que ainda acredita que "ficar" é a melhor expressão para uma experiência que divide a existência ao meio, sempre que é vivida. Parabéns, meu amigo.

PS: neste semestre, minha audiência no Brazilliance é numa: conexão em Mariana, só a poder de prece e o Espírito Santo anda ocupadíssimo, logo...

djborim disse...

Ei, Ze Luiz,
Fico contente que vc gostou dessa cronica sobre declaracoes de amor. Eu tb acho aquele video muito delicado. A minha cronica e' do tipo que, a meu ver, merece as duas fatias de pao para formar um sanduiche de letras. Esse e' o tema de uma das minhas cronicas de alguns anos atras (publicada no mesmo blog em torno de um livro de cronicas de Onesio de Almeida). O tal sanduiche de letras se faz necessario quando cronicas tem uma cronica pre-cronica e outra pos-cronica, tudo muito importante na vida do cronista que nao deveria ficar fora de nehuma delas e, por isso, fica ligado a cada uma dessa forma. Obrigado, meu amigo.

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