Fotos de Alexandre Borim Codo Dias
Dário Borim Jr.
dborim@umassd.edu
As analogias não são meras tentativas de dizer algo por comparação, apesar de que, por natureza, sejam incompletas: exageram um pouquinho aqui ou se esquecem daquilo ali. Mesmo assim não as abandonamos porque podem explicar algo em poucas palavras ou tornar a comunicação mais picante, mais audaciosa. Por isso digo que o espetáculo organizado por minha prima (e primeira professora) Selma Sólia Násser em homenagem aos cem anos da música e dos músicos da nossa cidade foi, como bem o disse meu cunhado José Codo, o Woodstock de Paraguaçu.
Não havia roqueiro drogado, não se endeusaram mágicos malucos, não fizeram o show ao ar livre, não rolou sexo livre, e a cantoria não durou três dias. Porém, foram três horas de deleite inebriante, de prazer sensorial superior a muito amor carnal que "fica" por aí. O "Cem Anos de Música" realizou-se num teatro muito charmoso, e fez tributo a muita gente talentosa (como José Purífico e Célia Prado) que já faleceu há décadas. Como em Woodstock, entretanto, ouviu-se muita música boa, reuniram-se, ao vivo ou através do telão, um grande número de artistas, e ficaram para sempre gravadas na memória do público a melodia e a poesia de um povo tão extraordinariamente ligado a música.
Foi o nosso Woodstock, sim, principalmente, porque, infelizmente, podemos crer que jamais haverá outro, já que Paraguaçu não fará 100 anos outra vez e, quando outro número redondo assim surgir na nossa história, digamos, quando a cidade comemorar seus 150 ou 200 anos, estaremos todos ou quase todos nós mortos, bem mortinhos. Mais grave ainda: certamente não haverá outra Selma Sólia Násser para organizar tão bem um evento de tanta importância e tanta complexidade artística como foi o nosso Woodstock, realizado a 24 de setembro de 2011, no Teatro Donato Andrade.
Aceita aquela ideia geral de analogia, quem sabe encontremos outros pontos de contraste e semelhança. Ao invés de Jimmy Hendrix tocando a guitarra com os dentes, ou sapecando o hino nacional dos Estados Unidos em acordes dissonantes (visto a sua indignação com o papel do seu país na Guerra do Vitenã), tivemos um Rogerinho Salles cantando "Emoções" de Roberto Carlos e levando a platéia ao delírio (como diria Galvão Bueno) ao espalhar pétalas de rosas por onde passava. Se o festival de música numa zona rural do estado de Nova Iorque teve umas Mamas em Papas cantando "California Dreaming" ou qualquer outro de seus grandes sucessos, o Woodstock de Paraguaçu teve as gloriosas GANDS, banda lendária dos anos 60 que jamais deveria ter interrompido sua carreira musical.
Entre os que estavam vivos àquela época e presentes aos sensacionais programas de domingo na Liga Operaria (a série Donato de Andrade Show), e que permaneceram vivos e espertos o suficiente para não perderem o grande evento na Praça Osvaldo Costa, inclusive meus pais, Dário e Lucci, não havia dúvida: Glória Sólia, Ângela Morais, Níobe Cardoso, Daciene Mendes e Sílvia Borim (mantendo-se os nomes daquela época) continuam súper-talentosas e ultra-charmosas. As GANDS arrasaram, como disseram muitos espectadores depois que voltaram para suas casas e se deram conta de que tinham presenciado um evento histórico da melhor qualidade e da maior importância para nossa cidade.
Entre os que estavam vivos àquela época e presentes aos sensacionais programas de domingo na Liga Operaria (a série Donato de Andrade Show), e que permaneceram vivos e espertos o suficiente para não perderem o grande evento na Praça Osvaldo Costa, inclusive meus pais, Dário e Lucci, não havia dúvida: Glória Sólia, Ângela Morais, Níobe Cardoso, Daciene Mendes e Sílvia Borim (mantendo-se os nomes daquela época) continuam súper-talentosas e ultra-charmosas. As GANDS arrasaram, como disseram muitos espectadores depois que voltaram para suas casas e se deram conta de que tinham presenciado um evento histórico da melhor qualidade e da maior importância para nossa cidade.
Por um momento, tantos de nós Paraguaçuenses ausentes, como Cristina Schmidt, em Goiânia, Lília Borim, em São Paulo, Rosa Mignacca, ou este saudoso cronista-professor-DJ, em Dartmouth, Massachusetts, desejamos que, diferente de Woodstock, o festival de música de Paraguaçu se repetisse, sim, e logo! À distância nós ficamos muito felizes com o videoclipe "Cem Anos de Música," realizado por Selma Sólia Násser e narrado por Gresse Leite Prado, mais um belo registro histórico que nosso querido e sábio Guilherme Prado editou e postou no FaceBook exatamente no mesmo dia em que o grande musical encantou a centenas de pessoas, em pé ou assentados, ao Teatro Donato Andrade. Ficamos muitíssimo gratos por essa canja audiovisual, maravilhosamente acessível pela mágica da internet aos quatro cantos do mundo, mas, sinceramente, queremos mais, queremos um segundo Woodstock de Paraguaçu, já -- uma segunda edição dos Cem Anos de Música para quem perdeu a primeira e para quem dela saiu com uma convicção e um desejo: "bom também, e queremos mais!"