Dário
Borim Jr.
O
quê? Já se fala em festas de fim de ano? Que ano? Outro dia me perguntei: em
que ano estamos? Vocês até podem pensar que este cronista perdeu a cabeça, ou
que ele está parodiando a mente de um típico professor universitário,
compenetrado nos seus estudos mas avoado para o resto do mundo ao seu redor.
Mas é verdade, esqueci mesmo, ou, para ser mais exato, fiquei numa dúvida
cruel: agora é 2011 ou 2012? Cuidado, não deixem que isso lhes aconteça. Lembrem-se
de Vinicius de Moraes. Ele dizia "que a coisa mais divina que há no mundo
/ é viver cada segundo como nunca mais". Tudo bem, Poetinha, estou com
você, mas o que fazer se cada segundo que passa corre tão depressa que o
próprio tempo parece escorrer por entre os dedos sem que tenhamos o prazer
segurá-lo por um segundo sequer?
Enquanto Caetano Veloso diz que o tempo é "compositor de destinos /
tambor de todos os ritmos", fico a meditar na natureza tão escorregadia
desse elemento "tão inventivo" que se mostra "contínuo" sem
o ser. Aliás, para mim o tempo não existe senão como forma de referência ao
percebermos tudo o que se move, nasce ou se transforma (ou deixa de fazê-lo).
Então, quando pouco ou nada disso ocorre (quando nada parece acontecer ao nosso
redor), o tempo gruda, feito trepadeira em tronco de laranjeira, ou caminha manso,
feito tartaruga sob sol quente. Para muita gente, tempo assim é bem-vindo, é
tempo de paz, é tempo de desapego.
Não nasci para aquilo não. Lembro de um livro que li aos 20 e poucos
anos, O Castelo de Axel, presente que
recebi de um professor de literatura americana da UFMG, Thomas Burns -- obra publicada
em 1931 pelo famoso crítico norte-americano Edmund Wilson (1895-1972). Wilson
falava que para os escritores da década de 1920, a chamada Geração Perdida,
como Ernest Hemingway, William Faulkner, e Scott Fitzgerald, o maior medo não
era nem o da dor nem o do sofrimento, mas sim o da mesmice e do tédio.
Aventura, risco, luta, e descobrimento, era isso que lhes dava sabor à vida e
os impulsionava a escrever.
Lá pelos anos 80 eu já me identificava com aqueles expoentes das letras
estadunidenses. O que eu não sabia era que minha vida pessoal e profissional
(enquanto professor de literatura e cultura brasileiras no país de todos eles)
se tornaria tão agitada e rica de desafios que me faria esquecer em que ano
estamos. Decidi hoje à noite que, antes que 2011 acabe, é preciso voltar no
tempo e reconhecer o que se moveu, nasceu ou se transformou ao meu redor neste
segundo semestre.
Mal tinha regressado de minhas férias no Brasil, e eu já recebia e era
responsável pela visita cultural de sete membros da Casa Grande, uma bela
fundação sócio-educacional criada no sertão do Ceará. Aqui estiveram por uma
semana inteira. Poucas semanas depois, eu faria um especial de rádio de três horas
com música de Ivan Lins. A seguir, veio-me uma viagem a Nova Iorque, para o
casamento de um cunhado em memorável cerimônia realizada em um barco que
rodeava a ilha de Manhattan sob intensa neve. No fim de semana seguinte,
desloquei-me para uma conferência em um congresso trans-disciplinar no estado
de New Hampshire. Três dias depois de voltar de lá, sairia para outro
congresso, esse na Universidade de Londres.
Ao longo desses meses, escrevi umas crônicas, dei minhas aulas, atuei
como chefe de departamento, mas, principalmente, também conclui os trabalhos
para edição de meu primeiro livro em inglês, a tradução da biografia Antonio Carlos Jobim: Um Homem Iluminado,
escrito pela sua irmã, Helena Jobim. A vida não pára, e no momento cuido dos
detalhes de duas conferências que estou organizando para a primeira metade do
mês de dezembro, uma delas, com o distinto pesquisador Charles A. Perrone, lançando o livro que para sempre une
dois famosos membros da família Jobim
a um irrequieto filho da família Borim
(a rima é perfeita). E tem mais. Uma editora paulista anda me cobrando um livro
crítico sobre crônicas, pelo qual já temos contrato assinado. Queriam o
manuscrito para meados de dezembro. Socorro, eu vou lhes dizer em um e-mail
amanhã. Só dá para sair em fins de janeiro, na melhor das hipóteses. De que ano
mesmo?
17 comentários:
Que loucura!O tom da crônica expressa a maluquice do tempo nos nossos tempos..rsr... Parabéns! Mas, com certeza, você é uma dessas raras pessoas que sabem curtir a beleza de cada segundo da vida. Característica que admiro demais em você! Beijos.
adorei a cronica, claro, me faz rir mesmo......... nao esqueca outras coisas nao rsrsrssrsssrs
to feliz que tenha trabalhado assim, coisa que gosta mesmo! bjos
Darim, li a sua crônica. Diante de tantas atividades, realmente você já se encontra no final de 2012, isto posto já lhe desejo um feliz 2013!
Adorei Dario..... me fez pensar também... beijocas mil.
Amei, Darinho! É, Amigo! Além de já estar no fim do ano, voce esta' viajando um bocado, hem?
Darim,tuuudo de bom a crônica! Li.."Que dia mesmo?'...Bem,essa eu vou escrever qualquer dia..rrss
também tenho um fraquinho pelo adjetivo "avoad@" que usamos muito nos açores... :)
Parabéns pela crônica meu grande amigo Darinho !!!!
Sempre me surpreendendo...
Sua vida por aí corre tão depressa, se você tropeça não vai levantar.
(Velhos tempos do Alceu Valença, lembra?)
Um grande abraço !!!
É bom ver o brother vivendo seu tempo intensamente e filosofando sabiamente sobre ele, que bom que ele consegue fazer as duas coisas!!! Bjo Silvana.
É bom ver o brother vivendo seu tempo intensamente e filosofando sabiamente sobre ele, que bom que ele consegue fazer as duas coisas!!! Bjo Silvana
ADOREI!!
SAUDADES!
BEIJOS
ELIZAH
Li a sua crônica e adorei, não sei como você consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo, ainda bem que o semestre está no fim.
Dear Dario,
I really liked the piece that you just sent. I often have the same problem with remembering what year it is!
I really admire the umph that you put into your jam-packed life. Keep it up!
Best, Rick
Primo, vc é brilhante!! Como sempre suas crônicas são demais!!
Sabe que esses dias aconteceu a mesma coisa comigo?? Não sabia se estávamos em 2011 ou 2012...credddoooooo!!! Fiquei com medo...e mais medo agora que vc escreveu pra gente se preocupar quando isso acontecesse..kkkkkkk Então...aconteceu!
Vamos ver se a gente conversa...quero saber da sua viagem para London! kkk
Espero que tenha sido 10!
Saudades...Beijo enorme!
Dário:
Li o item mais recente do seu blog e gostei mesmo muito. E adorei aprender
a sua citação de Vinicius de Moraes--acho que você devia citar isso para
todos os meus conterrâneos que adoram viver na...saudade!!!
Lindo mesmo. Obrigada.
Lisa g.
Oi Darinho! Excelente a sua cronica. Adorei! Mas, esse "tempo mano véio"tem de correr mais macio... Como fazer isso? Abracos... Kekel
Em tempo, amei a crônica, Bruxinho das letras!
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