segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Ponteio Cultural, um Blog de Dario Borim




Ponteio Cultural

A coluna de Dário Borim

para O Jornal Brasileiro (Fall River, MA, EUA)

Quando o convite para criar esta coluna chegou, e meu desejo de aceitá-la driblou minhas ansiedades e receios (afinal, a dita falta de tempo é um dos maiores males da vida atual), logo me pus a matutar: que nome deveria dar a essa coluna?
Foram duas as colunas que, até então, eu tinha mantido por aproximadamente um ano em periódicos publicados a quase dez mil quilômetros de distância um do outro. Em 1982 “Memories, Thoughts, and Things” saía a cada duas semanas no jornal The Lance, de uma faculdade localizada junto aos pés das Montanhas Rochosas, o Eastern Wyoming College. O único brasileiro do campus e da pequena cidade de Torrington tinha algo a dizer sobre suas viagens pelas Américas e diversas regiões dos Estados Unidos. A outra coluna sairia 20 anos depois. Era chamada “Via Satélite” e suas crônicas discutiam o cotidiano, cultura e política. Eu podia, assim, manter-me em contato com os leitores d’A Voz da Cidade, periódico bissemanal da minha querida Paraguaçu -- a “princesinha do Sul de Minas”, segundo uma canção local.

Mas por que pensar tanto em um nome? O que há por detrás de um nome? Dois dos maiores poetas das línguas inglesa e portuguesa também se questionavam a respeito. "What's in a name? That which we call a rose / By any other name would smell as sweet", dizia o dramaturgo inglês William Shakespeare em sua peça Romeu e Julieta. “Mundo mundo vasto mundo / se eu me chamasse Raimundo / seria uma rima, não seria uma solução” era o que concluía o grande bardo das Minas Gerais, Carlos Drummond de Andrade, no seu “Poema de Sete Faces”.
É claro que não é pela força de um nome diferente que daremos a uma bela rosa o aroma de cebola, nem vai ser um nome próprio que trará paz de espírito a um poeta angustiado com a modernidade e com o seu próprio passado. Mas é inegável a força dos vocábulos para atrair ou repelir leitores (o título de um livro, por exemplo), ou para sugerir a natureza dos assuntos abordados por uma coluna de jornal. Por essa razão, então, veio-me a dúvida e, depois, a opção, “ponteio”, que, segundo o Novo Dicionário Aurélio, é o ato ou efeito de pontear (que se conjuga como “frear”), isto é, “marcar com pontos uma linha”, “alinhavar um vestido” ou, principalmente, “dedilhar as cordas de um instrumento”.

Pronto: ponteio. É isso mesmo que eu me proponho fazer: alinhavar umas idéias sobre cultura (literatura, filmes, espetáculos teatrais, musicais, etc.). Pretendo, pois, dedilhar minhas cordas enquanto professor de estudos luso-afro-brasileiros da UMass Dartmouth e enquanto produtor-apresentador de um programa de música, o Brazilliance da WUMD (89.3 FM), que sempre às quintas-feiras (3-6 da tarde) dissemina o maravilhoso legado musical dos países lusófonos aos ouvintes desta região e também do resto do planeta, via Internet.

A inspiração do nome surgiu da nossa memória musical. Partiu de uma canção engajada de 1967, escrita por Edu Lobo e José Carlos Capinan. Era tempo dos festivais de música no Rio de Janeiro e São Paulo. Um pouco antes da censura intimidar os artistas, podia-se clamar: “Era um, era dois, era cem / Vieram pra me perguntar / Ô, você de onde vai, de onde vem / diga logo o que tem pra contar / Parado no meio do mundo / Senti chegar meu momento / Olhei pro mundo e nem via / Nem sombra, nem sol, nem vento / Quem me dera agora eu tivesse a viola pra cantar”.

Nesta página de jornal, minha coluna é minha viola, e espero que vocês também façam parte dessa roda, dessa cantoria bissemanal. Para melhor dela participar, cantem-me acordes e versos através dos seus comentários e outras contribuições que lhes sejam possíveis. Meu e-mail é dborim@umassd.edu. Sejam todos muito bem-vindos!
(29/setembro/2007, p. 17)

3 comentários:

Wania Ribeiro disse...

Oi Darinho !!!
Seu blog está sensacional!!!
a começar pelo nome , que achei de extremo bom gosto.Quem não se lembra desse tesouro que foi Ponteio de Edu Lobo.
Adoro o jeito como vc escreve. Sua total intimidade com as palavras, sua sensibilidade..Enfim , como sempre eu costumo dizer.
Vc é demais!!!

frida disse...

Ola Dario!!!
Gostei muito da cronica. Pessoalmente nao sabia do movimento emigratorio reverso para o Brasil, e que tambem ja se anunciava no NYTimes.
Legal,
Um abraco
Frida

djborim disse...

Frida,
Obrigado pelo toque. Depois saiu uma pequena noticia n'O Globo sobre a rep do NYT. Pois e', acho que uma boa parte daqueles que estao voltando para o Brasil ja' fizeram um tanto do que queriam fazer financeiramente. Os mais necessitados, na sua maioria, ainda persistem no jogo perigoso dia apos dia. Sinto muito por estes. Um forte abraco, Dario

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