Sanduíches de letras
Dário Borim Jr.
dborim@umassd.edu
O que é que dá prazer à vida? Para alguns de nós, a lista é enorme. Para outros, nem tanto. Para terceiros, como alguns de meus conterrâneos, a resposta é muito simples: viver, sem querer viajar ou o que buscar fora do ninho. E não há nada de errado nisso, é claro, porque... bem, porque o que lhes dá prazer está ali mesmo, na cidade, bairro ou vilarejo onde moram: é a candura do convívio com parentes e amigos, em que não faltam boas anedotas, saborosas comidinhas, cerveja bem gelada, telenovela, ou futebol, e assim se vai levando a vida. Mas Paraguaçu, provavelmente como quase todas as cidades pequenas do mundo, também tem filhos radicados bem longe dali. Muitos de nós saímos por necessidades várias, mas principalmente por querermos melhores escolas ou melhores empregos. Alguns também se deixam levar por aventuras, como eu mesmo e meu colega de profissão e lazer, o professor Onésimo Teotónio Almeida, natural da ilha de São Miguel, dos Açores, que lançou recentemente mais um livro: Aventuras de um nabogador & outras estórias-em-sanduíches (Bertrand 2007).
Nossa profissão nos conduz a estudos muito sérios, acadêmicos que somos, com o objetivo de questionar e explicar livros e outros escritos. Acredito, entretanto, que, como eu, Onésimo também se veja longe de uma dedicação exclusiva a essa ocupação. No meu caso, em particular, fiz questão de colocar meu gosto pela escrita criativa no cerne de minha formação acadêmica. Graças ao reconhecimento dado ao creative writing no sistema universitário norte-americano, foi-me possível obter um de meus dois títulos de mestre nessa área. E por quê? Porque escrever histórias (sejam elas “reais” ou “inventadas”) me traz um enorme prazer. Onésimo, por seu turno, deixa claro em seu novo livro que escrever histórias (mesmo que as chame de estórias) só não é melhor que contá-las, ao vivo, cara a cara com os seus ouvintes. De fato, num congresso acadêmico aqui e ali, já presenciei e admirei os extraordinários talentos do colega na hora de narrar uma boa anedota. Porém, as suas Aventuras de um nabogador não deixam pra menos. As crônicas ali reunidas registram, com rara destreza e para a posteridade, a idéia e o testemunho de que é possível ser professor universitário e viver uma vida repleta de... aventuras.
Mas que tipo de aventuras? São assédios de uma aluna ninfomaníaca, sabotagens a um programa de rádio salazarista, pane de um avião em vôo transatlântico, exploração às cegas de uma selva sul-americana, etc., etc. Depois de ler suas dozes crônicas e os comentários que as antecedem ou as sucedem (formando as partes de um sanduíche de letras), melhor seria perguntar: que aventura não nos conta esse senhor parcialmente embrenhado no mundo dos livros, palestras, e múltiplas formalidades universitárias?
Em resumo, o cronista nos faz rir das enroscadas mirabolantes de quem trabalha com muita gente e viaja extensivamente, do Maine à Tailândia, da República Dominicana aos Açores, da Califórnia à Colômbia, e de Porto Rico a Rhode Island. E se considerarmos os inúmeros livros que o narrador lê e discute com peculiar humor e perspicácia, como bom e apaixonado professor de literatura que deve ser o Onésimo-de-carne-e-osso, então os quatro cantos do mundo se tornam seu fundo de quintal. Nós, leitores, que nos tornamos acompanhantes em suas travessias e seus refúgios, não queremos parar de ler. Queremos mais, até mesmo do próprio “pão” de cada crônica, porque o texto que apresenta cada um dos textos principais pode ser a melhor parte desse sanduíche de letras. Diante de tais plausíveis afeições, o que posso recomendar é o seguinte: uma segunda leitura de toda a obra, pois assim o sabor do recheio só poderá nos aumentar o paladar do pão, e vice-versa.
2 comentários:
Dario:
Obrigadissima pela info que envia, os filmes na Brown e o seu blog sobre OTA e outras coisas. Tenho estado a ler e, claro, estou a gostar muito. Muito bem escrito e interessantissimo. Fui das aventuras de um Nabogador ate as suas viagens, Paris, Londres, etc. e voltarei la--ao blog e as capitais europeias!
Merci!
Lisa G.
Caro Dário:
Extremamente simpática a sua crónica. [Está esteticamente muito
bem.] Muito obrigado.
abraço, onésimo
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