É uma BRASA, mora?
Dário Borim Jr.
Dário Borim Jr.
dborim@umassd.edu
Há grandes vantagens na carreira de professor universitário. Uma delas é participar de congressos em diversas partes do país e do estrangeiro. Boa parte de nossas despesas (senão quase todas elas) é paga pela instituição em que trabalhamos. Isto quer dizer que temos direito a certo tipo de “turismo intelectual” quase gratuito.
Há grandes vantagens na carreira de professor universitário. Uma delas é participar de congressos em diversas partes do país e do estrangeiro. Boa parte de nossas despesas (senão quase todas elas) é paga pela instituição em que trabalhamos. Isto quer dizer que temos direito a certo tipo de “turismo intelectual” quase gratuito.
Os leitores desta crônica que viajam a negócios poderão dizer, “nós também”. Eu diria, pelo que sei, “não é bem assim”. Enquanto outros profissionais viajam sob pressão para “produzir resultados” e seguem uma agenda apertadíssima de cursos e negociações, nós, acadêmicos, vamos de encontro a ambientes descontraídos, habitados por pessoas contentes por estarem distantes das suas rotinas. Desta forma revêem velhos colegas de profissão e fazem novas amizades. E sempre há um tempinho para socialização (sessões de vinho e queijo, por exemplo, ou algo muito melhor).
Infelizmente nem todos os professores universitários, mesmo que tenham obtido seus Ph.D.s da vida, têm esse tipo de privilégio. Milhares deles lutam para sobreviver lecionando em três ou quatro escolas que não lhes pagam o suficiente e nem lhes dão apoio para desenvolvimento profissional. Depois de tantos anos de estudo e tanto dinheiro gasto na educação, é lamentável submeter-se a tal penúria.
Bem, aonde quero chegar não é nenhum mar de lamúrias. Muito pelo contrário: quero compartilhar o deleite que foi minha recente viagem ao nono congresso internacional da BRASA (Associação de Estudos Brasileiros), entidade que agrega centenas de estudiosos de diversas disciplinas (da arquitetura ao cinema, da literatura à ciência política), todos voltados para o Brasil. Desta vez o encontro bi-anual se realizou em Nova Orleãs, cidade que ressuscitou das águas e dos escombros causados pelo furacão Katrina em mais um nefasto mês de agosto, o de 2005.
Devo dizer que o congresso foi mesmo uma verdadeira extravagância cultural. Em certos momentos 27 sessões com quatro ou cinco apresentadores aconteciam ao mesmo tempo. No total, eram centenas de pesquisadores reunidos. E como se debates acadêmicos não fossem o suficiente, ainda transcorriam sessões simultâneas com alguns dos melhores e mais recentes lançamentos do cinema brasileiro. E mais: no espaço de dois dias e três noites teríamos concertos de chorinho e jazz, além de rodas de samba e de capoeira.
Enquanto todas essas atividades acadêmico-culturais transcorriam nas salas e salões do belo campus da Universidade de Tulane, havia toda uma maravilhosa cidade a ser explorada.
Portanto, com maior ou menor disposição, quase todos (senão todos) os participantes do congresso escapariam pelo menos uma vez dos ares fechados da universidade. Era para dar uma olhada no French Quartier, o bairro francês tão apreciado pela música, principalmente jazz, blues, rock e cajun, e pela distinta arquitetura, com maravilhosos sobrados de estruturas metálicas entalhadas e varandas que nos convidam à paz e à descontração. Isso, é claro, sem falar no que denominei de “folclore da sacanagem”, a atitude carnavalesca de liberação sexual radical que dura o ano inteiro, sob o qual co-existem coloridos e alegres semi-prostíbulos e bares gays por todos os cantos.
Bom, e se isso tudo não fosse o bastante, há ainda centenas de outras opções em diferentes bairros ao redor do French Quartier. Em muitos destes, dizem, oferecem-se as verdadeiras jóias da cozinha e dos ritmos locais. Para um desses recantos me dirigi com três colegas da BRASA (Richard Gordon, Robert Moser, e Cristiano da Silva), na noite de sexta-feira, dia 28 de março, depois de muito bla-bla-blá intelectual. Apresentavam-se gigantes do jazz em uma casa bastante humilde e discreta, mas muito tradicional, o Donna’s. O clarinetista Evan Christopher e o pianista Tom McDermott já nos haviam dado arrepios de prazer estético quando, de repente, para um coração brasileiro, eles arrebentaram a boca do balão: tocaram delícias de um Pixinguinha, de um Abel Ferreira, e de um Ernesto Nazareth.
Era uma BRASA, mora, testemunhar o fantástico encontro do jazz e do blues de Nova Orleãs com o chorinho e o maxixe do Rio de Janeiro. Tudo se mesclava ali mesmo, onde as águas assassinas já tinham rolado como se fossem prenúncio do fim do mundo. Elas nem por isso teriam afogado o espírito harmonioso e viajante da arte, que não perdeu o barco de ida e de vinda, por mares distantes e rumo a tradições musicais nem tão dessemelhantes.
7 comentários:
Migão,
Que bela crónica!! Obrigada! Viva a BRASA que ABRASA! :)
Beijinhos e um abraço apertadinho,
Sandra
Dário,
obrigada por compartilhar a cronica sobre a Brasa--ficou uma delícia, como
as incursoes no French Quarter!
abs,
Glaucia
Oi Dário,
Obrigado pela linda crônica sobre BRASA.
Um abraço,
Richard
Querido Darinho
Que maravilha de crônica!! Adoro ler o que você escreve. É muito visual e sonoro. Quase posso ver e ouvir cada uma das cenas!!
Beijos
Elizah
Oi
Fico maravilhada com essa sua vida, Dário. Música e cultura. Mas Nova Orleãs,agora renascida....Devo ter vivido lá ( vidas passadas, que não creio, mas desconfio..). Bárbaro!
Queria saber se os encontros intelectuais são densos, em outras palavras, há novidade no front? Assim com acontecia na França dos existencialistas, ou nos EUA de Noam Chomsky?
Ai que saudade que tenho...do que vivi e 'desvivi'.
Ponto, câmbio...estou comendo biscoito de polvilho...hum..slurf.
Não consegui ( jeito maneira) ouvir seu programa. E olha que meu computador não é ruim. Coloquei os pluggins que solicitara...E nada...
Ah! Vou linkar seu blog ao meu.
Beijos
* volte ao Orkut, é só não viciar nele, perigosíssimo pois pleno de "emoçoes". Uma brasa e tanto. Pode queimar ...a vida.
Mas , sabendo usar...
Bye
Rose,
Legal que voce curtiu a "visita" a Nova Orleas, comigo. Obrigado pelo toque.
Nao, o clima das discussoes nao e' aquele peso-pesado da Franca, de que saiu correndo um Foucault. Varia muito, mas tende a ser mais leve, exceto nos meios mais radicais, excecoes muito-muito "politicamente corretos".
Olha, na radio WUMD estivemos fora da Internet por dois meses, mas voltamos no fim da semana passada. Se quiser tentar de novo ouvir o Brazilliance, e' so' entrar no site
www.893wumd.org e clicar no LISTEN NOW, quintas-feiras das 2 as 5 da tarde, hr de Brasilia atualmente (ate' o Brasil entrar com hr de verao, em outubro). Amanha, pois, e' dia de radio. Gracas a Deus.
Qual e' teu blog?
Beijos,
Dario
Dário, por favor, produza mais textos neste blog. São bons e úteis.
Obrigada
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