sábado, 22 de agosto de 2009

Esportes e remédio pro frio


Dário Borim Jr.

dborim@umassd.edu

[Dir. tec. Seydina, natural do Senegal, e jogadores do CVU e do IC]


Então o futsal de Paraguaçu se fez internacional mais uma vez em julho de 2009. No seu ginásio poliesportivo o Ideal Clube recebeu a visita de um forte time de Los Angeles, Califórnia, com jovens de 14 a 16 anos: o CVU (Conejo Valley United). Em duas noites memoráveis para muitos de nós presentes, assisti com intenso interesse a quatro partidas, três das quais vencidas pelos norte-americanos, e a última, pelos paraguaçuenses. Para o técnico do Ideal Clube, meu amigo Sílvio Seppini, o resultado negativo às equipes de Paraguaçu se deveu a menor idade média de seus jogadores. Para mim foi uma experiência jamais vivida: jogos entre equipes de duas nações em minha pequena cidade. Além do mais, tive a chance de ouvir meu próprio filho, Ian, que de microfone na mão serviu ao evento como tradutor-intérprete no momento em que discursaram Sílvio, diretor de esportes do Ideal Clube, e Ângela Silva Santos, a presidente. Ian também colaborou para o brilho do evento ao liderar a interpretação a cappella do hino nacional dos Estados Unidos.

Nas arquibancadas, eu me assentava perto de Maristela Dunn, mãe entusiasmada de dois craques em campo, Christopher e Brian. Ela e eu temos as mesmas condições de expatriados e de pais de filhos com cidadanias duplas. Uma pessoa de invejável disposição e criatividade, Maristela é a grande responsável pela realização daquele evento esportivo, assim como de tantos outros eventos turísticos e culturais dos quais 14 meninos californianos desfrutaram em Paraguaçu, sítios e cidades vizinhas, e Bertioga, uma cidade praiana paulista onde os garotos trocaram as bolas pelas ondas tropicais.

Assistindo àqueles jogos no ginásio do Clube não deixei de pensar nos velhos tempos, quando a nova sede do Ideal dava os primeiros passos e nem piscina havia. Só tínhamos uma quadra externa e esta era controlada pelo sr. Neném Órfão. Bons tempos aqueles em que um pequeno caso de mau comportamento de um dos meninos levava o sr. Neném a clamar, “Respeitem meus 60 anos, meus rapazes”. Nostalgia por nostalgia, para mim nada é melhor que relembrar a época das grandes olimpíadas dos anos 70, quando mais de uma dezena de cidades do Sul de Minas aqui vinham para competir. Era tempo de fazer muito frio em Paraguaçu, o que criava mais uma justificativa para se tomar uma pequena dose de conhaque antes de entrar nas quadras.

Também gosto de relembrar uma noite em que nossa equipe de handebol jogava muito bem contra a equipe de Lavras, considerada a melhor do certame. Eu era o goleiro do Ideal Clube e de alguma forma fazia milagres impedindo uma esperada lavada sobre a nossa fraca equipe. Houve então o momento em que foram chamar as autoridades do Ideal para presenciar aquele fenômeno. Segundo as más línguas, o goleiro se fazia notar não apenas pelas suas magistrais defesas, mas, também, pela estranheza de seu uniforme, um agasalho (sob o calção!) que não lhe servia de tão pequeno e de tão revelador das canelas desabrigadas do frio. Ao chegarem os senhores da diretoria o desastre já tinha ocorrido. O placar, que inacreditavelmente fora de 1 a 1, agora expunha a equipe local a um ridículo 7 a 1. A causa do desengano nunca se soube. Houve quem dissesse que alguns dos atletas da nossa equipe tinham se excedido no remédio pro frio. Outros puseram a culpa no goleiro que, de repente, perdeu a figa da sorte e caiu na desgraça.

Resta pensar que se naquela época fazer uma partida de qualquer esporte contra uma equipe de Alfenas ou de Machado já era uma honra, pode-se imaginar a satisfação dos meninos do Ideal Clube ao enfrentar equipes estrangeiras, como as da Califórnia ou a da Austrália, visitante de poucos anos atrás. É assim que percebemos como que os privilégios do mundo globalizado de hoje têm suas vantagens sobre as limitações e provincianismo de ontem. Não nos esqueçamos, porém, que as noites frias da era das olimpíadas de Paraguaçu ainda não tiveram rivais à altura: com ou sem lavada no placar, nós atletas e nós torcedores sempre ganhávamos em termos de diversão e aprimoramento técnico, com muito ou nada de remédio pro frio.

6 comentários:

rose marinho prado disse...

Mas nos anos 1970 havia uns bailes bem bacanas. O Baile do Dia 6..Nossa! Eu devia ter uns 15 anos, ia e ficava quieta numa mesa , morrendo de medo das multidões. Mas a música era boa.

O Democrata eu nunca fui. Porque ia pouco a Paraguaçu. Morei - infelizmente em São Paulo - queria ter crescido na minha cidade.

O que me assombrava no bom sentido é que, nos anos 80 , eu ia sozinha ou com amigos nos cafundós da cidade. Cheguei a ouvir grupos de violeiros sensacionais. Mas acho que não existem mais. Em 1997 morei em Paraguaçu , um único ano, nada vi. A turma do Tchan meio reproduzida...essas coisas.
Uma noite, vindo duma academia passei à frente duma casinha, um boteco, bem escuro. Juro que parei e quase me pus de joelhos. Ouvi, eram os cantadores antigos, existem , Dario, mas por pouco tempo?
E o futebol? É lá comigo este assunto ? Parabéns ao ideal e a seu filho que cantou o hino americano. No mais, nada entendo.
Saudações

Ixima disse...

Ler suas cronicas é sempre um momento de prazer!

Me divirto e aprendo muito com as histórias que vc conta de forma tão facil pros olhos e pro coração.

Apesar do distanciamento das gerações, das culturas e das tecnologias, não há nada
como os esportes para reunir meninos e meninas e garantir sempre uma grand diversão! Foi pra vc em sua época, e é para seu filho hoje! E com tantas
coisas negativas que os jovens são expostosa todo momento, ao ler sua
cronica, vi que a dedicação de uma mulher fez com que muito mais do que os 14 jovens que ela trouxe puderam ter uma experiencia de alegria totalmente saudável! Quantas vezes reclamamos que nossos filhos não saem da frente dos computadores ou tv, mas também não tomamos atitudes de promover eventos.

Outra coisa é pensar nas grandes diferenças destas nossas gerações. Imagine se esses meninos dariam bola para um sr. que pedisse respeito aos seus 60 anos! E se algum deles iria ter coragem de sair de casa, quanto mais
entrar em uma quadra de um jogo tão importante, com uma calça toda
agarradinha e "pega frango"? Só vc mesmo, meu Issimo, pra fazer isso! Acho que queria chamar a atenção das moças! rsrsrsrsrs

E acho que vc tem razão; em noites muito frias,não só nas Olimpíadas de Paraguaçu, a reunião de pessoas para uma diversão saudável é sempre muito bom!!! As vezes com um remedinho pro frio é ainda melhor, né?!!! Bjs.

Carla disse...

De fato, o tempo passa e as gerações mudam. Mas o esporte não deixe nunca de ser uma forma de diversão e união das pessoas. Lembro-me muito bem de quando passávamos as férias de Julho em Paraguaçu e íamos no clube ver as olimpíadas. Era uma tradição ir ver o Azul x Amarelo. Acho que ainda hoje é assim, não sei.. De qualquer maneira, viva o esporte e as férias em Paraguaçu!!! Beijos, Cacá.

Nina disse...

Ô meu irmão um episodio como este que vc presenciou foi mesmo inédito, imagino que emoção participar de um evento assim! E vc fêz uma retropesctiva muito interessante, afinal o meu irmão foi sempre um amante dos esportes! Parabéns por mais este documentário digno de nota! Abraçao da Nina

Tuka disse...

Oi querido,

Obrigado pela cronica, como sempre bem interessante.

Grande abraco,

Tuka

Maristela disse...

Ei, Darinho--
Legal a cronica. Me fez recordar otimas noites la no Clube! Bjs

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