Dário Borim Jr.
Ensaios e crônicas em português ou inglês sobre artes, literatura, viagens, e o cotidiano na Nova Inglaterra. // Personal essays and crônicas in Portuguese or English about art, literature, travel & day-to-day in New England.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Sem o Sam
Dário Borim Jr.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013
A Descontração da Noite e a Magia das Artes
A descontração da noite e a magia das artes
Dário Borim Jr.
Dentro do universo das
redes que existem entre artistas e amantes da arte, no sentido mais amplo da
palavra, incluindo as artes plásticas, performáticas e literárias, os eventos
culturais programados para acontecer regularmente nos jogam sementes de um
promissor porvir. Eles nos inspiram, fomentam pontes no tempo e no espaço que
transformam as vidas das pessoas, ou pelo menos nos ofecerem entretenimento
estético e razão para repensar nossa existência além da rotina, conforto e
banalidade do dia-a-dia.
Não moro em Nova York, Paris, Londres ou Rio de Janeiro, mas a 10
minutos de carro da minha casa se encontra o centro histórico de uma cidade que
nem é exatamente a cidade em que resido: New Bedford, Massachusetts. E a
comunidade artística de New Bedford, que já foi uma das cidades mais ricas do
mundo por conta da caça às baleias, no século XIX, conseguiu uma belíssima
façanha: a Aha Night, ou Noite do Auê, que se realiza na segunda quinta-feira
de cada mês. Os bares e restaurantes oferecem música ao vivo e cardápios
especiais, e as galerias de arte (que são muitas) abrem novas exibições.
Música, dança, brincadeiras para as crianças, e oficinas de arte e artesanato
ocupam as ruas de pedra rodeadas de lanternas coloniais e arquitetura charmosa
de um tempo em que o dinheiro abundante fazia muita diferença naquela paisagem
urbana.
Na última quinta-feira, na Aha Night deste mês de outubro,
encontrava-me com dois amigos que conheci quase que exatamente um ano atrás. Em
outra edição da Aha Night, em noite memorável, eu fizera minha estreia como
fotógrafo em uma exposição coletiva denominada Postcards from New Bedford.
Entre os visitantes, lá estavam Don Burton e Leila Kaas – ele, artista-cineasta
americano, ela, professora-jornalista carioca. Apresentaram-se a mim e em pouco
tempo nos sentíamos amigos. É que além da empatia e simpatia instantâneas que
cada um parecida notar no outro, eles chegavam da Califórnia (onde moraram
vários anos) com um recado de um amigo brasileiro que tínhamos em comum em Los
Angeles, Sérgio Mielniczenko, o famoso radialista e attaché cultural
do Consulado do Brasil naquela Meca do cinema. Uma nova cadeia de afeições e
interesses artísticos em comum se criava rapidamente entre nós três.
Um ano mais tarde, Don, Leila e eu desfrutamos de mais uma noite
artística pelas ruas de New Bedford. Vimos belíssimas exposições no Museu de
New Bedford e ouvimos música clássica de violino e violão tocada por um trio
assentado em um sofá cercado de dois abajures, tudo posicionado no meio da rua.
Chegou a hora em que apenas Don e eu nos dirigimos a um pub onde uma banda de
seis músicos tocava uns velhos blues e alguns rocks de arrepiar. Conversamos
por mais de três horas, Don e eu, e não faltou assunto relacionado às artes e
às emoções da vida noturna, onde se encontram pessoas criativas e abertas para
a troca de histórias e ideias.
Papo vai, papo vem, falamos de literatura, e dali vieram
lembranças de outras noites culturais programadas que marcaram a minha vida. O
palco dessas memórias foi o Café-Teatro Sagarana, de Mariana, Minas Gerais.
Hoje ele é gerenciado por Ana Lana Gastelois, mas, naquela época, nos meus bons
tempos de professor da Universidade Federal de Ouro Preto, quem administrava a
casa era sua mãe, Magdalena Gastelois, professora de francês, escritora de
vários livros infantis, e mestre fundadora da famosa escola-piloto Picapau
Amarelo (1969), de Belo Horizonte.
Minha amiga do peito, Magdalena era uma figura inesquecível pelo
seu despojamento, sua coragem como inovadora do ensino de línguas estrangeiras
através do teatro. Ela se apaixonara por uma esplendorosa casa edificada em uma
fazenda da distante cidade de Campina (localizada no sudeste mineiro), e
resolveu comprá-la – sim, apenas a casa. Ocupou-se então de transplantá-la em dezenas
de viagens de caminhão, telha por telha, tijolo por tijolo, para um lote que
havia comprado na cidade de Mariana. Conseguiu. A charmosa casa já foi material
de reportagens em revistas de arquitetura. A parte onde funcionava o estábulo
da construção original Magdalena transformou em café-teatro, o Sagarana,
inaugurado em 1998 com mesas e cadeiras também num belo jardim em frente. Entre
outros eventos inesquecíveis, disse eu a Don, Magdalena e outros professores
ali realizavam semestralmente o Festival das Línguas, com peças de teatro
encenadas pelos alunos da UFOP em francês, grego, inglês, espanhol e italiano.
Também contei a meu amigo Don – nessa mais recente noite de Aha –
que no período em que trabalhei na UFOP, entre 1997 e 2000, havia sempre uma
programação cultural intensa programada para cada semana do ano letivo. Na
quarta-feira, uma noite de debates, com professores, alunos e representantes da
comunidade de Mariana e Ouro Preto. Na quinta, forró com diferentes bandas da
região. E, na sexta, dança livre.
Naqueles anos eu vivia uma certa esquizofrenia histórica ao ter um
pé assentado no fim do século XX, em Belo Horizonte, onde morava com minha
família, e outro pé no fim do século XVIII, naquela cidade barroca, onde as “noites”
às vezes duravam quase duas vezes mais tempo que os dias. Sob o luar e a luz
das estrelas, rodeado de prédios coloniais, flores e coqueiros, a diversão e a
troca de ideias eram intensas. Só mesmo acabavam no meio da madrugada. Eu não
queria perder nada daquilo. Por isso ocasionalmente eu ficava até o fim do expediente.
As consequências eram radicais para o corpo, mas fenomenais para a mente.
Certas vezes deixei o café-teatro pelas três e tanto da madrugada para ir
dormir num hotel onde eu residia por três dias a cada semana. Antes das sete
horas já tinha que estar de pé de novo. Tomava duas ou três xícaras de café e
saía cantando ou assobiando, quase que marchando, de tanta disposição para
trabalhar. Ainda, é claro, sob efeito da magia da noite, logo estaria em sala
de aula, onde possivelmente ministrava algumas de minhas melhores e mais
inspiradoras aulas ao discutir as obras de Blake, Dickinson, Hardy ou
Shakespeare.
Não se pode subestimar o prazer estético e o poder espiritual dos
eventos culturais do Café-Teatro Sagarana e do Aha Night, na barroca Mariana ou
na velha New Bedford, duas cidades históricas da minha própria história de
vida, assim como todos os outros eventos programados e incentivados pelas
comunidades dentro e fora das universidades. Se duvidarem, perguntem a meus
ex-alunos da UFOP, ou visitem New Bedford na segunda quinta-feira de cada mês. Como
dizia Hamlet a Horácio, “há mais coisas entre o céu e a terra do que podes
sonhar na tua vã filosofia”. Muitas dessas coisas podemos descobrir ao desligar a TV e o
computador para ir conviver um pouco mais sob a descontração da noite e a magia
das artes.
quinta-feira, 12 de setembro de 2013
O Poeta da Paixão em Oxford
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Mundo bipolar
segunda-feira, 3 de junho de 2013
Deus é Brasileiro e... Atleticano!
Muitas agências de notícia exploraram o mesmo tema. A BBC de Londres,
por exemplo, deu, no dia 20 de março, que a presidente Dilma Rousseff
“reagiu com bom humor” a uma pergunta de um jornalista argentino, quando ele
questionara a opinião dela sobre o fato de o novo papa ter nascido em Buenos
Aires. "Vocês, argentinos, têm muita sorte… o papa é argentino, mas
Deus é brasileiro", assim argumentou Rousseff em visita oficial ao
Vaticano.
Outras notícias vindas mais recentemente de Belo Horizonte vão além.
Deus não é apenas brasileiro: Deus é atleticano. Na pequena paróquia
de Nossa Senhora da Piedade, da comunidade de Piedade do Paraopeba, pertencente
ao município de Brumadinho, o carismático e genoroso padre Paulo
Eustáquio Cerceau Ibrahim incorporou uma trilha sonora bem especial aos ritos
sagrados da Festa do Divino: o hino do Galo! Sim, aquele mesmo, “Nós somos do
Clube Atlético Mineiro/ Jogamos com muita
raça e amor/ Vibramos com alegria
nas vitórias/ Clube Atlético Mineiro/ Galo Forte Vingador”.
Bem, convenhamos, aquele é um hino muito especial. Segundo o site oficial do clube belorizontino, www.atletico.com.br, o primeiro hino da associação vigorou entre os anos de 1928 e 1968, mas em 1969 a diretoria atleticana encomendou ao compositor Vicente Motta o "Hino ao Clube Atlético Mineiro". Segundo a mesma fonte de informação, este hino é idolatrado pela torcida de tal modo que se tornou o “mais cantado em estádios no Brasil”. Ainda de acordo com aquele portal, em 1976, em Nápolis, na Itália, houve um concurso mundial de hinos de clubes de futebol, e o do Galo foi o vencedor. Passou a ser considerado o mais belo entre todos os hinos de clubes de futebol do mundo.
Não sei se padre Paulo tem paixão especial pelo Hino do Galo, ou mesmo se outras vezes já pediu que a banda da paróquia o tocasse em pleno rito religioso. O fato é que, João Batista Vaz Xavier, um grande amigo meu, estava presente à procissão. Filmou o “fenômeno religioso-esportivo” e postou o vídeo em uma das maiores redes sociais electrônicas do planeta, o FaceBook. É também curioso que naquele mesmo domingo da Festa do Divino algo muito importante aconteceria no estádio do Mineirão, logo após a procissão: a partida decisiva a consagrar o campeão do estado de Minas Gerais de 2013.
Antes, um verdadeiro banquete popular -- com arroz,
feijão, frango assado, e muito mais -- foi servido aos fiéis. Conforme explica
Batista, o padre é uma espécie de Robin Hood por conseguir doações junto aos
ricos e oferecer comida e outras dádivas materiais aos pobres daquela região
montanhosa de Minas. Após a comilança, todos regressaram à igreja e assistiram
à missa que, coincidentemente, ocorreu enquanto jogavam Atlético e Cruzeiro em
Belo Horizonte. Acabada a missa, disse-me Batista, o padre, ainda do
púlpito, se despedia dos fiéis quando recebeu um sinal do sacristão: um gesto
muito conhecido, o polegar dizendo, “positivo”! Então padre Paulo não se
acanhou, “Meus caros, por último uma notícia que acabo de receber: a taça é
nossa!”
Esse “causo” mineiro eu ouvi, via Skype, na quarta-feira, dia 22 de maio, 2023, véspera de uma palestra que eu daria no Dartmouth College, uma bela e rica faculdade aqui nos Estados Unidos (do mesmo grupo da Harvard, chamado ivy league). O “causo” me levou a pensar nas teorias do famoso antropólogo carioca Roberto DaMatta. Acabei iniciando minha comunicação naquela escola aludindo ao tal “fenômeno” de mistura entre religião e futebol. Todos nós rimos muito. O professor paulistano Rofolfo Franconi, presente a minha palestra, me perguntou: “e os cruzeirenses, como se sentiram na procissão, e ainda ‘pior’, na igreja?”
Nos seus trabalhos acadêmicos DaMatta enfatiza vários aspectos que apontam para as particularidades do povo brasileiro. Como explica o antropólogo no seu livro O que faz o brasil, Brasil?, o brasileiro vive em um mundo de misturas de todo tipo, inclusive a mescla daquilo que é individual com o institucional, religião com esporte, o publico com o privado, o sério com o cômico, etc.
A dúvida do meu colega Franconi tem fundamento. As estatísticas poderiam confirmar, mas era mesmo muito provável que boa parte dos fãs do padre Paulo não torcesse para o Alvinegro. Eram fãs do Cruzeiro e, outros, do América ou de nenhuma equipe. A ética profissional -- ou clerical, como queiram -- foi para onde, nesse caso? Esse “sutil” desrespeito à diferença, às margens do mundo atleticano, teria alguma importância? Seria outra pitada de humor, como a da presidente no Vaticano? Seria apenas uma pequena e inefável loucura de um padre fanático? Ou seria um exemplo da enorme tolerância de quem não foi incluído na reza -- aliás, daqueles contra quem se fez a reza oficial?
Pois, assim, a paixão individual do padre de Piedade do Paraopeba não se separou do seu poder eclesiástico. Ela se incorporou no rito institucional que ele administrava, com fé e formalidade, e se fez valer, a revelia da anti-paixão de cruzeirenses e americanos. De modo semelhante, a presidente do Brasil fez galhofa da superioridade do povo brasileiro sobre o argentino. Afinal de contas, em termos de poder, a figura do papa está bem abaixo daquela de um Deus, mesmo que brasileiro –principalmente quando temos um tipo de papa que já disse que pecou muitas vezes e que os ateus também podem ascender aos céus.
Como vimos, para o deleite de muitos mineiros, tal
Deus também é atleticano de carteirinha. Será que foi com ajuda divina que o
goleiro atleticano Vítor Leandro Bagy defendeu um pênalti decisivo, nos últimos
segundos de um jogo tão importante como o da Copa Libertores da América na
quarta-feira passada? Apenas na manhã seguinte o heroi recebeu mais de 20
solicitações de entrevistas. “O Atlético não
poderia ter saído da competição daquela forma. Foi também uma justiça de Deus
pelo trabalho que estamos fazendo, por nossa postura”, disse o jogador ao
jornal Estado de Minas.
Confirmando a tendência do brasileiro a mesclar o divino com o prosaico -- mundos da mesma moeda que, segundo DaMatta, “se relacionam de modo complexo e simultâneo” – o goleiro ainda declarou ao mesmo jornal que após o jogo, ao chegar ao condomínio em que mora, viu uma faixa no portão, que, apesar de bem simples, o tocou forte no coração: “Muito obrigado, São Victor”. Amém!
domingo, 19 de maio de 2013
A Crônica no Século XXI
Profs. Perrone, Bianconi & Borim - Foto de Marcelo Bianconi |
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