sábado, 22 de agosto de 2009

Remédio para o Frio


Remédio para o Frio

[Dir. tec. Seydina, natural do Senegal, e jogadores do CVU e do IC]

Então o futsal de Paraguaçu se fez internacional mais uma vez em julho de 2009. No seu ginásio poliesportivo, o Ideal Clube recebeu a visita de um forte time de Los Angeles, Califórnia, com jovens de 14 a 16 anos: o CVU (Conejo Valley United). Em duas noites memoráveis para muitos de nós presentes, assisti com intenso interesse a quatro partidas, três das quais vencidas pelos norte-americanos, e a última, pelos brasileiros. Para o técnico do Ideal Clube, meu amigo Sílvio Seppini, o resultado negativo para as equipes de Paraguaçu se deveu a menor idade média de seus jogadores. Ele pode ter razão, mas, para mim, aquilo foi de qualquer modo uma experiência jamais vivida: jogos entre equipes de duas nações em minha pequena cidade. Além do mais, tive a chance de ouvir meu próprio filho, Ian, que de microfone na mão serviu ao evento como tradutor-intérprete no momento em que discursaram Sílvio, diretor de esportes do Ideal Clube, e Ângela Silva Santos, a presidente. Ian também colaborou para o brilho do evento ao liderar a interpretação a cappella do hino nacional dos Estados Unidos.

Nas arquibancadas, eu me assentava perto de Maristela Dunn, mãe entusiasmada de dois craques em campo, Christopher e Brian. Ela e eu temos as mesmas condições de expatriados e de pais de filhos com cidadanias duplas. Uma pessoa de invejável disposição e criatividade, Maristela era a grande responsável pela realização daquele evento esportivo, assim como a de tantos outros eventos turísticos e culturais dos quais 14 meninos californianos desfrutaram em Paraguaçu, cidades vizinhas, e Bertioga, uma cidade praiana paulista onde os garotos trocaram as bolas pelas ondas tropicais.

Assistindo àqueles jogos no ginásio do Clube não deixei de pensar nos velhos tempos, quando a nova sede do Ideal dava os primeiros passos e nem piscina ali havia. Só tínhamos uma quadra externa e esta era controlada pelo sr. Neném Órfão. Bons tempos aqueles em que um pequeno caso de mau comportamento de um dos meninos levava o sr. Neném a clamar, “Respeitem meus 60 anos, meus rapazes”. Nostalgia por nostalgia, para mim nada é melhor que relembrar a época das grandes olimpíadas dos anos 70, quando mais de uma dezena de cidades do Sul de Minas aqui vinham para competir. Era tempo de fazer muito frio em Paraguaçu – o que criava mais uma justificativa para se tomar uma pequena dose de conhaque antes de entrar nas quadras.

Também gosto de relembrar uma noite em que nossa equipe de handebol jogava muito bem contra a equipe representando a cidade de Lavras, considerada a melhor do certame. Eu era o goleiro do Ideal Clube e de alguma forma fazia milagres impedindo uma esperada lavada sobre a nossa fraca equipe. Houve então o momento em que foram chamar as autoridades do Ideal para presenciar aquele fenômeno. Segundo as más línguas, o goleiro se fazia notar não apenas pelas suas magistrais defesas, mas, também, pela estranheza de seu uniforme, um agasalho (sob o calção!) que não lhe servia de tão pequeno e de tão revelador das canelas desabrigadas do frio.

 

Ao chegarem os senhores da diretoria, o desastre já tinha ocorrido. O placar, que inacreditavelmente fora de 1 a 1 na primeira etapa, agora expunha a equipe local a um ridículo 7 a 1. A causa do desengano nunca se soube. Houve quem dissesse que alguns dos atletas da nossa equipe tinham se excedido no remédio para o frio. Outros puseram a culpa no goleiro que, de repente, perdeu a figa da sorte e caiu na desgraça.

Resta pensar que, se naquela época fazer uma partida de qualquer esporte contra uma equipe de Alfenas ou de Machado já era uma honra, pode-se imaginar a satisfação dos meninos do Ideal Clube ao enfrentar equipes estrangeiras, como as da Califórnia ou a da Austrália, equipe visitante que tivemos em quadra de poucos anos atrás. É assim que percebemos como que os privilégios do mundo globalizado de hoje têm suas vantagens sobre as limitações e provincianismo de ontem. Não nos esqueçamos, porém, que as noites frias da era das olimpíadas de Paraguaçu ainda não tiveram rivais à altura: com ou sem lavada no placar, nós atletas e nós torcedores sempre ganhávamos em termos de diversão e aprimoramento técnico, com muito ou nada de remédio para o frio.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O kaol é nosso

O kaol é nosso

Dário Borim Jr
dborim@umassd.edu


Quem diria que Paraguaçu também dá compositor, radialista e agente cultural de renome nacional? E quem diria que um de nós batizou o mais famoso PF (prato feito) de Belo Horizonte, o kaol? Quem me disse isso foi o Dr. José Côdo, meu caro cunhado, um amante de todas as coisas de Minas Gerais, mas principalmente as de Ubá, onde nasceu, de Belo Horizonte, seu segundo berço, e de Paraguaçu, pela qual também nutre especial afeição. Zé Côdo outro dia me falava todo entusiasmado desse tal de Rômulo Coimbra Tavares Paes (1918-1982), ou “o Lupicínio Rodrigues de Belo Horizonte”, como o chamava o compositor Gervásio Horta. Noventa e um anos atrás, Rômulo Paes não nascera na capital do Estado, mas, sim, na princesinha do Sul de Minas. Era então o dia da graça de 27 de julho de 1918.

Já passou da hora, pois, de sabermos todos que um paraguaçuense tem um monumento em sua homenagem em plena região nobre do centro de Belo Horizonte, exatamente na avenida Álvares Cabral junto à esquina com a rua da Bahia. Em minha mais recente viagem ao Brasil tive a oportunidade de visitar o monumento doado pela Usiminas à Prefeitura de Belo Horizonte em junho de 1995. Nele uma placa de bronze declara que, natural de Paraguaçu, Rômulo Paes “teve importante presença na vida cultural da cidade”.

Há poucas semanas homenageado em evento na Casa do Jornalista, Rômulo Paes representa um raro tipo de profissional, aquele ao mesmo tempo boêmio e empreendedor. Advogado, poeta, compositor, cantor, jornalista, radialista, produtor cultural, líder sindicalista, e também vereador da capital mineira, Paes fica na história como um grande freqüentador da noite belorizontina, especialmente das casas noturnas e cafés estabelecidos em eixos que atravessam o centro, desde o local do seu monumento até os bares da Lagoinha, e do Mercado Central até as imediações do bairro da Floresta. Durante aquela sessão solene foi lançado o disco Rômulo Paes e Coisas Mais, reunindo 14 canções de sua autoria interpretadas por vários músicos e cantores, inclusive Selma Carvalho, Helena Pena e o grupo Nós e Voz.

Na verdade as obras de Rômulo Paes, que incluem baião, foxtrot, marchinha, samba e toada, foram co-escritas por grandes nomes, como os de Adoniran Barbosa, Haroldo Lobo e Moreira da Silva, e gravadas por gente competente e famosa, como Dircinha Batista, Luiz Gonzaga e Orlando Silva. Tendo iniciado sua carreira de cantor de rádio em 1935, mais tarde Paes se tornaria diretor artístico da Rádio Guarani e diretor geral da Rádio Mineira, tendo lançado artistas de destaque, como Dalva de Oliveira. Alguns dos seus maiores sucessos, registrados na história da música popular brasileira, são as marchas “Já comi, já bebi”, “Galinha carijó”, e “Minha Belo Horizonte”, de 1957; e “Rua da Bahia,” lançada no Carnaval de 1962.

Paes ficou famoso por outro tipo de criação. Em reportagem publicada pelo jornal Estado de Minas (edição de 30 de maio, 2009, p. 20), Arnaldo Viana discorre sobre a história do famoso prato feito de Belo Horizonte, o “kaol”, iguaria lançada por um tradicional bar-restaurante, o Café Palhares, situado no número 638 da rua Tupinambás. Pois então, paraguaçuenses que moram ou visitam Belo Horizonte e que também queiram comer um kaol, como eu mesmo o fiz várias vezes lá pelos anos 70 e 80 afora: nosso conterrâneo está no centro desta criação culinária de 1950.

Assim narra Viana: “Sentado ao balcão, Rômulo Paes degustou o prato de arroz, ovo e lingüiça, que, para a maioria da freguesia, ganhava mais sabor se fosse precedido de uma pinguinha. […] E o poeta, compositor etc. etc. propôs ao João [Ferreira, dono-fundador do Café Palhares] batizar a singela iguaria: ‘Vamos lá: cachaça, arroz, ovo e lingüiça. Então vamos chamá-lo de kaol’, disse o multicultural Rômulo Paes. O ‘k’ entrou na pia batismal para dar certa nobreza ao prato, mas nem precisava. A nobreza, no caso, estava na simplicidade. E isso ninguém consegue explicar”.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Vida de artista


Dário Borim Jr.
A noite de cinco de junho foi muito especial, por vários motivos. Ocorria uma vernissage de belas obras de escultura e pintura. Quem expunha era uma artista russo-americana nascida em Leningrado, Yelena Sheynin, uma loira engraçada, faladeira, risonha e emotiva. Tem cara de lua, como se fosse escandinava, e baixa estatura e muita energia, como se fosse italiana. Lá na galeria Colo Colo, de um amigo, o pintor chileno Luís Villanueva, fui comer queijo e tomar vinho de graça, rever os amigos e examinar os trabalhos.

Fiquei conhecendo o indivíduo mais alto entre todos os presentes, um senhor de cabelo ondulado, bem grisalho, e com aparência de artista. A harmonia das nossas cabeças foi imediata. Uma das primeiras coisas que conversamos foi sobre relações entre pais e filhos (de homem pra homem). Eu lhe perguntei se era pai. A resposta dele foi romanesca. Primeiro disse: “Que eu saiba, não”. Isso é normal homem dizer, porque quem sabe se de verdade tem ou não tem filho é a mulher, não é? Mas o que me pareceu curioso foi o seu complemento à resposta: “Mas não tenho certeza. Uma vez briguei com uma namorada, e depois disso nunca abri quatro ou cinco cartas que ela me mandou”.
Charles deixava assim um enorme mistério em torno do caso, como um romance (livro) que acaba com um final aberto a múltiplas interpretações. Ontem mesmo tive a oportunidade de reciclar esse diálogo, e ouvi gente incriminando o sujeito, já assumindo que a moça estivera grávida e que ele não teria tido coragem de assumir o filho. Acho que era arriscado demais ir tão longe e culpar o sujeito. Se um filho de fato tivesse nascido, a mãe provavelmente teria dado um jeito de achar o pai.

O gigante disse que estaria completando 70 anos em poucas semanas, e que já tivera uma vida cheia de aventuras. Morou por cinco anos na Alemanha, em Hiedelberg, e por 35 anos na Bélgica, em Bruxelas ou perto de Bruxelas. Viajou por quase todo o mundo, sempre procurando visitar os locais onde viveram grandes artistas e grandes escritores. Por exemplo, foi à Índia e lá alugou, por algumas semanas, a casa onde morou o escritor alemão Hermann Hesse ao escrever o livro Siddhartha. Charles falou que gostava de absorver a energia criativa que ficava impregnada nas paredes e nos ares dessas casas. Nossa conversa me fez recordar da casa onde morou a grande poeta americana Elizabeth Bishop, em Ouro Preto. Um amigo meu, o Lucas Magalhães, alugou essa moradia por uns tempos e lá passei uma agradável tarde. Li um poema entalhado no vidro de uma janela e também cheirei um pouco de poesia no ar.

Charles contou sobre os anos 70, época em que alugou por pouco dinheiro um castelo de dezoito cômodos na Bélgica. Disse que ninguém naqueles tempos queria morar no campo. Dava aulas de história da arte em Bruxelas e no verão alojava estudantes de universidades americanas naquele castelo. Pensei com meus botões, “eu também gostaria de ter esse tipo de negócio um dia”.
Depois falamos de correspondências. Charles afirmava que tinha todas as cartas que recebera num período de 30 anos! Eu lhe disse que tinha uma boa parte das cartas que recebera ao longo de toda a minha vida! Estão “arquivadas” para posteridade em três ou quatro sacos plásticos em Paraguaçu – um verdadeiro tesouro de minhas experiências de vida e daquelas de meus parentes e amigos. Além disso, eu venho guardando ao longo dos anos várias dezenas de fitas cassetes que recebera de namoradas, amigos, e família, gente conversando comigo. Jill, uma namorada que morava em Wiesbaden, na Alemanha, gravava as fitas nas ruas, nos parques da cidade, e até mesmo ao tomar banho numa banheira bem confortável.

Charles então confessou que andava gravando os roteiros de seus sonhos. Vem narrando essas experiências do subconsciente antes de esquecê-las. Achei excelente a idéia e me lembrei de uma fita cassete que escutei essa semana. Tem uma conversa de 90 minutos que 20 anos atrás eu tivera com Carlos, um astrólogo, sobre meu mapa astral e o de minha noiva, Ann, com quem me casaria um ano depois. Os mapas, incrivelmente acertados (e comprovados ao longo de duas décadas), foram presentes de minha irmã Silvana, uma interessante forma de preparação para o matrimônio. Em seguida falamos de instant messages e como as relações interpessoais haviam mudado radicalmente nessa era de torpedos, Skype, emails e tudo mais. Mas este é um assunto para outra crônica.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sabrina


Dário Borim Jr.
dborim@umassd.edu
A crônica de hoje é sobre uma jovem campeã, Sabrina Amaral Figueiredo — uma vencedora de múltiplas e penosas batalhas ao longo de seus dezoitos anos de idade. Nascida em New Bedford a 28 de agosto de 1990, Sabrina mudou-se aos nove anos para a cidade de Gouveia, região centro-norte de Portugal (Beira Alta). Em 2008 retornou aos Estados Unidos, e agora em maio, ao terminar seu primeiro ano de faculdade, foi convidada para nadar pela UMass Dartmouth. Aqui faz psicologia, mas certamente possui talentos para vários outros campos do saber, inclusive a matemática e a música clássica.

Logo após concluírem os últimos trabalhos do semestre, ela e sua mãe, Cecília, também aluna da nossa universidade (fazendo o Ph.D. em Estudos Luso-Afro-Brasileiros e Teoria), deram-me o prazer de uma entrevista de pouco mais de duas horas. Eu estava diante de duas mulheres de raríssima determinação e articulação verbal, de admirável beleza física, charme e entusiasmo. O que se fez totalmente inesquecível, porém, foi como eu às vezes nem podia acreditar naquela narrativa a duas vozes. Pelo exemplo que me davam, faziam-me renovar a fé na força do espírito humano, na enorme capacidade que temos para tolerar imensos desconfortos físicos, solidão, medo, e o arrastar do tempo antes e depois de nove cirurgias, em uma jornada de quase sete anos entre quatro paredes brancas de um hospital em Boston.
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Quando Sabrina tinha treze meses de idade, constatou-se o gigante desafio à espera de uma linda criança. Ela nascera aparentemente saudável e enorme (53 cm), com belíssimos olhos verdes. Soube-se então, mais tarde, que tinha um sério problema ortopédico. Ainda no útero da mãe, seu fêmur se deslocara por completo quando o feto tentava se mover. O osso chegou a se posicionar perto da axila direita do neném. Ela viera alegrar o lar de Cecília Amaral Figueiredo, portuguesa como a própria filha, e Eduardo Emanoel de Almeida Figueiredo, um brasileiro filho de portugueses temporariamente radicados no Rio de Janeiro.

Sabrina foi logo posta aos cuidados de uma equipe médica do mais alto gabarito, chefiada pelo Dr. Michael Goldberg, do Hospital Infantil da Universidade de Massachusetts Boston. A vida daquela menina jamais seria a mesma. Ela que não dava conta de andar por causa do deslocamento do osso da perna, passou por aquelas várias intervenções cirúrgicas (sete a laser) e ao método corretivo por tração conhecido como Sulzer. Foram muitos meses de desafios constantes, mas por boa parte desse período aquela criança destituída de uma vida comum (de convivência com amigas e liberdade de locomoção) era quem levantava a esperança das outras pessoas. Usava seu próprio nome ao invocar a paciência e a fé dos pais: “A Sabrina vai ficar boa”.

O fardo, entretanto, não era leve para ninguém. Se os pais viviam em tremendo estresse (seu pai até chegou a ser demitido do trabalho por se ausentar muitas vezes e fazer companhia à filha), Sabrina era forçada a esquecer o que era uma cama. Vivia esticada por cabos em posição vertical. Por causa da tensão e precisão necessárias para o esforço imposto ao osso, de modo que esse baixasse lentamente e se aproximasse dos quadris, Sabrina vivia fechada em um arcabouço de gesso que circundava seu corpo do tórax ao final das canelas. Todas as pessoas que já estiveram engessadas sabem do martírio que é ter uma parte do corpo imobilizada por esse material. Além das intensas coceiras, Sabrina sofreu com chagas que se abriam e tornavam sua condição ainda mais inóspita.

Um dia aquele sofrimento intenso foi se amenizando. Uma última e bem sucedida cirurgia, em 1997, retirou longos parafusos que ajudaram na rearticulação do fêmur à bacia. O pós-operatório, porém, não foi nada simples, já que um dos pontos internos se rompeu e a jovem de nove anos retornou ao hospital para lá permanecer por mais dois meses. Nessa fase de recuperação Sabrina já desenvolvera uma verdadeira fobia de médicos e todas as pessoas vestidas de branco. Adquirira, também, uma forte descrença nos adultos em geral, pois lhe prometiam a liberdade para viver sua vida de criança mas constantemente a retornavam ao hospital. Depois daquela recaída e providencial recuperação, não houve mais dúvida: Sabrina estava curada e sua infância se tornaria “normal” dali para frente.

No ano seguinte ela ganharia um irmãozinho, o Ricardo, e a família logo se mudaria para Gouveia, em Portugal. A menina Sabrina, “um nome brasileiro”, segundo a mãe, encontraria fortes barreiras na adaptação a um mundo desconhecido, aquele mundo exterior às paredes do hospital em Boston. Enquanto nos dormitórios daquela instituição ela só queria saber do requebrar de Michael Jackson na televisão, agora, em liberdade, mal se continha quando se via num parque: corria e pulava como uma louca. Na escola, falava demais, sem parar, e irritava as colegas e professoras.

Confinada naqueles anos anteriores de tratamento, Sabrina desenvolvera os sentidos mais intensamente que o normal. Por isso foi capaz de detectar o cheiro de bebida alcoólica e acusou uma de suas professoras de ir trabalhar intoxicada. Foi um escândalo, e não se acreditou na menina, mas tempos mais tarde se constatou que era verdade o que dizia Sabrina, e a professora dependente dos etílicos acabou sendo demitida. Na época de escola, Sabrina entrava em pânico quando tinha que ir ao dentista ou tomar vacinas. Por esse motivo os pais tiveram que solicitar permissão para que a jovem recebesse esses cuidados em ambientes especiais, distantes de enfermeiras vestidas de branco. A fobia e a revolta da jovem não eram nada superficiais ou desprezíveis.

A volta de Sabrina ao mundo exterior, ocorrida em um país diferente daquele no qual vivera até os oito anos, acarretou desafios de outros tipos, inclusive o lingüístico. Era capaz de falar o português muito bem, mas escrever nesse idioma era uma nova provação. No caminho teve o azar de encontrar uma professora que por ignorância ou antiamericanismo lhe disse várias vezes que ela, Sabrina, jamais seria capaz de acompanhar o ritmo da classe. Enganou-se redondamente: Sabrina terminou seu primeiro ano em escola portuguesa com as melhores notas da turma! Uma estratégia adotada pelos pais da menina dera resultado: nos Estados Unidos, falavam entre si o português, se estivessem em casa; e o inglês, quando estavam na rua. Em Portugal, simplesmente inverteram o paradigma, que mais uma vez funcionou muito bem.

Sabrina sempre se ajudou muito naquele processo de aquisição lingüística, entretanto. Era (e ainda é) uma voraz leitora. Em um mesmo Natal, por exemplo, já recebeu 11 livros de presente. Entre outras paixões, aproximou-se muito dos animais, e por isso dedicou especial atenção aos cursos de biologia no ensino básico e secundário. Filosofia, literatura portuguesa e psicologia foram outras matérias que muito a interessavam naqueles anos, mas ela também obteve grande desenvolvimento como pianista clássica.

Seguindo recomendação médica, a jovem luso-americana também deveria se interessar pela natação. Não deu outra, e através dela Sabrina se tornou muito popular no colégio. Até mesmo o nome, bastante raro em Portugal, agora a ajudava. Ela não era mais a “americana” que algumas colegas evitavam. Os pais estavam bem conscientes dos benefícios que esse esporte trazia a quem precisava fortalecer os músculos e por isso construíram uma piscina de 19 metros no quintal da sua casa, em Gouveia. Sabrina podia não apenas aprimorar sua forma física, mas também reunir muitos de seus amigos. Certa vez eram 40 os jovens que se deliciavam numa casa que se tornara o centro das atenções da vizinhança. Aquela menina com sérios problemas na perna direita se curou, batalhou pela sua plena recuperação e acabou sendo campeã regional e membro da equipe oficial de natação de seu país.

Tanto a força do acaso como a dedicação aos esportes e à formação de seu caráter ainda lhe trariam mais surpresas agradáveis antes de se mudar de novo para os Estados Unidos. Por causa de uma séria infecção virótica não diagnosticada por um bom tempo pelos médicos de Gouveia, Sabrina aos 16 anos de idade perdeu o gosto por comer e, conseqüentemente, muito peso. Foi sua sorte, pois se buscavam novas modelos em todo o país para um concurso de beleza e um desfile de moda que se realizariam em Lisboa. Dotada de belos traços físicos, além dos raros olhos verdes, Sabrina se saiu muito bem. Entre duas mil candidatas, ficou em terceiro lugar. Hoje, dois anos mais tarde, ela se destaca entre os alunos da nossa Universidade. Pelo visto, é somente o começo de uma nova fase na fascinante vida de uma pessoa cujos poderes de superação de infortúnios e outras barreiras servem-nos a todos como fonte de inspiração e motivo de orgulho por fazermos parte da mesma raça humana.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Brazilliance Teaches and Entertains its Audience


Brazilliance, on WUMD


Music and writing has been deeply intertwined throughout UMass Dartmouth Professor Dário Borim's 20-plus year career. Borim, chairperson of the Portuguese department, produces and hosts the live radio and Internet show, Brazilliance every Thursday from 3 p.m. to 6 p.m. on 89.3 FM and http://www.893wumd.org/.

Music and writing has been deeply intertwined throughout UMass Dartmouth Professor Dário Borim's 20-plus year career.Borim, chairperson of the Portuguese department, produces and hosts the live radio and Internet show, Brazilliance every Thursday from 3 p.m. to 6 p.m. on 89.3 FM and www.893.wumd.org. The program features an array of musical styles and education about the Portuguese-speaking communities of Brazil, Cape Verde, Mozambique, Portugal and southeastern Massachusetts.

During its seven year run, Brazilliance has attracted not only a local devoted audience but also listeners across the United States and in foreign countries like Brazil, Chile and Spain."Making this show has been one of my greatest dreams come true," Borim said. "Brazilliance now means the world to me. It's the best way I've found to stay in touch with my cultural roots and the music I love the most."

Borim first started thinking about sharing music and poetry through live broadcasting in 1997 when he taught as a college professor in Brazil. He helped to establish a new radio station at the Federal University of Ouro Preto, but left to accept the position at UMass Dartmouth prior to launching his own show.For more than 20 years, Borim has been researching and teaching courses about the thematic and theoretical interfaces of literature and music.

Listeners of Brazilliance hear a range of traditional and progressive music such as bossa nova, choro, fado, morna, samba and various types of instrumental genres. In addition, the music is occasionally combined with short talks, critical commentaries and contextual information, some of which complement his graduate courses in literature and other cultural representations. Using this unique forum, Borim enhances the benefits of a typical in-class approach. When he taught a graduate class in 19th century literature approximately two years ago, music was taken as a central theme in novels and short stories. Students understood and appreciated that literature by listening to the course's "soundtrack," which was broadcast live on WUMD and recorded on compact discs for further dissemination. A few libraries in this country and in Europe hold these discs.

Borim, a native of Paraguaçu, Minas Gerais (a state in southeastern Brazil), has published widely on music themes in books and academic journals. He runs a blog of essays www.drborim.blogspot.com devoted to the mingling of music issues and day-to-day affairs and has organized numerous concerts at UMass Dartmouth featuring Lusophone artists from around the globe. Occasionally, guest artists appear on Brazilliance to discuss their work and share their professional journeys.The latest special edition of Brazilliance celebrated Women's Month by playing and educating listeners about one hundred years of women's songwriting in Brazil. In June and July, Borim plans programs on music written by Cape Verdeans living abroad as well as a show on Brazil's legendary singer-songwriter Caetano Veloso.

For more information about Brazilliance, contact its host at dborim@umassd.edu.

Author: John Hoey
Date: April 30, 2009
This page's original location: http://www.umassd.edu/communications/articles/showarticles.cfm
An Official UMass Dartmouth Web Page/Publication. © 2008 Board of Trustees of the University of Massachusetts. University of Massachusetts Dartmouth • 285 Old Westport Road • North Dartmouth, MA 02747-2300

domingo, 3 de maio de 2009

Ondas





Dário Borim Jr.

dborim@umassd.edu

A vida flue em variadas ondas: as de momentos difíceis, tais como aqueles criados por doenças, saudades e falecimentos; e as de momentos bons, como os de nascimentos, reencontros e casamentos. Essa última onda foi a que me levou ao Brasil no fim-de-semana passado. Meu sobrinho Alexandre e sua noiva, Bruna, se empenharam ao máximo e produziram um casamento-espetáculo dos mais memoráveis. O único expatriado da família não podia perder esse evento, e por isso organizou seus afazeres e conta bancária de modo a acomodar a extravagância de uma viagem-relâmpago ao outro lado do globo.

No caminho de ida, na quinta-feira, eu tive que lidar com o enorme estresse de chegar tarde ao aeroporto para embarcar. Não foi bem culpa minha. Os estacionamentos estavam lotados e a companhia aérea antecipou o horário de partida sem me avisar. Por um triz não me dei mal. Mesmo que tenha sido quase no último minuto, ainda consegui sair de viagem como era necessário para não perder as próximas conexões.

Em Belo Horizonte, tudo conspirava a favor de um casamento maravilhoso: tempo bom, a família toda bem disposta, e o reencontro com velhos amigos. Numa capela do condomínio Retiro das Pedras, Alexandre e Bruna foram unidos em matrimônio religioso sob os raios multicoloridos de um belíssimo pôr-do-sol iluminando a enorme parede de vidro atrás do altar. Os pombinhos programaram várias surpresas: homem vestido de anjo, palhaço, malabarista e sanfoneiro. O melhor da festa ficou por conta dos noivos sapecando uma dança bem coreografada ao som de “Sweetheart of Mine”, uma valsa cujo arranjo combinava linguagens e artistas do chorinho carioca e do jazz de Nova Orleãs.

Depois de múltiplas conversas com parentes e amigos, repetidas doses de uísque, e incansáveis danças, o casamento virou lembrança. Antes que meu fim-de-semana internacional se acabasse por completo, porém, outras ondas chegariam. No vôo de domingo à noite entre o Rio de Janeiro e Nova Iorque pude ajudar uma mocinha a não desmaiar. Karina, sentada na janela ao meu lado, era lutadora de Jiu-Jitso, uma carioca de uns 18 anos. Estava com o joelho esquerdo contundido e enfaixado. Tinha uma cachorrinha vira-lata pretinha e peluda, a tal de Sininho, resguardada embaixo do banco da frente. Sininho recebeu longos cafunés da sua dona, durante quase toda a viagem, e não a ouvi latir uma só vez.

Conversamos muito pouco. Eu curtia a leitura de um belo e estranho romance, Coiote, de Roberto Freire, quando, a certo momento, Karina pediu que chamasse os comissários. Estava passando mal e suando frio. Pus a mão na sua testa e suspeitei que estivesse mesmo com pressão baixa. Os comissários vieram e comecei a abanar seu rosto enquanto um deles passava um paninho gelado no pescoço e no tórax. Fiz-lhe umas perguntas e ela disse que aquilo era hipoglicemia, mas que não era diabética. Fui atrás de um copo de coca-cola. Ela foi melhorando aos poucos. Karina agradeceu minha ajuda, e eu lhe disse, com convicção, para acalmá-la: "Estou aqui pra te ajudar". Reagiu bem ao açúcar. Fiquei pensando como não deveria ser fácil depender da ajuda de estranhos, uma observação que certa vez ouvi de Janis Joplin.

Por coincidência, outro sério problema de joelho me esperava em casa. Meu filho mais velho, Ian, sofrera uma colisão traumática numa partida de futebol e corria risco de ter que fazer cirurgia e ficar fora dos gramados por quase seis meses, o que seria uma mini-tragédia para esse aficionado do esporte das multidões. Ele tinha acabado de chegar de uma fascinante viagem de ônibus a Nova Orleãs, com mais 44 jovens, onde trabalhara na construção de casas para os menos favorecidos. Naquela viagem de 10 dias, Ian fora eleito o “príncipe da caravana” pelas garotas adolescentes. Segundo disseram os professores responsáveis pela jornada, ele foi o trabalhador mais entusiasmado do grupo. Tudo transcorrera às mil maravilhas até voltar às suas atividades em Dartmouth, onde moramos. A vida tem desses revezes: o pico do sucesso muitas vezes é seguido de uma queda vertiginosa ao fundo do posso.

Assim foi a história de mais um fim-de-semana inusitado para mim e muitas outras pessoas, inclusive Alexandre e Bruna. O mundo pós-moderno e globalizado tem dessas coisas: a canção de maior destaque no seu casamento foi uma composição de Jelly Roll Morton interpretada por Tom McDermott, a quem eu assistira ao vivo no clube Donna, de Nova Orleãs. O seu disco, Choros do norte, a mim oferecido pelo próprio exímio pianista, eu levara ao Brasil para compartilhá-lo com José Codo, meu cunhado apaixonado por música melódica e romântica. Dessa exportação de um tesouro de Nova Orleãs altamente influenciado pelo chorinho do Rio de Janeiro veio a escolha musical dos noivos. Por coincidência, meu filho voltava daquela outra “cidade maravilhosa”, às margens do delta do Mississipi, quando, em Belo Horizonte, um belo casamento transcorria ao som de um grande artista da incomparável cidade franco-americana.

Sem despachar mala alguma, eu chegara ao Brasil para aquela cerimônia de matrimônio, e de Belo Horizonte voltei com uma senhora bagagem de recordações: aventura, enternecimento, e orgulho do meu primogênito, principalmente. Estava, pois, um tanto mais feliz e mais forte para lidar com os desafios, dores e preocupações de pai, num cotidiano de muitas ondas, sem aviso prévio e sem trégua.

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domingo, 12 de abril de 2009

Sem espelho

Dário Borim Jr dborim@umassd.edu 

 Acabo de reler uma das mais pungentes narrativas que já encontrei nos últimos anos: "Narciso em férias”. É um conto autobiográfico de Caetano Veloso, uma jóia rara "escondida" em forma de capítulo de livro nas páginas centrais de seu enorme volume, Verdade tropical (Companhia das Letras, 1997). 

Lá se vê maravilhosamente a questão do "eu" (ou ego) em relação ao "corpo" do indivíduo. O "eu" está dentro ou fora do corpo? É o corpo parte do nosso próprio "eu"? Mas e se o corpo “desaparecer”, isto é, e se você deixar de percebê-lo? Nós, nessas circunstâncias, morremos? Enlouquecemos? E se, profundamente deprimido, você não conseguir nem chorar? E se não conseguir se onanizar? E se o corpo secar os dois fluidos humanos mais intimamente ligados à emoção, os do choro e do gozo, que não têm nada ou têm muito pouco em comum com os outros líquidos e excreções humanos, como a urina, a saliva, o suor, as fezes, as acnes, e as melecas — tudo isso é sinal barato de vida. 

Os grandes baratos do corpo são, de fato, os outros líquidos (um deles nem tão líquido): os líquidos do choro e do orgasmo. Mas, e se eles sumiram de você, e se você se sentir totalmente seco? E se você não se lembrar — como não se lembrou, Caetano — de ter escovado os dentes em dois meses? Este questionamento está todo lá, em “Narciso em férias”, um texto orientado por uma múltipla perspectiva diante das lembranças e dos traumas de uma experiência-limite: os dois meses em que Caetano Veloso passou em diferentes celas da Ditadura Militar, no Rio de Janeiro, entre dezembro de 1968 e fevereiro de 1969. 

A voz que narra e reflete sobre aquela desumana desventura legitimada pelo AI-5 se constrói ao mesmo tempo filosófica, biológica, psicológica, semiótica, e acima de tudo, confessional, questionadora de preconceitos e da distância entre o "eu" vivido, o "eu" que escreve, e o "eu" que lê aquele texto. Sob a gentil custódia da Polícia do Exército, o cantor-compositor baiano permaneceu detido durante duas semanas em uma cela solitária tão minúscula que ele era capaz de pôr as costas contra uma parede e tocar a outra em frente com seus pés. O silêncio e a solidão, o medo e a humilhação, a incompreensão do que se passava e do que estaria por vir — aquilo tudo lhe causava um processo de estranhamento que o levou a um tipo de loucura temporária. Por ora desacreditava em si mesmo (já que seu corpo se afastava de sua percepção) e em sua existência (pois a própria vida se tornara absurda, insípida, surda e muda). 

No entanto, pondera o narrador, “que benção que seria não apenas poder ser arrebatado pela tristeza ou pelo prazer mas também — e talvez principalmente — ter a experiência física das lágrimas ou de uma ejaculação!” (362). Restava ao presidiário político de apenas 26 anos uma forma de esperança. Parecia-lhe que poderia ser “salvo do horror a que fora submetido” se sentisse jorrar dele esses líquidos “que parecem materializar-se a partir de uma intensificação momentânea mas demasiada da vida do espírito” (362). Para o memorialista, o pranto e a ejaculação são “vivenciados como um transbordamento da alma quando esta a um tempo se adensa e se expande, paradoxo interdito à matéria” (362). “Narciso em férias” confirma certa percepção da condição humana explicada pelo psicanalista Jacques Lacan: o ego é basicamente um objeto, uma projeção artificial de subjetividade que se apóia nas imagens visuais que o indivíduo confronta no dia a dia, e nosso corpo faz parte desse cenário ao sentirmos que tem vida sob a pele e ao olharmos para ele diretamente ou através de um espelho. 

Além disso, nosso ego é intrinsecamente dependente do olhar de outras pessoas sobre nós: elas criam importantíssimas imagens para aquele mesmo cenário que compõe quem nós somos. Na companhia de outras pessoas vemos nos seus olhares um jogo de espelhos que nos reflete. Se esses olhares não existirem mais, e nem sequer existir um espelho onde nos vejamos sem intermediação alheia, tendemos a perder a auto-imagem e o auto-respeito. Se aquela rotina de nunca ver ninguém era um fato que contribuía decisivamente para Caetano adquirir uma impressão de perda do “eu”, o escritor destaca outra limitação. Ela se perpetuou por todo o período de prisão, intensificando tal impressão: “não ter acesso a espelhos” (359). Era como se o corpo lhe tivesse sido abandonado de verdade, e a falta de um espelho condenasse Narciso (ele, Caetano, metaforicamente) à morte, a uma morte em horror e suspense, em meio a uma esquisita mescla de descaso e desespero. O narrador explica: “comecei a procurar por mim mesmo na pessoa que dormia e acordava no chão daquele lugar odioso cuja imutabilidade impunha-se como prova de que não havia — nunca houvera — outros lugares” (359). 

A letargia se tornara uma forma de fuga para Caetano naquelas longas semanas no cárcere, mas dela ele se afastava em certos dias de visita. Era quando surgiam no ar a voz e o choro de sua esposa, Andréa (Dedé) Gadelha, com quem estava casado há pouco mais de um ano, tentando obter o direito a uma conversa com o marido. Ouvir-lhe a voz sem poder ver-lhe o rosto, tocar-lhe a pele ou lhe dar resposta era para ele “uma experiência dilacerante” (377). Sem ser capaz de tirá-lo totalmente do estado de loucura a que fora levado, afirma Caetano, “aquela voz, vinda do passado remoto e inconvincente” que ele guardava na memória, ainda tinha o poder de enternecê-lo (377). 

Era um limitado retorno do ego despedaçado, que deixava sua tocaia. O enternecimento desequilibrava a letargia, onde normalmente se escondia. A cada tentativa de visita de Dedé, Caetano temporariamente se ressuscitava, sentindo o “ímpeto de abraçar e beijar, cheio de gratidão” aquela mulher que era a “fonte de todo o bem possível” (377). Mal sabia ele que ela estava tão próxima, apenas uma parede separando-os, e que ela jamais desistiria de pleitear até lhe conseguir melhores condições de vida naquela prisão, inclusive sua providencial saída da cela solitária. Andréa Gadelha salvou assim, por um triz, o corpo, a alma e a mente de quem se tornaria um dos maiores artistas e pensadores que o Brasil já viu.

Mirem-se nas cenas de Atenas

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