quinta-feira, 24 de junho de 2010

Copas do Mundo


Minha irmã Silvana, uma das duas psicólogas da família, me diz que ela e eu temos uma característica em comum: um “eu comunitário”. Já ouviram falar? A gente sente pelos outros, às vezes até antes deles próprios. Somos esponjinhas dos sentimentos alheios e, por extensão, dos sentimentos das massas, que podem ser bem mais que “90 milhões em ação, salve a seleção”. Parece incrível, mas a população do Brasil dobrou desde a Copa do Mundo de 1970. Essa a primeira a que assisti, por já ter idade, quase 11 anos, e por ter sido ela a primeira Copa do Minha irmã Silvana, uma das duas psicólogas da família, me diz que ela e eu temos uma característica em comum: um “eu comunitário”. Já ouviram falar? A gente sente pelos outros, às até antes deles próprios. Somos esponjinhas dos sentimentos alheios e, por extensão, dos sentimentos das massas, que podem ser bem mais que “90 milhões em ação” do grito musical de “salve a seleção” lançado em 1970. Parece incrível, mas a população do Brasil mais que dobrou desde a Copa do Mundo daquele ano, no México. Aquela copa foi  a primeira a que assisti, por já ter mais idade para compreender o drama nacional naqueles eventos (quase 11 anos), e por ter sido ela a primeira Copa do Mundo mostrada pela TV brasileira em tempo real! Nesses últimos quarenta anos, incluindo o sucesso tupiniquim em junho de 1970, vencemos três das dez Copas do Mundo que entraram para a história. Agora, na África do Sul, repte-se o drama: queremos a todo custo ser novamente campeões.

Não vi nenhuma estatística a respeito, por isso não sei qual é a parcela da humanidade que tem essa característica de personalidade, o tal “eu comunitário”. Não importa! Vocês todos que estão lendo esta crônica devem ter algo parecido, se por acaso ficam arrepiados ao ouvir o hino nacional na hora do jogo. Ou se sentem vontade de abraçar e pular com estranhos na hora de um gol do Brasil. O fato é que, para quem tem um “eu comunitário” e também para quem não o tem, as Copas do Mundo separam épocas das nossas vidas e fincam profundas marcas tanto nas nossas mentes individuais como nas nossas lembranças familiares, comunitárias, nacionais ou mesmo transnacionais.


Daquela minha primeira Copa pela TV, por exemplo, ficou a lembrança de dois tios. Um deles, Dagoberto Pereira, me fez entender como que as emoções de um jogo podem ser pesadas demais para certas pessoas. Ele ficava caminhando nas ruas do quarteirão em volta da nossa casa. A cada dez minutos voltava e perguntava o placar de Brasil x Inglaterra. Outro também muito querido e muito fanático por futebol (e pelo Corinthians em particular) era tio Delmo, quem, na época, tinha um braço e o peito engessados. Sofrera um sério acidente de carro poucos dias antes dos jogos. Apesar do seu sangue italiano, ele dizia, com convicção, a todos reunidos na Praça Oswaldo Costa (onde uma TV exibia os jogos em branco-e-preto): “o Brasil vai ganhar da Itália de 4 a 1”. Poucos acreditaram nele, mas a previsão do tio Delmo acertou em cheio. Com Pelé, Jairzinho, Tostão, Rivelino, Gerson, Clodoaldo, Carlos Alberto (quase só tinha craque aquele time), o Brasil daquele ano massacrou a squadra azzurra e deixou muitas saudades.


Para mim, individualmente, também foi inesquecível um determinado momento de outra Copa do Mundo, a de 1982, na Espanha. Era a primeira copa que eu assistiria no exterior. Os dormitórios da Universidade Estadual de Mankato, em Minnesota, tinham poucas TVs a cabo, e nenhum dos canais disponíveis mostraria os primeiros jogos do Brasil. Angustiado, tive que apelar para o rádio, onde talvez eu conseguisse ouvir uma transmissão em ondas curtas (com certeza nada de futebol haveria em AM ou FM). Pouco antes da hora marcada para o início da partida do Brasil contra a Austrália, precisaria de sorte para achar uma rádio que transmitisse o jogo direto da Europa, eu consegui, mas em espanhol. Pensei: melhor isso do que nada. O coração já estava um pouco apaziguado depois da frustração que sentira ao saber que não haveria transmissão por TV, quando me veio a idéia de apanhar meu rádio portátil e toca-fitas marca Sony (ver foto acima) e levá-lo para fora do prédio onde eu morava no campus: quem sabe o chiado diminuiria.


Foi obra do Anjo da Guarda, ou minha estrela-guia, como diz minha mãe. Jamais esquecerei o trovão de alegria que me atingiu no momento em que encostei a antena do rádio na parede externa do dormitório e religuei o aparelho. As primeiras palavras que ouvi me comveram: “Sob o patrocínio do seu Conhaque de São João da Barra, passamos a falar diretamente da Espanha.” Que maravilha! Eu mal podia acreditar, mas agora passava a ouvir a Rádio Nacional do Rio de Janeiro, em bom, dulcíssimo português brasileiro. Os gringos que jogavam voleibol nas imediações do dormitório logo acharam que havia um louco entre eles naquele campus, porque só mesmo um maluco ficaria tão ligado e tão próximo a um aparelho de rádio, nele colando o ouvido e, de vez quando, dele se soltando, aos berros, em puro êxtase! Afinal, naquele 23 de junho o Brasil derrotou a Austrália por 4 a 0 no Estádio Benito Villmarín, em Sevilha.


Pois é, aquele foi apenas o começo de uma longa série de recordações associadas ao campeonatos mundiais de futebol, que a cada quatro anos vêm sedimentar nossos laços coletivos e aguçar nossas emoções mais exaltadas de gozo e sofrimento, aflição e contentamento! Espero voltar ao assunto em breve. Não faltarão “causos” futebolistas para outras crônicas. Ao encerrar por hoje, vale repensar como é bom ser brasileiro nesses anos mágicos que ressurgem ciclicamente, momentos em que fãs de todo o mundo reconhecem e temem nosso talento, nossa criatividade, e nossa forma alegre de jogar. Enquanto isso nós, os únicos participantes de todas as Copas do Mundo, vamos sempre sonhar e chora atrás de mais um caneco de ouro.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

domingo, 23 de maio de 2010

Fé e amor no que se faz



Quem trabalha com arte tem seus privilégios. São muitas as maneiras de que podemos unir vida e criação, lembranças e emoções. Podemos levar nosso carinho às pessoas a quem amamos (e muitas vezes a quem sequer conhecemos), compartilhando, por exemplo, uma bela e comovente melodia, ou aquele poema atilado e justo para descrever o que nos parece inexplicável. É assim, pois, que enquanto programador e apresentador de rádio, eu tenho o prazer de dedicar canções.

Ocasionalmente reservo uma parcela de meu programa para oferecê-la a alguém em forma de tributo. Esse foi o caso de três semanas atrás, dia 29 de abril. A data era significativa. Precisamente 75 anos antes, portanto, em 29 de abril de 1935, um jovem de 12 anos caminhava bem vestido pela rua Aureliano Prado, em Paraguaçu, Minas Gerais. Uma jovem, que se recostava a uma janela de sua casa, viu aquele menino de terninho branco e estranhou-lhe o traje:
— Onde você vai assim tão bem vestido, Darinho?

O menino respondeu logo:
— Vou trabalhar pela primeira vez na vida. Hoje é meu primeiro dia lá na Casa Oriente, na loja do Sr. Luiz Almeida Prado.

Entusiasmado, aquele futuro “caixeirinho” ouviu doces palavras que o seguiriam para o resto da vida:
— Vai com Deus, Darinho. Eu aqui vou rezar um Ave-Maria para que você tenha muita sorte no trabalho e na vida!

Aquele Darinho deixou de ser Darinho alguns anos depois. Apesar disso, até hoje acontece de eu estar visitando os meus pais e atender ao telefone quando alguém me pergunta pelo Darinho (mas não sou eu). Aquele Darinho teve muita sorte, sim, além de muita visão comercial, muita garra e muita perseverança. Nasceu em um lar de parcos recursos materiais, tanto é que somente usava sapatos aos fins de semana antes de conseguir aquele primeiro emprego. Teve pouca escolaridade, mas mesmo assim foi capaz de “vencer na vida” como homem de família, empresário e líder comunitário.

Aquela edição do Brazilliance, meu programa de rádio, caiu exatamente no dia 29 de abril. Eu não poderia deixar por menos. Tratei de reunir discos que tivessem pelo menos algumas das “clássicas” canções que meu pai mais gostava de cantar ao longo dos anos em que nos reuníamos em volta do piano de minha irmã Silvana. O tributo começou com o disco Omaggio a Frederico e Giulietta, uma gravação ao vivo em San Marino, região não muito distante de onde veio parte da nossa família italiana, os Borins. Com sua suave voz Caetano Veloso interpreta “Ave-Maria” (composição de Erothides de Campos): “Cai a tarde tristonha e serena, em macio e suave langor / Despertando no meu coração a saudade do primeiro amor! / Um gemido se esvai lá no espaço, nesta hora de lenta agonia / Quando o sino saudoso murmura badaladas da ‘Ave-Maria'!”

Na seqüência veio o disco de Renato Motha e Patrícia Lobato, Antigas Cantigas. Entre tantas pérolas, escolhi “Bodas de prata” (Mário Rossi e Roberto Martins) e “Eu sonhei que tu estavas tão linda” (Lamartine Babo e Francisco Mattoso), cujos versos assim se fecham: “Violinos enchiam o ar de emoções / E de desejos uma centena de corações / Pra despertar teu ciúme, tentei flertar alguém / Mas tu não flertaste ninguém! / Olhavas só para mim / Vitórias de amor cantei / Mas foi tudo um sonho... acordei!”

As três canções que iniciaram a homenagem a Dário Borim também são algumas das prediletas de minha tia Vilia, irmã de meu pai, que costumava acompanhá-lo nas cantorias lá em casa. Houve ainda tempo para outra música bem conhecida e estimada pela geração de meus pais e tios, “Chão de Estrelas” (Sílvio Caldas e Orestes Barbosa). Para tocá-la consegui nada menos que uma versão ao vivo de um de seus compositores, o renomado Sílvio Caldas. Para encerrar, vieram lembranças dos inúmeros carnavais do Ideal Clube, onde meu pai, enquanto presidente daquela associação por 17 anos, teve que permanecer sóbrio para lidar com os exagerados do álcool e do lança-perfume. Era a vez, então, de um clássico de Noel Rosa e Heitor dos Prazeres, “Um Pierrot apaixonado”, na voz de Maria Bethania.

Poucas horas após o final daquela edição especial do Brazilliance pude falar com meu pai ao telefone. Ele agradecia a homenagem e também me contava, com seu contagiante alento, que naquele dia tivera tempo para visitar a jovem que lhe desejara boa sorte em 29 de abril de 1935. Em plena consciência, a sra. Otília Gonçalves o recebeu em casa, fazendo tricô. Ela, na casa dos 90, e ele, bem perto de lá, confirmavam sutilmente a noção de que a vida pode ser longa e compensatória para quem tem fé e amor no que faz.

domingo, 11 de abril de 2010

Esses avoados Borins



Dário Borim Jr.
dborim@umassd.edu
Batista, Alex, Geraldo, Henrique, DB, Tatau e Delson -- Turma da Eterna Saideira
Hoje não tem papo de Clarice Lispector nem Machado de Assis. Meu irmão, o Tatau, já me falou que gosta mesmo é das minhas crônicas sem muito laralará intelectual. Quem sabe esta sai do jeito que engenheiro gosta. Vou falar de gente que passa apertado de vez em quando simplesmente porque tem o perigoso hábito de fazer uma coisa pensando “profundamente” em outra(s). Não ajuda, é claro, quando o indivíduo passa por uma fase de muito estresse, muito trabalho e reduzidas horas de sono. Eu sou um desses “infelizes”. Aliás, dizem que é um problema de família, os Borins. Não quero julgar e condenar em público a lerdeza dos meus irmãos ou colocar a culpa nos nossos progenitores. Porém, não nego o boato: “alguns desses Borins são muito avoados!”
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Pra ser mais justo, acho que é sensato dizer que todas as pessoas têm os seus momentos de lerdeza, não é? Às vezes as anedotas não passam de invenções das más línguas. Por isso não sei se é verdade, mas já ouvi falar, por exemplo, algo sobre uma de minhas irmãs (não digo o nome para protegê-la da mentira que pode haver por trás desse “causo”). Ela partiu e chegou ao aeroporto de Confins com dinheiro e documentos, sim, mas tinha deixado em casa a única mala que deveria levar consigo.

É mole? Claro que não. Mas vocês ainda não viram nada. E como essa crônica ainda não apareceu publicada em jornal, vale tudo por aqui, até a interação de leitores e leitoras. Duas delas acabaram fazendo comentários que merecem intromissão intertextual numa narrativa que já está ficando muito pós-moderna para o meu gosto. A questão é que depois de ler a versão inicial deste texto, crônica que gerou 25 comentários publicados online em dois dias, minha irmã Silvinha me mandou um email querendo saber da tal irmã que foi para o aeroporto sem mala:

— Quem será? Ainda bem que não fui eu, porque EU fui a Lavras, de carro, só que esqueci a mala em BH. Ela, a mala, chegou de ônibus. Normal. É só uma questão de logística, como diz o mano Joseph [o vulgo Tatau].

Normal? Isso não é nem o único engenheiro entre nós. Por exemplo, Tatau achava, na época da ditadura militar, que muitas placas que víamos nas estradas indicavam a existência de mais uma companhia estatal, a EM-OBRAS. Uau! Por alguns anos ele se referia à avenida Álvares Cabral, no centro de BH, como se fosse avenida “A Cabral”, questionando quem era essa moça famosa, porque a placa dizia apenas “Av. A. Cabral”. Será que o ponto estava apagado? Fazia diferença para o engenheiro?

Que normalidade é essa da nossa família se anteontem chegou uma mensagem eletrônica da minha afilhada Cristina, filha da avoada que “viajou” sem mala para dar aulas na Universidade Federal de Lavras. E eles em Lavras aceitam professora de BH sem mala? Preparem-se, meus caros, porque isso que diz a Cristina não é ficção mineira não, como suspeitou com humor o distinto crítico literário e poeta Charles Perrone, através de uma recente mensagem publicada no FaceBook. Minha sobrinha não se segura:

— Hihiii, mas temos casos demais para contar! Tem aquela do vovô que foi consultar em Alfenas, mas a consulta era em Varginha. Tem a minha: eu estava aguardando minha hora num consultório de acupuntura quando deveria mesmo ter ido a um consultório de gastroenterologia!

Vejam que a própria sobrinha não escapa da carga genética que atravessa gerações. Houve época em que ela freqüentava assiduamente a casa dos meus pais em Paraguaçu, por isso pode contar mais dois causos que a maioria da família ainda ignora:

— A vovó chamou a polícia por causa de um barulho muito alto de música que chegava no seu quarto de dormir. Na verdade o som vinha do rádio-relógio dela! Essa agora para mim é uma das melhores. O funcionário da loja do vovô, Afonso, teve que ir à casa do vovô às pressas para desligar o micro-ondas, porque programaram a máquina para 4 horas de ação e ninguém na casa sabia como desligar! Eh... Borinzada danada!

Eu digo tudo isso sobre minha família antes de confessar: eu provavelmente sou o pior de todos. Vamos viajar cronologicamente, então, e visualizar este cronista em dois de seus momentos de maior apuro ou embaraço. O primeiro foi lá pelo ano da graça de 1985. Eu ensinava num cursinho de inglês de Belo Horizonte, o MAI, e, infelizmente para aquele jovem de 26 anos, tinha que dar aulas aos sábados de manhã. Certa vez eu saí de casa atrasado, mas, como morava na av. Francisco Salles, podia chegar ao trabalho, usando meu Chevette marrom, numa questão de quatro ou cinco minutos.
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Nesse tal dia pulei logo da cama quando percebi que tinha perdido a hora. A culpa certamente era da falsa “saideira”, a boêmia e inocente garrafa de cerveja que era logo seguida de outra “saideira” e, depois, muitas outras, consumidas sob o mesmo rótulo de “saideira”. Na Casa do Kibe, a “metragem” de garrafas em linha sobre a mesa crescia quase ad infinitum, até que já era tarde demais para quem tinha que trabalhar cedo no dia seguinte.

Quando, naquela nefasta manhã, eu passava em frente ao Colégio Arnaldo, senti que o motor do carro perdia força rapidamente. De fato, veio a morrer em questão de segundos. O bom é que o sinal estava verde e passei por ele no embalo — podendo, graças a Deus, chegar ao MAI, na av. Brasil, naquele mesmo sopro de cilindros em seca, também de ressaca! Eu tinha me esquecido de pôr gasolina, é claro, e agora o tanque me dava dor de cabeça, pois tinha “desidratado”. O santo foi forte, não é, e me empurrou até meu destino. Só que meu santo se esqueceu de me avisar: bobagem pentear o cabelo ou escovar os dentes se não dava tempo, mas era preciso ter trocado de roupa, uai! Quando eu entrava no prédio foi que me dei conta: ainda estava de pijamas.

Passaram-se 25 anos e o “desligado” sr. Dário Borim Jr teve lá seus outros problemas, mas o espaço aqui é curto. Então, pulemos no escorregador do tempo até a quinta-feira passada. Eu tinha que devolver à Central de Polícia da Universidade de Massachusetts Dartmouth a chave da WUMD, estação de rádio onde faço o Brazilliance, meu programa semanal de música luso-brasileira. O colega radialista David Nader, apresentador do show Mediterranean Café, que vinha logo depois do meu, estava na Espanha. A entrega da chave era coisa muito importante e fora da minha rotina, por isso representava um risco para um homem “desligado”. Para eu não ir para casa sem antes deixar a chave na policia, fiquei com a dita-cuja na mão esquerda o tempo todo. Essa era minha estratégia para um desmiolado não dar vexame!

Cheguei bonitinho ao meu carro, um velho Kia Sephia verde, com a chave da rádio na mão, e logo me dirigi para onde deveria. Quando eu estacionava em frente ao prédio da policia, passou no seu carro um técnico de futebol, Gene Bergerson, meu amigo. Ele parou por um instante e perguntou sobre o meu filho Ian. Fiquei pensando no menino por uns instantes e conversando com o Gene. Enquanto isso eu fechava a porta do meu carro sem perceber que, daquele jeito, eu estava trancando a danadinha. Ainda agi como desligado mais uma vez, trancando em seguida a porta de trás do motorista.

Caminhei até a polícia, e somente quando voltei foi que vi que tinha trancado o carro inteiro, mas a chave continuava na ignição e, o motor, ligado! Minutos mais tarde o policial de plantão me informou que não podia me ajudar. Era contra o regulamento! Então liguei para o serviço AAA, de auxilio a motoristas. Chegariam em 30 minutos, por se tratar de um caso de emergência: “motor ligado!” Senão, levariam 50 minutos para aparecer! Huh! Não fiquei contente, e vi que uma janela estava com dois cm de abertura. Fui para o lote da polícia, sem qualquer permissão dos bacanas. Procurei e achei um tubo metálico de 2 metros e tal, que talvez desse para abrir a tranca da porta do outro lado do carro. Mas que diabo, eu não conseguia finalizar o “arrombamento” do meu próprio carro porque o tubo era pesado e chegava a menos de um centímetro da tranca, sem poder movê-la.

Bem, aí vi uns cinco rapazes alegres caminhando em minha direção. Com toda a humildade contei-lhes meu “causo” de homem avoado e pedi-lhes ajuda. Minha falta de orgulho-próprio foi recompensada. Um deles tinha os dedos mais fortes que os meus e conseguiu levar o tubo mais a frente um pouquinho e abrir a tranca. Lição final: com jeitinho e santo forte, não há cabeça avoada sem proteção. Bem, eu já ia esquecendo. (Estou sempre esquecendo algo!) Cuidado: tem nó que nem pai de santo desata. Por exemplo, é melhor tirar os pijamas antes de ir trabalhar.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sopros de vida

Sopros de vida 

Mais um fim de mês vem chegando. Uma amiga de Belo Horizonte, leitora assídua deste blog, já me havia escrito um email reclamando mais uma crônica. Escritor vive disso – não é? – da impressão de fazer alguma diferença na vida de alguém. Podemos não chegar a tanto, mas sonhamos com a pequena importância que pode ter o nosso gesto criativo, nossas horas de reflexão e diálogo conosco mesmos, que desejamos estender a todos que por eles se interessem – tanto o leitor conhecido quanto o desconhecido, o real ou aquele apenas sonhado. 

Enquanto questiono qual tema devo, aqui, abordar, um livro não me sai da cabeça: Why This World, de Benjamin Moser. Lançado para o mundo de língua inglesa pela Oxford UP, a obra foi traduzida para o português por José Geraldo Couto e publicada no Brasil pela Cosac Naify com um título que inclui uma vírgula matreira, Clarice,. Esse maravilhoso misto de biografia e análise literária anda mesmo presente no meu cotidiano desde o momento em que o apanhei na estante de uma livraria em Providence, Rhode Island. 

É sobre algo em torno desse livro que hoje quero refletir, embora não me sinta plenamente preparado. É que receio que não se possa falar bem, no espaço de uma crônica, de uma vasta e questionadora obra como aquela, de uma vida tão interessante e chocante como a de Clarice Lispector, de uma ficção tão complexa e intrigante como a que ela nos deixou ao falecer aos 57 anos de idade, e muito menos da brilhante análise e exposição que Moser faz das relações entre a arte de vanguarda genial e o drama pessoal de uma artista imortal. Aceito, entretanto, o desafio de instigar a imaginação do leitor com alusões à experiência surpreendente que foi me aproximar da mente e da criação de uma das escritoras que mais me fascinam. 

Não há como escolher o ponto certo para o início dessa jornada que me proponho. As referências de Moser ao primeiro romance de Clarice, Perto do coração selvagem, por exemplo, me surgem quase aleatoriamente. Fazem-me recordar que essa também foi a primeira obra que li da romancista judia que imigrou da Ucrânia para o Brasil antes de completar um ano de idade. Em 1942, ano anterior ao seu casamento com o diplomata Maury Gurgel Valente, seu colega de faculdade de direito, a escritora de apenas 21 anos elaborava naquele romance um profundo questionamento das possíveis dificuldades da vida matrimonial: a perda da privacidade, o peso da cumplicidade, a restrição da liberdade, e, talvez, ainda mais atemorizante, a definição de um destino certo, previsível, e acético para a mulher, principalmente se esse destino era o de exemplar esposa do lar. O casamento da autora duraria 16 anos. Quando o ex-marido lhe escreveu uma carta buscando reconciliação, utilizou-se exatamente das duas protagonistas de Perto do coração selvagem, Joana e Lídia, para expressar sua forma de ver o comportamento da autora/ex-esposa, uma mulher claramente atormentada pelo medo de amar, por depressão, e por uma desesperadora saudade do Brasil, país que nunca lhe saía da mente, onde quer que fosse – Itália, Suíça, ou Estados Unidos. 

As relações entre a vida e a arte dos artistas são assuntos que há anos me fazem ponderar o preço da fama. Nos últimos 12 meses minhas dúvidas se avolumaram ao ler sobre Vinicius de Moraes, Gibran Kahlil Gibran, D. H. Lawrence, Machado de Assis e Graham Greene, entre outros. O que me parece especialmente revelador e inusitado no caso de Clarice Lispector é que a autora pareceu viver uma vida em que a própria experiência empírica continha fortíssimos elementos da ficção que ela ia criando ao longo de três décadas. Era como se a escrita determinasse os caminhos da autora pelo mundo afora, desde o primeiro romance até os dois últimos. Em um destes, a pseudo-autora/narradora quer morrer, como ela própria, Clarice, parece ter desejado também, apesar do sucesso financeiro das vendas e o valor simbólico da glória no seu último ano de vida, 1977. Aquele novo momento de luz – repetindo a celebridade efêmera que lhe chegara após o lançamento do romance de estréia, 33 anos antes — talvez a fizesse se sentir um tanto redimida da ansiedade e da frustração acumuladas em longos períodos de sua carreira profissional. 
 
Ao final da vida Clarice Lispector havia desenvolvido grande cinismo diante do poder da própria literatura. Pensava que com ela, com a sua obra, não salvaria ninguém. Na melhor das hipóteses, poderia salvar a si mesma. Ela escrevia por sentir necessidade visceral de fazê-lo, forma irrecusável e insubstituível de se sustentar emocionalmente. Quando já não mais podia contar com o salário do marido, depois da separação, em 1959, a literatura também passou a constituir seu único ganha-pão, profissão esta que, em certa medida, desejou abandonar. Em Um sopro de vida há uma personagem-escritora cansada de escrever e de viver. Por isso desejava fazer com que uma de suas personagens, Ângela Pralini, morresse de câncer. Pois, assim, a vida da autora, Clarice Lispector, seguiu a arte da autora dentro da arte. Clarice posteriormente contraiu um câncer nos ovários, como se eles estivessem secos, como os de Macabéa, a protagonista de A hora da estrela (uma nordestina, como ela própria se sentia, por ter nascido e vivido até os 15 anos no Recife). 

Uma das lições de vida que me passa a obra de Moser (e a literatura de Clarice Lispector, naturalmente) é que nos tornamos muito vulneráveis ao colocar toda a nossa fortuna, por maior ou menor que seja ela, numa ficha só. Assim aconteceu ao protagonista de Scott Fitzgerald, no seu festejado romance O grande Gatsby, para quem o amor desenfreado por Daisy o separou do real e do plausível. Quando apostamos tudo o que temos numa única fonte de seiva, tal como uma determinada pessoa ou uma determinada ocupação, e esse sopro de vida absoluto se esvai, o vazio poderá não nos deixar crer em outra razão de viver. Viver, assim, sem razão, é um inóspito sofrer, é meio caminho à morte. Paradoxal como sua própria obra, Clarice trilhou esse meio caminho, mas resistiu como pôde à outra metade. Até as últimas horas de sua sofrida existência, quando já se encontrava sedada, ela não parou de escrever, ditando suas últimas palavras a Olga Borelli, uma fã de sua literatura que se tornou sua amiga, editora, governanta e, praticamente, figura-de-mãe-adotiva. 

Era como se Clarice Lispector agora escrevesse as últimas linhas de seu último romance, o romance de toda uma vida. Depois de uma severa hemorragia, ela sabia do seu iminente fim naquela na manhã de nove de dezembro. Levantou-se da cama, quis fugir do hospital e, irritando-se com a enfermeira que a tentava deter ali mesmo, derramou sua cólera: “Você matou minha personagem” (Moser 383). Esse longo e belo relato da existência e legado da maior estrela da literatura brasileira do século XX se encerra, apropriadamente, evocando as palavras do jornalista Paulo Francis: “Ela se tornou sua própria ficção” (Moser 383).

domingo, 31 de janeiro de 2010

Yumi Faraci

Yumi Faraci em Dartmouth, Massachusetts Junho 2009 Gostaria que minhas cinzas Fossem jogadas no ar, Do alto de uma montanha e no mar. Quando sentirem saudades minhas, Respirem, estou presente no ar. Quando sentirem saudades minhas, Mergulhem, estou presente no mar. Estou presente no mundo, Estou presente no coração De cada um de vocês... --Yumi Faraci Não há palavras para descrever a dor de se perder um filho. É o que dizem por aí os que o sabem por experiência própria. Não tive e espero não ter que passar por isso, mas é o que imagino ser a verdade nua e crua do que parece ser, mas não é, pura estupidez e crueldade do destino. Em dois momentos da minha vida já estive muito perto e sensível a tal dor. Em 21 de junho de 2001 meus pais perderam sua linda filha caçula, Ana Beatriz, quando ela tinha apenas 36 anos. Não fui e não sou capaz de me ver naquela desconcertante condição de pungente amargura e quase desesperação que marcaram as vidas de seres a quem tanto amo. Agora, um mês atrás, o destino ceifou a vida de mais um belo ser, Yumi Faraci. Filha única, de apenas 18 anos de idade, ela era muito querida pelos seus pais, meus grandes amigos Geraldo Faraci e Sônia Imanishi Faraci, e por toda a enorme e zelosa família mineira dos avós paternos, e toda a tradicional e solicita família japonesa dos avós maternos. Yumi faleceu em meio a uma sequência de eventos trágicos que afetaram a muitas pessoas no sul e sudeste do Brasil entre os meses de dezembro e janeiro: enchentes, deslizamentos de terra e desabamentos em larga escala. Como eu me encontrava no Brasil nesse período, pude fazer companhia e levar meus abraços a Geraldo e Sônia em três ocasiões em que se fizeram tributos à curta, mas definitivamente encantadora, vida de sua filha. Em todos eles, preferiu-se ver e salientar a beleza de uma vida ao invés de apenas se lamentar seu fim. Yumi e seus pais estiveram aqui em casa em junho de 2009, quando ela recebia deles um prêmio por ter passado no vestibular. Era a sonhada viagem aos Estados Unidos para assistir a um concerto de sua banda favorita, a Coldplay. Numa das noites que passaram conosco em Dartmouth, Yumi e meu filho Ian fizeram um dueto de violões. Foram instantes mágicos, em que o olhar penetrante daquela jovem cantora e a voz um pouco rouca e muito adocicada daquela futura estudante de arquitetura nos deixaram enternecidos, com uma pré-saudade de uma ocasião tão especial para nós todos ali reunidos. Para Yumi, música era uma paixão quase sem rival, por isso lhe fiz tributo dez dias atrás em meu programa de rádio e internet, o Brazilliance, ao tocar alegres gravações de Lisa Ono, outra talentosa nissei. Lembrei-me então de histórias que seus pais me contaram: a magia de sua filha ao cantar para seus familiares japoneses, quando os três visitavam o Oriente. Ela mesma me passou, sorrindo com um pouquinho de orgulho contido, os detalhes do dia em que tocou violão numa estação de metrô em Londres. Para sua surpresa, moedas da valiosa libra esterlina começaram a cair no estojo de seu instrumento. Yumi, aliás, não apenas tocava. Também compunha canções em inglês e japonês, além de português. A jovem Yumi, inspirada poeta, exímia nadadora e precoce faixa-preta de judô, tinha de fato invejável senso de humor e contagiante otimismo, mas também dedicava tempo a questionamentos sérios, até mesmo aos mistérios da vida e da morte. Por isso ficaram conhecidos seus desejos para quando fosse ela chamada aos céus. Queria ser cremada e que suas cinzas tivessem três destinos específicos: que fossem espalhadas pelas montanhas de Minas (como as da serra da Moeda, de sua declarada escolha); o mar de Ilha Grande e Angra dos Reis (por onde passara quase toda a vida); e a casa centenária de seus antepassados no Japão (cuja cultura milenar ela sempre amou). No dia 9 de janeiro passado tive a chance de assistir à cerimônia em que suas cinzas eram preparadas para descerem de uma asa-delta branca. Em tarde ensolarada e transparente, esta partiria em longo e ritmado vôo, abaixo e sobre nossas cabeças, tudo sob os acordes compostos e gravados pela própria Yumi. A comoção e deslumbramento dos presentes diante da delicadeza daquela homenagem eram evidentes. Para isso contribuíram algumas das cenas naturais mais belas de Minas Gerais, ou mesmo de todo o Brasil, as vastas vistas verdejantes de um pico da serra da Moeda, junto ao restaurante Topo do Mundo. O sorriso, a simpatia, o talento e o amor de Yumi pela família, pelos pais, pelos amigos e pela vida não voltam mais. Não voltam porque nunca estarão afastados daqueles que a conheceram e que preferem pensar na grande honra e prazer de tê-la conhecido. De ter com ela convivido e aprendido sobre a arte de viver em plena graça e contentamento. O destino não lhe foi cruel nem tampouco sem sentido. Proporcionou-lhe a oportunidade de trazer uma pletora de luz e carinho a todos nós que a conhecemos, um benévolo alento de fé na espécie humana de que jamais esqueceremos.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Décadas



Dário Borim Jr.
dborim@umassd.edu

Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de Ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
– Carlos Drummond de Andrade

O que é uma década? Todos sabem que é um período de dez anos, mas que surpresa tive eu numa fila de supermercado essa semana! Li a manchete numa revista semanal: “Acaba-se mais uma década!” Como é que é? Já estamos ao fim de mais uma? E como é que eu não me dei conta disso antes? Nem por um minuto nesses últimos doze meses pensei que estaríamos finalizando os primeiros dez anos do século XXI. Espera aí, não foi outro dia que tivemos aquela festa toda, depois de certo pânico com os computadores, pois eles entenderiam a chegada do ano (20)00 como a volta ao ano de 1900? É claro que também havia os grupos messiânicos e apocalípticos prevendo o fim do mundo em 2000.

O tempo é apenas uma referência em nossas vidas. Aquilo que de fato acontece em dez anos é o que nos marca e o que importa. Como referência, o tempo tem que ser vivido várias vezes durante certos períodos específicos para que possamos nos referenciar a ele corretamente, ter a uma razoável noção do que é um minuto, uma hora, um dia, uma semana, um mês, um ano e... uma década. Ninguém obviamente pôde ainda viver uma vida de mil anos. Portanto, é pela abstrata percepção do tempo histórico – a constatação de fatos que nós não vivemos diretamente – que podemos acreditar na veracidade de um milênio.

É muito mais fácil, porém, apreender o conceito por trás de uma década. Mesmo assim, essa idéia não é acessível a todos. Como pode um homem de 25 anos de idade entender bem o que é uma década? Ele só viveu metade de uma enquanto adulto! O problema maior, eu acho, é que na vida não há tempo para treinamento ou ensaio: antes de aprendermos a viver (se é que aprendemos) já estamos sendo testados pelas contingências do acaso, muitas vezes até pelos horrores da tragédia, que, aliás, nos chegarão, mais cedo ou mais tarde.

Agora, já vivendo na casa dos 50, tenho marcas na história da minha existência que me ajudam a entender o que é uma década. Estou aqui, morando mais uma vez nos Estados Unidos, há dez anos. Dez anos anteriores àquela mudança eu me casava. Entre hoje, o início de 2000, e o raiar da década de 1990, rolaram duas décadas – mas o que são 20 anos? Bem, mudei-me de casa umas 15 vezes, perdi ótimos amigos, uma queridíssima prima, e até uma irmã. Prefiro, pois, relembrar Fernando Sabino, para quem o “valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.

Por outro lado, foram tantas coisas boas. Nasceram-me dois lindos e saudáveis filhos, mais gigante e apaixonante golden-retriever. Vi meu pai praticamente renascer depois uma cirurgia cardíaca, minha mãe sobreviver penosamente a um câncer, e quatro de meus sobrinhos e sobrinhas se formarem e se casarem. Foi o tempo em que descobri o email, o telefone celular (e, depois, as suas maravilhosas mensagens comumente chamadas de “torpedos”) e as conversas instantâneas por computador (os ditos chats). Conclui dois mestrados e um doutorado, escrevi três livros, publiquei uns 30 trabalhos acadêmicos em vários países, e nove artigos de página integral no Estado de Minas. Também criei um blog de crônicas, através do qual compartilho idéias e histórias ao conversar com amigos-leitores espalhados pelo mundo. Ah... viajei muito, também -- a pelo menos quinze países.

Então é isso aí – uma década é tempo para muitas realizações e eventos radicais nas nossas vidas, mas não é nenhuma eternidade. Mais difícil é pensar que sabendo bem como uma década é pouco tempo, o ser humano só pode, em média, desfrutar de algumas delas: pouco mais que cinco após se tornar adulto. Então, aos 50 anos, sabendo mais ou menos o que cabe e não me cabe numa década, quantas me restam? Três já foram para o espaço. Se for de sorte mediana (tendo em mente a expectativa de vida média perto de 73), terei mais duas décadas e uns quebrados pela frente, antes de bater as botas. Se concordarmos com o grande filósofo romano Sêneca, tudo isso é bobagem: “O importante é viver bem, não viver por muito tempo. Muitas vezes vive bem quem não vive muito”.

Como dizia John Lennon, “a vida é o que nos acontece enquanto estamos ocupados fazendo outros planos”. Millôr Fernandes também colabora: “quem mata o tempo não é assassino; é um suicida”. Por isso quero e vou renovar minhas esperanças e reconstruir sonhos agora e a cada fim de ano – saravá! Bem, o relógio está batendo. É melhor acabar logo esta crônica e tomar mais um trago de uma excelente cachaça, a Vale Verde, que recebi de uma amiga a quem conheço há quase três décadas. Com aquela água-benta, digo, aguardente, ela me desejava mais 50 anos de vida. Os Oscar Niemeyer e Manoel de Oliveira da vida existem, sim. Quem sabe tomaram dessa pinga ou de outra tão boa para alcançar os cem anos de idade mais que lúcidos – produtivos!
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