sexta-feira, 10 de junho de 2011

Hospedar também é viajar





Dário Borim Jr
dborim@umassd.edu

Depois de 20 anos, uma nova “comitiva” brasileira estava para visitar o Darinho e sua família nos Estados Unidos. Em julho de 1991, dois de meus primos já falecidos, Zozó e Rejane, se encontravam nos EUA e também puderam ir a Minnesota, no Meio-Oeste, onde eu morava há três anos. Foram quatro os membros da família Mendes-Borim, entretanto, que sairiam diretamente do Brasil para o meu casamento em Duluth: pai, mãe, e minhas irmãs mais velhas, Silvana e Silvinha. Naquela ocasião a graça da chegada foi ver meu pai desembarcar em Minneapolis mascando chicletes, ele que sempre achou esse hábito um tanto, vamos dizer, “indecoroso”. Ele seguira à risca as recomendações: o movimento dos maxilares era ótimo para evitar as dores de ouvido na hora da decolagem e pouso do avião.



Desta feita, já em pleno século XXI, a primeira graça foi a que se passou em Miami. Aquela era uma gang de seis turistas. Para ser sincero, não tinham pinta de sacoleiros do Paraguai, mas, com certeza, revelariam simpáticos perfis de ávidos consumistas de roupas e eletrônicos do tal primeiro mundo. A gang se dividira em grupos de três diante dos agentes da imigração. Um dos agentes perguntou a um dos trios quanto tempo eles pretendiam permanecer. O dr. Francis Gonçalves, marido de minha sobrinha Cristina, quis praticar o inglês. Cansado ou distraído, em vez de dizer “treze dias”, respondeu: “treze anos”. É claro que se o agente de imigração o levasse a sério certamente pediria ao jovem médico para voltar para o Brasil, já que os Estados Unidos já estavam cheios de imigrantes ilegais. Tudo se resolveu logo, e o disparate do doutor só deu mesmo em risadas de lado a lado.

Já em Boston eu os apanhei todos de uma vez. Ainda bem que americano tem mania de grandeza, pois os seis viajantes brasileiros, suas bagagens e eu coubemos muito bem na nossa Entourage, uma confortável van de marca Hyundai. Foi o início dos vários dias e noites em que os visitados tinham tanto ou mais prazer ainda do que os visitantes. Quem viaja passa por uma descoberta de lugares, comidas, bebidas, pessoas, estilos de vida, mas, principalmente, de si mesmo, já que muitas coisas desafiam o sistema de referências que o indivíduo traz de casa. Há, também, muita atividade na cabeça e no coração de quem hospeda os viajantes, principalmente aqueles a quem conhecemos bem e de quem muito gostamos. O ser visitado passa a ver o mundo ao seu redor através dos olhos dos visitantes, e vice-versa, dialeticamente.
Hospedar também é viajar. Minha felicidade era enorme, pois aqui estavam pessoas com quem convivo intensamente quando visito o Brasil, e as quero todas muito bem. Através delas pude ver minha própria vida e meu cantinho por outros olhos, novas perspectivas que trazem rejuvenescimento e reavaliação de premissas desbotadas pela ação do cotidiano. Tendemos a desprezar a beleza e o valor das coisas porque as tomamos como corriqueiras e inerentes à vida que se leva. Exemplo: a própria van. Seu tamanho, motor silencioso e conforto não significavam mais nada, até que alguns dos seis brasileiros dissessem que aquele carro era mesmo “maravilhoso”. Talvez tenha sido por isso mesmo que poucos dias após a partida dos visitantes senti a necessidade de dar uma volta pela cidade onde moro e registrar em fotografias as cores e as formas de uma primavera exuberante, que dura poucas semanas. Eu a via agora ainda mais entusiasmado, já que ela não existe como tal em meu país de origem e a vida é curta demais para fecharmos os olhos ao belo e ao singelo que nos rodeiam.
A satisfação de aqui nos Estados Unidos poder apresentar aos meus melhores amigos, de uma vez só, a minha irmã Silvinha, o cunhado José, o sobrinho Alexandre, a sobrinha Cristina, seu marido, e seu tio João (que conheço há quase 40 anos), foi absolutamente inesquecível. Mostrar-lhes onde vivemos há quase 11 anos, inclusive os bares e restaurantes, as praias e as escolas, os rios e as matas – tudo isso teve um sabor de êxtase, de alegria sem medida. 



Talvez na melhor dessas cenas, o “filhote” Ian (de dezoito anos e quase de 1.90m de altura) jogava uma partida de um campeonato estadual de futebol na pitoresca região do Cabo Bacalhau (Cape Cod). Quase fim de jogo, sua equipe tem uma falta a cobrar bem distante do gol adversário. A torcida de nove brasileiros ou semi-brasileiros (os seis do Brasil e os três daqui, Ann, Zach e eu) pede em coro que Ian cobre a falta. Ele pede ao técnico. Positivo. A torcida, então, exige que ele chute direto ao gol. Ele gesticula ao técnico, que lhe dá permissão. Ian corre e bate de trivela (com os três dedões do pé direito). A bola sobe e vai descendo em curva vertical e horizontal. Sem chance, o goleiro cai abatido, e a bola entra no fundo da rede, depois de passar pelo ângulo superior do segundo poste. Uau! A galera, auxiliada por duas apaixonadas avós portuguesas, vai à loucura!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Londres não é só para inglês ver



Dário Borim Jr.





Estes são os meus últimos 30 minutos em Londres – até a próxima visita, é claro. Vida de professor universitário foi o que eu escolhi depois de bater a cabeça noutras portas. Em momentos como este, no aeroporto de Heathrow, enquanto espero meu vôo para Boston, tenho plena consciência de que acertei na pinta. Esse negócio é bom demais. Gente como eu nunca vai acumular riqueza. A gente sofre uns bons bocados, pois passa por umas chateações políticas e burocráticas, e tem que sobreviver publicando, senão é esmagado pelo sistema. Mas, na hora de poder escolher onde apresentar nossas pesquisas e teorias, muitos de nós pensamos, naturalmente, em viajar, com quase todas as despesas pagas pela Universidade, a países que nos parecem atraentes. E assim nossas vidas adquirem outro sabor.

Mais um congresso me trouxe, na terça-feira passada, a Grã-Bretanha. Bem, sejamos mais precisos: mais uma vez eu escolhi vir apresentar um trabalho nessa parte do planeta. Eu poderia ter escolhido ir a Viena em julho, ou a China em setembro. Quem sabe um dia por lá estarei. Por ora me contentei em desfrutar do que nos pode oferecer o mundo anglófono. Às vezes me pergunto se numa das minhas últimas encarnações não fui celta, bretão, ou mesmo americano.

O fato é que minha terceira passagem pela Grã-Bretanha me dá mais motivos para refletir sobre a minha “budista” origem inglesa – tudo isso, claro, com uma devida dose de imaginação e humor. Confesso que estou numa danada “ressaca emocional,” daquelas que me chegam depois de uma noitada ou mesmo de vários dias de muita alegria e aventura. Meus dias aqui foram realmente intensos, e para compor uma narrativa de todas ou mesmo da maioria das minhas experiências e reflexões nem teria espaço para essa crônica de jornal.

É verdade que em Massachusetts eu andava tão apertado de trabalho na Universidade, nas duas ou três semanas anteriores ao embarque, que mal pude antecipar mentalmente as delícias da viagem. Isso é mal, porque boa parte das coisas prazerosas da vida vem antes delas, vem da alegria que temos ao pensar nelas, ao vivê-las na mente e no coração, espaços onde não há limites ou fronteiras. Mas não posso reclamar. As emoções que tive em cinco dias inteiros em Londres me compensaram por qualquer “atraso” desse tipo.

Já no primeiro dia pude aproveitar o tempo bom, fresco, sem mais que uns rápidos e tímidos chuviscos, e pude fazer o que mais me atrai ao ar livre: andar, andar, e andar. Num país estrangeiro – aliás, como vivo no estrangeiro, devo dizer, em um país ainda mais estrangeiro que meu país estrangeiro – nem foi preciso ouvir meu I-Pod para me embalar pelas ruas. De fato, música saindo de um headphone seria um terrível filtro, um cabresto auditivo, porque há tantos sons a se perceber numa rua estrangeira quanto há cores, formas, aromas e movimentos, de coisas e de pessoas, que nos fazem descobrir o novo a cada segundo e a cada passo.

O tempo seco tem sido um fenômeno agradabilíssimo, mas meio raro, na cidade de Londres, dizem os jornais. Aqui chove muito e, principalmente, na primavera. Andar e andar na chuva são duas coisas muito diferentes. Lembro bem que foi com a mesma sorte que também me aproveitei do mundo seco, florido e ensolarado das avenidas de Dublim, dois anos atrás. Tivemos lá seis dias de sol em seguida, que fizeram muitos dublinenses pensar que Deus era irlandês. Desta vez, já deve ter londrino imaginando que Deus está sendo muito generoso com os fãs da família real e proporcionando a eles uma lua de mel, uma “lua de sol” para comemorar direito o casamento dos pombinhos Kate e Williams, aqueles belos seres sustentados pelo dinheiro do povo.

Então foi ao passear na minha primeira tarde londrina desde 2007 – sempre de antenas ligadas – ao longo de uma simpática avenida do centro histórico, a Shaftesbury, que notei que uma peça de teatro estava para se iniciar em 20 minutos no belo e tradicional Teatro Palace. A propaganda sobre a platibanda do prédio era muito chamativa: um enorme e brilhante sapato de salto alto azul piscina. Anunciava o musical Priscilla, a Rainha do Deserto. Não vacilei: um espetáculo vencedor de vários e importantes prêmios, com 25 drag queens, não era para deixar passar. 

Já que meu principal motivo para estar na Inglaterra era a palestra que daria num congresso de estudos feministas na Universidade Londres, a chance era excelente de eu logo fazer uma imersão de duas horas e meia no humor, música e dança do espalhafatoso e maravilhoso mundo gay, ali, a meu dispor, por 20 libras. Paguei pra ver e não deu outra: adorei. A produção era excelente. O repertório musical, da melhor discoteca dos anos 70. O cenário, altamente criativo, mutante, mirabolante, tinha tudo de barango-chique e fantástico high-tech, com gente voando ou descendo dos céus, ônibus multicolorido em pleno palco, etc. O elenco e o corpo de dançarinos eram, obviamente, de primeira linha. Mais uma vez valeu a pena ter caminhado com os olhos bem abertos e os ouvidos desobstruídos para descobrir e curtir o mundo da rua, ainda mais em Londres, que, realmente, não é só para inglês ver.

sábado, 26 de março de 2011

Eu te amo



Já ouviu essas palavras dirigidas a você, olhos nos olhos? Acreditou nelas? Tem coisa melhor? Você já disse aquelas três palavrinhas sem desviar o olhar para o canto da sala? Foram levadas a sério? O que você está esperando? Por que temos medo de expressar o amor abertamente? Deixo as respostas claras e objetivas para as psicólogas da família, Carla e Silvana. 
   Meu negócio é contar histórias, mesmo que para sobreviver eu tenha escolhido a profissão de professor e mesmo que, por graças divinas, eu tenha tido a chance de ministrar e desfrutar de um curso de pós-graduação sobre a paixão. Temos lido muitas teorias e poemas sobre aquele tema apaixonante, mas, melhor ainda tem sido aqui e ali – no corredor ou no meu escritório, por exemplo – ouvir alguns casos de amor “de arrepiar”. O assunto mexe com quase todas as pessoas.  Ao final da nossa aula inaugural, portanto, quando mal tínhamos iniciado o curso, a aluna Nélia Alves passou por mim e me disse,
“Professor, não sei quantos relacionamentos vão sobreviver a esse curso!”
Eu não sabia o que lhe dizer.
Hoje em dia as pessoas podem vivenciar uma paixão e de fato escrever ou dizer “eu te amo” de diversos modos – muitas vezes, por meios eletrônicos. As pessoas podem estar distantes, em diferentes cantos do mundo, por exemplo, ou na mesma cidade ou até no mesmo prédio. Aparentemente a mídia social e intelectual (do tipo FaceBook, MySpace, Orkut e YouTube) chegou para ficar e dominar os processos de comunicação e, em particular, de amizade e romance. A inspiração para esta crônica, aliás, veio-me de um link a um vídeo, o comercial de Yasmin Ahmad, documentarista da Malásia, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Cannes de 2008. Disponível no YouTube, o vídeo foi postado por uma ex-aluna, uma amiga portuguesa muito querida, Sandra Sousa. Quase que imediatamente espalhei aquele link, www.youtube.com/watch?v=3fo3WJ1orvk, pela minha própria página no FaceBook. Quatro amigas se manifestaram a respeito dele: duas delas, Ana Catarina Teixeira e Débora Ferreira, lá de Utah, nas Montanhas Rochosas; a Catherine Kolar, do norte de Minnesota; e outra, de Londres, a Rosa Mignacca.
O vídeo, de um minuto e 43 segundos, primeiro mostra a pergunta: “Você tem medo de dizer ‘eu te amo’?” Depois escreve em branco sobre uma tela negra: “Tan Hong Min apaixonado,” menino que então será entrevistado em inglês por uma mulher anônima e invisível. Talvez aos seis ou sete anos de idade, ele diz,
“O nome dela é Umi. Umi Qazerina”.
“Por que você gosta dela?”
“Ela tem brincos e rabo de cavalo. Ela é bonita.”
“O que você gostaria de falar para ela?”  
Sorrindo, meio embaraçado, responde:
“Você quer sair comigo?” E acrescenta: “Para um jantar romântico”.
“Ela sabe que você gosta dela?”
“Não. Deixo em segredo.”
“Por quê?”
“Não quero que o mundo inteiro saiba.”
“Por que não?”
“Por que todos iriam rir de mim.”
“Por que eles iriam rir de você?”
“Porque ela não gosta de mim.”
Em seguida, uma garotinha de rabo de cavalo  se apresenta no vídeo:
“Meu nome é Umi Qazerina.”
A entrevistadora pergunta-lhe,
“Quem é seu melhor amigo?”
“Tan. Tan Hong Min.”
Quando a mulher lhe pergunta, “Você gosta dele?”, Umi não responde. Logo vem outra pergunta, “Você tem namorado?”
Ela faz um gesto afirmativo com a cabeça e diz, “Tan Hong Min”.
O rosto de Tan se transfigura num belo sorriso. Seu queixo literalmente cai de felicidade. Ele logo põe a mão direita no braço esquerdo de Umi. Ambos dão meia volta e saem para o mundo, abraçados. O vídeo termina com esses dizeres: “Nossa vida é definida pelo medo ou pelo amor. Ame! =)”
Lembrei-me de meu primeiro puppy-love, um amor de criança: Miriam Magda Carvalho. Acho que era correspondido, sim, mas até hoje não sei. Sei que eu morria de medo de não ser. Eu tinha entre sete e nove anos. Aquele amor nasceu e morreu platônico, mas a amizade jamais acabou. Pena que aquelas palavras mais doces nunca foram ditas. Umi e Tan, esses dois simpáticos baixinhos do século XXI, era do email e do FaceBook, tiveram mais sorte: um cupido eletrônico e internacional. Bom para eles! Você, não arrume desculpas, não. Abra o coração, sem medo e sem ilusão!



segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Paixão: sina e esperança


Amália Rodrigues (1920-1999), a mais famosa fadista portuguesa, morou, cantou e gravou por uns tempos no Brasil. Ela até mesmo se casou com um brasileiro em 1961. Seu extraordinário legado musical no nosso país foi de grande influência para Caetano Veloso, cantor-compositor que escreveu fados que já fazem parte do mais belo cancioneiro luso-brasileiro de todas as épocas. Na década de 1960 esses dois expoentes da música lusófona criaram pérolas poético-musicais que estabelecem um diálogo sobre a paixão, tema central de um curso que atualmente ensino no Programa de Pós-Graduação em Estudos Luso-Afro-Brasileiros da Universidade de Massachusetts Dartmouth. Na aula inaugural tivemos a oportunidade de compartilhar nossos próprios conceitos sobre o tema tendo em mente, também, a poética de Vinicius de Moraes, obra que estamos estudando paralelamente às investigações sobre a paixão.
Há poucas dúvidas sobre a hipótese de que o termo grego que dá origem à palavra paixão seja pathos. Entretanto, a etimologia consensual de qualquer palavra não encerra nossa busca pela compreensão dos conceitos atribuídos, ao longo dos séculos, a um dado vocábulo do nosso léxico contemporâneo. Não há espaço aqui para desdobramentos filológicos detalhados. Resta-nos dizer que o conceito de paixão – assim como foi o de pathos na Grécia antiga e na Grécia clássica – provavelmente para sempre será caracterizado por inúmeras e profundas contradições. Uma das idéias mais remotas acerca da paixão (isto é, de pathos) é a de passividade, de entrega do ser a uma força superior que o rege, que o subjuga. Inclinação ou tendência natural do ser (ou ethos, em grego), a paixão pode transformar-se em “força destrutiva por desmedida”, segundo a filósofa Marilena Chauí (42). Um conceito mais moderno, porém, é o de que a paixão pode ser a grande força motriz do ser humano. O filósofo francês Gérard Lebrun nos lembra que “paixão e razão são inseparáveis” (18), e que para o filósofo idealista alemão Georg Hegel (1870-1931) em Estética, “[n]ada de grande se faz sem paixão” (Lebrun 18).
Para inspirar nossas discussões preliminares sobre esses dois conceitos de paixão enfocamos o inesquecível e tipicamente dramático fado “Estranha forma de vida”, de Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro; e a balada “Coração vagabundo”, de Caetano Veloso. A visão passiva de uma vítima da paixão surge no primeiro verso na letra de Amália Rodrigues: “Foi por vontade de Deus”. O jeito de ser apaixonado e a dor da paixão do “eu” poético inerte e agonizante são, pois, desígnios de Deus. Uma hipérbole sugere, a seguir, que ninguém mais sofre nesse mundo, apenas a persona do poema: “Que todos os ais são meus”. Sua auto-imagem cria uma visão de um “eu” que sofre como um caso de vida excêntrico, de exceção, como se a dor não fizesse parte da condição humana: “Que estranha forma de vida”. A ilusão estéril e anódina é característica marcante da vida dessa persona: “Vive de vida perdida”.
Acreditando no desejo de Deus como causa de seu sofrimento (conforme o primeiro verso do poema), a persona agora, falando ao seu próprio coração, pondera o poder supernatural, metafísico, de uma varinha de mágico como solução para seus males: “Quem lhe daria o condão”. Simbolizada pelo coração, a paixão é então retratada como uma parte do ser sobre a qual a persona não tem poder nem relação de contigüidade. A paixão é autônoma e dirige a vida do apaixonado: “Coração independente/ Coração que não comando”. Para ela, a paixão é mesmo cega e constantemente sofredora: “Vives perdido entre a gente/ Teimosamente sangrando”. Em face da ignorância e estupidez da paixão que lhe assola e desorienta a vida, a persona do poema prefere morrer: “Pára, deixa de bater/ Se não sabes onde vais/ Eu não te acompanho mais”.
Por outro lado, “Coração vagabundo,” canção meio bossa-novista de melodia lenta e triste, foi escrita quase que na mesma época em que surgiu o clássico “Estranha forma de vida” e inicialmente gravada por Caetano Veloso para o seu primeiro LP Domingo (de parceria com Gal Costa). Ao contrário do que se diz no poema português, entretanto, a teimosia não reside no sofrimento, mas sim na esperança de atingir sua plenitude romântica: “Meu coração não se cansa/ De ter esperança/ De um dia ser tudo o que quer”. Caetano compõe a imagem de um ser apaixonado que se vê livre para amar como uma criança, cuja inspiração e fé em melhores dias não desfaleceram por causa da dor e frustração de um amor que morreu: Meu coração de criança/ Não é só a lembrança/ De um vulto feliz de mulher/ Que passou por meus sonhos/ Sem dizer adeus/ E fez dos olhos meus/ Um chorar mais sem fim”. O poema se fecha com a hipérbole da volúpia que habita um coração apaixonado, que dá sentido à vida de quem espera e deseja viver intensamente todas as oportunidades que o mundo lhe oferece: “Meu coração vagabundo/ Quer guardar o mundo/ Em mim”.
Apesar das enormes diferenças entre as visões da paixão em um e outro poema, uma semelhança é inegável. Como no poema de Amália Rodrigues, a persona por detrás dos versos de Caetano Veloso retrata seu coração como uma parte do seu ser que é repleta de determinação, cheia de vontade própria. Apesar do título aparentemente pejorativo e sua melodia ostensivamente melancólica, “Coração vagabundo” é consoante com a visão otimista de Benedict de Espinosa (1632-1677), filósofo judeu que nasceu de pais portugueses refugiados na Holanda. O autor de Ethica dizia não desprezar os perigos da obsessão criada pela paixão, que tanto atemorizam e maltratam o ser humano, mas acreditava na nossa capacidade de “excluir a coisa que causa medo” (Chauí 79), a sina que assombra a “estranha forma de vida” de Amália Rodrigues, e “presentificar aquela que causa esperança” (79), a fé que anima o “coração vagabundo” do músico-poeta da Bahia. Para Espinosa, explica Chauí, é necessário “fortalecer uma paixão da alegria: a esperança” (Chauí 79-80). É hora de se perceber que a diligência pode mais que a passividade. Espinosa, portanto, conclui: “as coisas necessárias são mais fortes do que as contingentes” (Chauí 80).

Obras citadas
Chauí, Marilena. “Sobre o medo.” Adauto Novaes, ed. Os sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 33-83.
Lebrun, Gérard. “O conceito da paixão.” Os sentidos da paixão. Adauto Novaes, ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. 12-32.
Rodrigues, Amália. “Estranha forma de vida”. Estranha forma de vida: o melhor de Amália Rodrigues. EMI, 2007.
Veloso, Caetano. “Coração vagabundo”. Domingo. Universal, 1967.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Cartas de Vinicius



Dário Borim Jr.


Para minha surpresa, já me perguntaram se também gosto de livros. Isso porque algumas pessoas se impressionam com o meu amor pela música, apesar de não ser músico, enquanto ganho a vida como professor de literatura. Paradoxalmente é assim mesmo que me justifico: é de tanto amor por música, e de tão pouca paciência para absorvê-la através do lento aprendizado de um instrumento, que nunca fui além de um curso de teoria musical em Belo Horizonte nos anos 70.

Adoro cantar, um prazer imediato, apesar de minhas limitações. Mas gostaria mesmo é de aprender a tocar piano em um mês, ou violão em 15 dias. Não dá, não é tia Selma? Do mesmo modo como eu canto, meu amor por literatura também me dá recompensa imediata, tanto na hora de ler quanto na de escrever. Neste caso, gosto mesmo é do processo, e não sinto impaciência nenhuma diante do tempo que possa transcorrer até que algo meu seja publicado ou até que a última página de um livro seja virada. Aliás, meu longo prazer ao escrever não se compara nem mesmo ao efêmero encanto que tenho ao ver minhas palavras inscritas num blog, jornal, livro ou revista. Pra ser sincero, muitas vezes nem gosto de me vê-las ali. Passo os olhos e prossigo com meus afazeres.

Não posso reclamar: apesar de minhas distintas atitudes em relação a elas, amo-as ambas, igualmente, e por isso música e literatura se fundem na minha vida pessoal e profissional. Nesses últimos meses tenho dedicado parte do meu tempo à preparação para um seminário que darei no Programa de Pós-Graduação em Estudos Luso-Afro-Brasileiros da Universidade de Massachusetts Dartmouth. Chama-se “Arqueologia da Paixão em Vinicius de Moraes”. Naturalmente ali se combinam o cancioneiro e a poética de um dos grandes nomes da cultura brasileira. Para ministrar tal curso tenho lido vários volumes que incluem a biografia, poesia, o teatro, a música, e as crônicas do Poetinha.

A obra que iniciei hoje, entretanto, é Querido poeta: correspondência de Vinicius de Moraes (Companhia das Letras, 2003). Trata-se de um tipo leitura que me diverte e me fascina: uma coletânea organizada por Ruy Castro com mais de 200 cartas — ou do Poetinha ou para ele redigidas em mais de meio século. Para o deleite dos interessados, elas foram cedidas por parentes e amigos e arquivadas junto à Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Entre muitas outras revelações, essas cartas expõem um Vinicius de Moraes que pouco se encontra na sua obra poética: o diplomata, o pai, o filho, o irmão e o esposo.

A primeira carta reproduzida foi escrita pelo Poetinha a sua mãe, d. Lydia, quando ele tinha 19 anos. Conta de uma viagem a Itatiaia, cidade na região serrana do estado do Rio de Janeiro, hoje em dia, mais uma vez, tão tragicamente castigada pelas chuvas. E já chovia muito por lá em novembro de 1932 (quase 80 anos atrás). Sobre a estrada de terra morro acima, super estreita e escorregadia, as rodas do caminhão em que Vinicius viajava tinham correntes duplas, para maior tração, mas os precipícios eram enormes e se abriam logo às margens dos pneus, para o pavor dos passageiros da cidade grande. “Resultado: de músculos contraídos, com ave-marias na boca a cada curva, o vosso filho viu a morte perto do seu nariz durante uma hora e dez minutos” (17).

Diz o poeta: "Esse caminho, conforme nos disse o tal chofer, que e' a cara de são Pedro, não e' nada perigoso quando está seco. 'Quando está molhado', nos disse o animal, é apenas um bocadinho'. Imagina. Não assustes, porém. Para a volta já providenciamos cavalos mansos" (18).
“Depois da tempestade, vem porém a bonança”, acrescenta Vinicius (18). Daí surge uma bucólica descrição do hotel e de outras maravilhas do lugar, também com sensibilidade e humor: "Estou escrevendo esta num caramanchão poético e fresco, com sabiás discutindo perto. Uma delicia. Da' vontade de fazer uma poesia que preste. Mas a preguiça é muita" (19).

De fato há um universo de enredos e emoções em Querido poeta, mas aqui tenho somente um cantinho de jornal para representá-lo. Termino, então, com uma dose homeopática do amor do poeta pela família e amigos. Em 1938, aos quase 25 anos de idade, Vinicius partiu de navio para estudar literatura em Oxford, na Inglaterra. A bordo do Highland Patriot, ainda subindo pela costa brasileira, já sente saudades, e escreve à mãe: “Mais do que nunca, só o amor das pessoas conta para mim. É tão simples que chega a ser difícil explicar por quê” (53).

Apesar de apaixonado por uma paulista, Tati (Beatriz Azevedo de Mello), com quem logo se casaria por procuração, o poeta confessa os sentimentos pelo irmão: “Não creio que haja pessoa no mundo de quem eu goste tanto quanto do Helius. No entanto, você viu como nos despedimos? Um simples aperto de mão” (53). Então conclui, sobre os que ficaram para trás: “É que a ausência não é tudo. Há, mais fundo e mais forte, uma coragem de amar perigosamente, mesmo através do incompreensível. As pessoas tocam a vida pra frente, repousadas umas no amor das outras. É formidável isso. Vocês me deram uma grande lição” (54).

domingo, 12 de dezembro de 2010

Afagos


Usamos, principalmente, a palavra falada e a palavra escrita para nos comunicarmos, mas o silêncio também diz algo em muitos contextos, inclusive aquele que Carmen Miranda jamais esqueceu. Caladas, as elites do Rio de Janeiro presentes ao Cassino da Urca em uma noite de 1940 transmitiram um desafeto histórico, uma mise-en-scène da indelicadeza. Depois de Carmen cantar uma, duas, três canções, não soou nenhum aplauso, somente aquele silêncio que dizia, nas suas estrelinhas vazias mas, mesmo assim, ferozes de rancor: “Nós não gostamos mais de você. Você está muito americanizada”. A bela e talentosa Carmen Miranda não se recuperou mais daquele silêncio.

Outras formas “mudas” de comunicação não ferem a ninguém. Muito pelo contrário, podem redimi-las da dor, da solidão e da saudade, saudade até daquele tipo antecipado, como foi a de Gilberto Gil em 1969. Após serem injustamente acusados de anarquistas subversivos e sofrerem a humilhação e o extremo desconforto de uma prisão solitária, ele e Caetano Veloso receberam uma “graça” da polícia: poderiam fazer um concerto em Salvador para que, com o dinheiro, comprassem passagens e sumissem do país. Daí que Gil quis cantar e, através de uma nova canção, despedir-se de seus amigos e dos brasileiros em geral, sem sequer poder anunciar sua partida. Parece que todo o país entendeu o seu recado: a sua velada mensagem de adeus e de amor. Até hoje usamos, no dia a dia, a mesma expressão de Gil, “aquele abraço”, que também é o próprio título da música. Era sem dúvida um doce e carinhoso abraço de milhões de almas oferecido por mais um de nossos artistas a caminho do exílio.

Assim como um bom abraço, o aperto de mão, o cafuné, o tapinha no ombro, o leve toque na cabeça ou nas costas, o beijinho social, o beijo apaixonado, e aquela boa soneca no colo da mãe ou do namorado — tudo isso pode nos dar o prazer físico da amizade e do amor, da compaixão e do perdão, do consolo e da cumplicidade. Cada um de nós deve ter na memória pelo menos um dia em que algo assim aconteceu e o mundo se transformou.

Para mim um daqueles instantes mágicos aconteceu há quase um ano, quando antecipei minha viagem de Paraguaçu a Belo Horizonte por um motivo muito triste. Um dos meus melhores amigos — e aqueles que me conhecem sabem que sou agraciado por um contingente de pessoas que me querem bem — tinha acabado de perder sua filha única, de 18 anos. Assim como a esposa Sônia, Geraldo já sentia no corpo a saudade antecipada e dolorosa da inesquecível Yumi, vítima da fúria das águas que caíram sobre Ilha Grande, junto a Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro.

Nosso encontro em Belo Horizonte não foi nada comum. Deixou-nos a certeza de que a energia do abraço expressa mais que qualquer palavra, que querendo e podendo “dizê-lo”, nos tornamos muito mais fortes, nos tornamos até temporariamente donos de dois corações, como tão bem explica o autor anônimo do texto que transcrevo abaixo.

Aqui vai, então, o meu mais terno abraço, com votos de felizes festas, a todos vocês que me honram com a atenção e me lêem a cada mês. Pelo carinho que lhes tenho e em gratidão pelos nossos encontros às páginas d’A Voz da Cidade ou do meu blog, Ponteio Cultural, aqui segue um singelo presente de fim de ano: “A tecnologia do abraço”. Espero que gostem. Nasceu da mais profunda, porém despretensiosa, sabedoria do povo mineiro.

O matuto falava tão calmamente, que parecia medir, analisar e meditar sobre cada palavra que dizia...


— É... das invenção dos homi, a que mais tem sintido é o abraço. O abraço num tem jeito di um só aproveitá! Tudo quanto é gente, no abraço, participa uma beradinha. Quandu ocê tá danado de sodade, o abraço de arguém ti alivia. Quandu ocê tá cum muita reiva, vem um, te abraça e ocê fica até sem graça de continuá cum reiva. Si ocê tá feliz e abraça arguém, esse arguém pega um poquim da sua alegria...


Si arguém tá duente, quandu ocê abraça ele, ele começa a miorá, i ocê miora junto tamém. Muita gente importante e letrado já tentô dá um jeito de sabê purquê qui é qui o abraço tem tanta tequilonogia, mas ninguém inda discubriu.


Mas, iêu sei! Foi um anju de Deus qui mi contô. Iêu vô contá procêis u qui foi quel mi falô: O abraço é bão pur causa do Coração. Quandu ocê abraça arguém, fais massage no coração! I o coração do ôtro é massagiado tamém! Mas num é só isso, não. Aqui tá a chave do maió segredo de tudo. É qui, quandu nois abraça arguém, nóis fica cum dois coração no peito!...


sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Expatriados



Expatriados

Dário Borim Jr.

dborim@umassd.edu

Segundo o Novo Dicionário Aurélio, expatriado é quem “sofreu a pena da expatriação”, isto é, do exílio, gente como Fernando Gabeira, preso após sequestrar um embaixador. Ou é aquele indivíduo que se exilou por conta própria, que fez as malas e partiu sem a companhia de um homem fardado à porta do avião.

Quem é o quê entre nós, hoje, fora do Brasil? Jogamos todos no segundo time e por isso temos muita coisa em comum? Acho que a questão é mais complicada. Até mesmo os exilados políticos dos anos da ditadura se dividiam em grupos muito variados. Eles por certo não formavam um grupo único e coeso sugerido em abril por Dilma Rousseff, então pré-candidata pelo PT à presidência da república. Indiretamente acusando José Serra, ela teria dito que muitos exilados fugiram do país “por medo da luta armada”.

Como se diz, o buraco é mais embaixo, e por isso mesmo deixo tais estrelas da política brasileira de lado e me volto para a história de pessoas comuns, com quem pude conversar recentemente. Vou aqui referenciá-las por nomes fictícios por duas razões. Primeiro, para salvaguardar sua privacidade. Segundo, por eu ter consciência dos limites da minha memória. Começo por Gabriela, jovem simpática e atraente que se sentou ao meu lado num voo entre Nova York e São Paulo. A conversa fluiu sem trégua, e de tal modo ligeira e interessante, que depois de cinco horas e meia, das 11 da noite às quatro e meia da manhã, vi que era importante um de nós ter a coragem de dizer ao outro, “vamos dormir”?

Antes, porém, soube que Gabriela saíra do Brasil quando necessitava de novos ares para não se enveredar pela depressão aguda ou mesmo pela loucura. Filha única de um médico e uma professora universitária, Gabriela e eu tínhamos em comum a sede pela aventura no exterior e a paixão pelos livros. Ela fazia mestrado em literatura inglesa quando sua mãe foi diagnosticada com câncer. A mãe faleceu nove meses mais tarde. Pouco tempo depois daquela perda Gabriela conheceu Marisa, uma amiga da mesma idade de sua mãe e do mesmo tipo de personalidade: extrovertida, carinhosa, alegre, e cheia de energia. Marisa era ativista na defesa dos direitos dos animais. Infelizmente, por extrema ironia do destino, numa noite ela dirigia sozinha em velocidade normal e de repente teve que lidar com uma capivara que atravessava a estrada. Para evitá-la, Marisa entrou para a contramão. Chocou-se de frente com outro carro, onde viajavam cinco pessoas de uma mesma família. Todas se machucaram gravemente, mas ninguém morreu nesse acidente, exceto a amiga de minha companheira de vôo.

O golpe foi pesado demais, e Gabriela largou tudo para trás: a cidade natal de Florianópolis, o pai, os amigos, a vida acadêmica, e até mesmo o noivado. Conseguiu um emprego na Europa na área de turismo, e por conta disso já fez dezenas de cruzeiros pelo mar Mediterrâneo e por outras belas regiões do planeta. Um dia se cansou de ter residência fixa no exterior e voltou para o Brasil. Tem apartamento montado no Rio, mas vira e mexe está na Europa por uma temporada, como free-lance de turismo, ramo que escolheu depois das duas tragédias, circunstâncias que lhe ensinaram a importância do desapego para não sofrermos demais.

Sofrendo aos extremos, claramente, estava meu companheiro de voo entre Miami e Boston, quando eu regressava do Brasil no mês passado. João mal tinha assentado ao meu lado e eu já lhe percebera o semblante tenso. Na verdade seu olhar era de tristeza, fui logo saber. Ele voltava para os Estados Unidos depois de passar nove dias no nosso país, exatamente como eu. Em pouco tempo de conversa tocamos em assuntos bem íntimos e significativos. Ele estava cansado de muitas idas e voltas. Queria ficar no Brasil, mas sua vida está entrelaçada às de outras quatro, esposa e três filhos em idade escolar.

Jorge e esposa vieram para este país sem documentação que lhes permitisse ficar aqui e trabalhar legalmente. Consequência: ele passou dez anos sem ir ao Brasil! Talvez outra conseqüência tenha sido sua infelicidade e até mesmo a doença que o atormentou por alguns anos. Contraiu câncer num dos testículos. Pelo sangue esse câncer passou a atuar, sem se espalhar como câncer, sobre certa região do cérebro, o que lhe trouxe paralisia em metade do corpo e o sério risco de ter que fazer uma cirurgia na massa cefálica temporariamente inchada, perigo que claramente não se justificava.

João sarou-se antes de lhe abrirem a cabeça por engano, mas ficaram pequenas seqüelas, como uma pequena falta de equilíbrio. O que importa, é claro, é que sobreviveu. Infelizmente também ficou o desejo de voltar para o nosso país, mas com a esposa bem situada profissionalmente em Boston e os filhos americanos enraizados na Nova Inglaterra, o homem carrega uma pesada dor na alma. Eu me lembrei de mim mesmo em dilema parecido – na verdade, o de muita gente expatriada por esse mundo afora. Gente que saiu do país sem um empurrão oficial e sem medo de se aventurar fora de casa. Gente que não para de sonhar com a volta, sem parar de enxergar as amarras do destino e as consequências a longo prazo das bem intencionadas opções do passado. Pois é, o buraco é mesmo mais embaixo, e muitas vezes não se sabe nem a sua profundidade, nem a sua escuridão.

Mirem-se nas cenas de Atenas

                                                       A colina da Acrópole desde o Hostel Safestay (2025) Ei, senhor Chico Buarque de Holan...