Novos amigos
Dário Borim Jr.
Ontem apanhei meu guarda-chuva verde e saí pra dar uma voltinha pela vila onde moro, aqui ao sul de Massachusetts. Fui tirar umas fotos das folhas do outono que se esconde aos poucos, a maioria embelezando em última instância o chão onde caíram. Foi minha maneira de homenageá-las e guardá-las para apreciação por pelo menos mais uns dias (possivelmente por alguns anos), pois o vento, as vassouras e os aspiradores elétricos não as iam deixar durar mais que poucos dias. Fico com a mesma impressão que talvez tivesse Claude Monet cento e pouco anos passados. Precisamos captar esse brilho e nos iluminarmos a alma.
Este ano de 2020, mais do que nunca, quero ir ver as cores, as formas e os movimentos fora de casa, onde basicamente trabalho, como e durmo! Talvez essa fome de viver mais e melhor ocorra porque esteja eu, como quase nós todos, um tanto mais sensível. Sem oportunidade para ver meus amigos, ou me divertir como antes da pandemia, o que fazia vendo shows, dando risadas, etc., eu agora -- mais do que nunca, como dizia --faço novos amigos entre as plantas, os passarinhos, os insetos, as núvens, os rios, o mar, a lua, e muito mais. Que sorte!
E vou fotografando o que posso, o que é minha maneira de amar a tudo aquilo tão belo e de graça, sem riscos de contágio, a não ser o contágio do deslumbre, da admiração, e do respeito ao que nasce tão formoso, mas, como tudo, morre e às vezes renasce no ano seguinte, talvez, se o ser humano não destrói tal harmonia e diversidade, queimando ou roçando os campos, expulsando ou matando os animais. Hoje em dia estou tentando viver cada dia mais nesse plano da contemplação que me leva a pensar e a escrever como forma de viver mais livre e mais prazerosamente, dentro dos limites desses nossos tempos de crise e risco, de isolamento e saudade.
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